Diretores da ONU alertam que chuvas vão piorar a crise

por Lusa
Lucas Jackson - Reuters

Os diretores regionais das Nações Unidas para a África Austral e Oriental alertaram hoje que a crise humanitária em Moçambique vai piorar devido à estação das chuvas e pediram mais ajuda para a região afetada.

"Com o número de deslocados a aumentar diariamente, a falta de alimentação adequada, água, saneamento, abrigo, saúde, proteção e educação exacerba uma situação já terrível, que se agrava pela iminente estação de chuvas num país particularmente sujeito a extremos choques climáticos", lê-se num comunicado divulgado no mesmo dia em que foi feita uma conferência de imprensa a alertar para a crise na província de Cabo Delgado.

"A crise no norte do país é uma emergência complexa de segurança, de direitos humanos, humanitária e de desenvolvimento, sendo enfatizado o imperativo de continuar a fornecer assistência para salvar vidas enquanto se apoia coletivamente a construção de resiliência de longo prazo liderada pelo governo", acrescenta-se na Declaração Conjunta sobre Moçambique.

Os Diretores Regionais das Nações Unidas para a África Austral e Oriental chamam a atenção para a "urgência de aumentar massivamente os investimentos em recuperação e resiliência" e mostram-se "profundamente preocupados com o agravamento da crise humanitária e a escalada da violência que forçou milhares a abandonarem as suas casas e os seus distritos na província de Cabo Delgado".

O comunicado surge semanas depois da visita destes diretores de seis agências da ONU a Moçambique, em dezembro, para avaliar a situação e as necessidades das populações deslocadas.

"A crescente insegurança e a infraestrutura deficiente fizeram com que se tornasse mais difícil chegar às pessoas necessitadas e, com a pandemia de covid-19, a crise tornou-se ainda mais complexa", no final da visita que "permitiu aos participantes testemunhar em primeira mão o impacto da violência contínua em Cabo Delgado e mostrar apoio às comunidades afetadas e ao povo moçambicano".

Para estes diretores, "há uma necessidade urgente de expandir os programas de proteção, saúde, alimentação e nutrição para crianças e mulheres vulneráveis, bem como intervenções de vacinação e imunização e aconselhamento psicossocial e de trabalhar para permitir que as famílias de agricultores e pescadores deslocados restabeleçam meios de subsistência sustentáveis".

Assim, alertam que é preciso mais apoio "para o reassentamento adequado de famílias deslocadas, as quais sobrecarregam os já limitados recursos das comunidades acolhedoras empobrecidas e retardam os esforços do Governo para registar e assistir os deslocados com eficácia".

A missão conjunta contou com representantes da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) e Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), entre outros, nos quais se incluiu também a coordenadora Residente das Nações Unidas e coordenadora Humanitária para Moçambique, Myrta Kaulard, e responsáveis do Centro de Resiliência do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

A violência armada na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo `jihadista` Estado Islâmico desde 2019.

Tópicos
pub