Dinheiro por silêncio: mais um depoimento a embaraçar Trump

por RTP
David Pecker Marion Curtis, Reuters

Depois das confissões do seu antigo advogado Michael Cohen, o presidente dos EUA vê-se agora a braços com um depoimento do empresário David Pecker, que admite ter pago a uma das suas amantes para manter o silêncio.

Pecker, um velho amigo de Trump e editor do tablóide National Enquirer, vem agora com o seu depoimento completar as confissões de Cohen. Em troca, os procuradores federais de Nova Iorque garantiram-lhe imunidade no que seria um possível caso de financiamento ilegal de actividade política. O acordo que troca o depoimento pela imunidade foi já assinado em Setembro último, mas só agora veio a público, em simultâneo com a condenação de Cohen a três anos de prisão.

Segundo esse depoimento, a empresa de Pecker entregou a Cohen 150.000 dólares para este pagar o silêncio da ex-modelo do Playboy, Karen McDougal. Mais adiante, o próprio Pecker efecutou um pagamento de 130.000 dólares com o mesmo objectivo à actriz-porno "Stormy Daniels".

Embora o pagamento de dinheiro por silêncio não seja, em si mesmo, ilegal, outro tanto não pode dizer-se das contribuições não declaradas para uma campanha eleitoral.

Ora, os procuradores consideram que ambos os pagamentos, de Pecker e da sua empresa, podem ser classificados como contribuições para a campanha de Trump, visto que se destinavam a proteger a imagem do candidato ocultando episódios da sua vida privada que poderiam prejudicá-lo no favor do eleitorado.

Segundo os procuradores de Nova Iorque, citados pelo New York Times, a empresa de Pecker "admitiu que o seu principal objectivo ao efectuar o pagamento era silenciar a história da mulher, para impedi-la de influenciar a eleição".

O inquilino da Casa Branca tem sempre negado que se tratasse de contribuições de campanha, mas a condenação de Cohen e a confissão de Pecker comprometem-no substancialmente, se se confirmar que os pagamentos à modelo e à actriz foram feitos, como disse Cohen,, também citado pelo New York Times, "em coordenação e segundo instruções" do então candidato.

É certo que a jurisprudência norte-americana poderá impedir que um presidente em exercício seja formalmente acusado de perjúrio, mesmo que seja avassalador o volume e a qualidade das provas contra ele. Mas esse impedimento mesmo torna mais tentadora a ideia de proceder ao impeachment de Trump.


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