Do avião para o tribunal. Ex-presidente Poroshenko regressa à Ucrânia para enfrentar acusação de "alta traição"

por RTP
Oleg Petrasyuk - EPA

O ex-presidente ucraniano chegou esta manhã ao aeroporto de Kiev e após uma breve saudação aos seus apoiantes foi conduzido ao tribunal que decidirá se fica em prisão preventiva. Petro Poroshenko enfrenta acusações de "alta traição" por alegado apoio aos separatistas ucranianos pró-Moscovo na região leste de Donbass.

Petro Poroshenko chegou esta manhã ao Aeroporto Internacional Igor Sikorsky após uma ausência de um mês. À saída do avião, teve ainda tempo de saudar os milhares de apoiantes que o aguardavam e a quem instou a acompanhá-lo ao tribunal onde corre o processo que poderá levá-lo a ser julgado por alta traição.

Em causa estão as relações comerciais que Poroshenko, um milionário (do sector da confeitaria, entre outros negócios), terá mantido com os rebeldes do leste do país, na região de Donbass, uma frente pró-russa que desde 2014 divide aquela parte da Ucrânia. O ex-presidente ucraniano regressa ao país sabendo que enfrenta a possibilidade de ficar em prisão preventiva após ser ouvido no tribunal.

O ex-presidente teve ainda tempo de se dirigir aos milhares de apoiantes que se dirigiram ao aeroporto. Num ataque ao actual presidente, Volodymyr Zelensky, que lhe sucedeu no cargo em 2019, Poroshenko acusou as autoridades do país de terem aberto contra ele um processo iminentemente político.

“O poder está confuso e fraco. Em vez de lutar contra [o presidente russo, Vladimir] Putin, está a tentar lutar contra nós”, declarou o ex-presidente já perante os manifestantes que o apoiavam neste regresso ao país.

Poroshenko acusou ainda as autoridades de usarem os seus processos judiciais para fazerem negócios com Moscovo, antes de entrar no tribunal acompanhado pelos seus advogados e por um grupo de deputados.

“O inimigo está à nossa porta [e] quer derrotar-nos destruindo o nosso país, semeando o conflito”, declarou o ex-presidente, que acusa Zelensky de ordenar a sua perseguição apenas para “distrair a atenção” dos problemas que enfrenta a Ucrânia.

Processo contra Poroshenko

As autoridades suspeitam que, durante a sua presidência, Poroshenko tenha mantido ligações comerciais com separatistas pró-russos no leste do país, enfrentando dessa forma o cenário de uma condenação por alta traição.

O processo judicial desenrola-se num momento crítico para a Ucrânia e para a Europa, com os receios de uma iminente invasão do país por forças russas, que há vários meses mantêm um largo contingente de tropas e veículos blindados na fronteira entre os dois países, apesar de Moscovo negar tal intenção.

Trata-se de um cenário onde se movem várias peças: Moscovo exige que europeus e norte-americanos se comprometam a não abrir a porta da NATO a Kiev.

Um procurador alegou que Poroshenko esteve envolvido na venda de grandes quantidades de carvão que ajudaram a financiar separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia em 2014-15. Tendo já visto os seus bens congelados, Poroshenko, um dos homens mais ricos do país, poderá enfrentar uma pena até 15 anos de prisão se for condenado.
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