Jornalistas detidos na Rússia por participarem em protestos pacíficos

por Mário Aleixo - RTP
Evgenia Novozhenina - Reuters

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) revelou que dezenas jornalistas na Rússia foram detidos por terem participado em protestos pacíficos, em solidariedade com colegas processados pelas autoridades pelo seu trabalho jornalístico.

Na maioria dos casos, a polícia invocou regras sobre assembleias públicas e de saúde, introduzidas para prevenir a propagação da Covid-19, como fundamento para a detenção.

"Os repórteres independentes na Rússia têm estado debaixo de ataque durante anos, com os recentes processos penais a elevar a repressão a um novo nível", disse Damelya Aitkhozhina, investigadora russa da Human Rights Watch, em comunicado da organização.

"As pessoas têm todos os motivos para protestar pacificamente contra a repressão, e as autoridades têm a obrigação de permitir que o façam em segurança. Em vez disso, detiveram manifestantes pacíficos ao abrigo de regras abusivas e restritivas do direito de reunião, a pretexto de proteger a saúde pública, expondo-os ao risco de infeção sob custódia".
Episódios sucedem-se
Em 3 de julho, 17 pessoas foram detidas em frente ao edifício do Serviço Federal de Segurança (FSB) em Moscovo, quando protestavam contra a perseguição de Svetlana Prokopyeva pelo seu trabalho jornalístico. A maioria dos detidos eram jornalistas, segundo a ONG.

No dia seguinte, mais dois jornalistas foram detidos em Pskov, onde Prokopyeva estava a ser julgada.

Em 7 de julho, 28 jornalistas e ativistas foram detidos no mesmo local, durante um protesto contra as acusações de traição feitas a Ivan Safronov, conselheiro da Roskosmos, a agência espacial russa, e antigo jornalista da Kommersant.

"Nos três incidentes, os manifestantes distanciaram-se uns dos outros, realizando o que é conhecido na Rússia como 'piquetes de uma só pessoa`", salientou a Human Rights Watch.

Igor Yasin, co-presidente do sindicato de jornalistas e trabalhadores dos "media", citado pela ONG, disse que os jornalistas ficaram chocados quando souberam, em 3 de julho, que o Ministério Público pedia uma pena de seis anos de prisão para Prokopyeva e uma proibição do exercício de jornalismo de quatro anos.

Nos três incidentes, os protestos pacíficos foram recebidos "com uma presença policial esmagadora", acusou a ONG.

Os manifestantes usaram cartazes com slogans como "Jornalismo não é crime" e "Não à prisão por palavras", ou "Free Svetlana Prokopyeva" e "Free Ivan Safronov".

Ao abrigo da lei russa, os manifestantes não são obrigados a notificar as autoridades com antecedência no caso de um piquete solitário.
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