O Governo chinês está em risco de não conseguir atingir as ambiciosas metas ambientais devido ao desfasamento que existe a nível local. Um relatório divulgado na segunda-feira pela Greenpeace no Leste Asiático revela que apenas 15 por cento dos estímulos económicos municipais de recuperação pós-Covid serviram para investir em projetos sustentáveis e de baixo carbono.
Ao analisar província a província, o relatório da Greenpeace no Leste Asiático revela uma lacuna “cada vez maior” entre os municípios que conseguiram fazer progressos relativamente às metas ambientais e aqueles que “ficaram para trás”, principalmente as regiões que dependem da exploração de carvão.
Segundo o relatório, apenas 15 por cento dos títulos municipais emitidos desde o surgimento da Covid-19 foram para projetos sustentáveis e de baixo carbono, enquanto 90 por cento serviram para investir em infraestruturas tradicionais, ficando de fora projetos “mais verdes” de transporte, agricultura, silvicultura e hidrovias.
“Enquanto algumas partes da China estão a trabalhar para uma recuperação verde e justa, outras estão a perder totalmente o barco”, disse Liu Wenjie, analista política do Greenpeace no Leste Asiático. “A forma como os governos locais estão a avaliar as suas oportunidades de estimular a economia através de uma abordagem verde e sustentável ainda é um grande problema”, acrescentou.
“A primeira grande lição que podemos retirar daqui é que os governos locais devem priorizar a descarbonização ao gastar os dinheiros do Governo”, defende ainda Liu Wenjie.
De forma a cumprir o compromisso declarado de atingir o pico das emissões de carbono até 2030 e a "neutralidade carbónica" até 2060, o grupo de ativistas ambientais exorta as autoridades chinesas a aprofundarem os esforços de descarbonização a nível local.
“Para que os governos central e local avaliem melhor a eficácia do estímulo em resposta à Covid-19 e mudem para uma recuperação verde, o Governo chinês precisa estabelecer um banco de dados fiscal verde e reforçar a divulgação dos gastos fiscais dos governos locais para tais investimentos”, explica a Greenpeace.
Liu Wenjie salienta ainda, em declarações à Al Jazeera, que “é necessária uma estrutura para avaliar a eficácia dos gastos fiscais por impactos económicos, sociais e ambientais e também para canalizar os recursos financeiros de forma eficiente por meio de impostos, obrigações verdes, compras sustentáveis e outros instrumentos para impulsionar a transição verde a nível local”.
China lança mercado de carbono
Em julho, a China lançou oficialmente o seu “mercado de carbono”, um instrumento contra as alterações climáticas para ajudar à redução das emissões de gases com efeito de estufa do país, principal emissor mundial destes poluentes.
O novo mercado mundial chinês de carbono vai fixar pela primeira vez limites de emissões para empresas, obrigando milhares de empresas do país a reduzir as suas emissões poluentes, sob pena de penalizações económicas. As empresas que forem incapazes de respeitar as suas quotas vão ter de comprar "direitos de poluição" a outras empresas com uma pegada carbónica mais fraca.
O sistema vai cobrir inicialmente 2.162 produtores de eletricidade chineses. Segundo a Agência Internacional de Energia, estas empresas representam cerca de um sétimo das emissões mundiais de carbono devido à combustão de energias fósseis.
O programa vai ser estendido aos produtores de cimento e fabricantes de alumínio a partir do próximo ano. "O objetivo é cobrir até dez mil empresas emissoras, responsáveis por cerca de cinco mil milhões de toneladas de emissões de carbono por ano", sublinhou Zhang Xiliang, o autor do novo sistema.
c/agências