"Dois Estados": Trump enterra um pilar da política externa dos EUA

por RTP
Kevin Lamarque, Reuters

Na conferência de imprensa realizada no âmbito do encontro Trump-Netanyahu, o presidente norte-americano pediu ao líder israelita que refreasse a construção de colonatos, mas garantiu-lhe todo o apoio e mesmo a sua disponibilidade para esquecer o lema dos "dois Estados".

Depois de na terça-feira uma declaração da Casa Branca sublinhar a ideia de que Washington não insistiria na coexistência de dois Estados lado a lado – um israelita, outro palestiniano – Trump optou já esta tarde pelo sim, não, talvez.

“Estou a ponderar as [soluções] de dois Estados e de um Estado, e gosto daquela de que ambas as partes gostarem. Fico muito satisfeito com aquela que as duas partes escolherem. Eu posso viver com qualquer uma delas”, afirmou Trump.

“Pensei durante um bocado que a [solução] de dois Estados parecia ser a mais fácil das duas, mas honestamente, se o Bibi [Benjamin Netanyahu] e os palestinianos estiverem satisfeitos, eu fico satisfeito com aquela que eles preferirem”, fechou o presidente americano.

Netanyahu já disse acreditar que Trump oferece “uma oportunidade sem precedentes” para fazer avançar a paz e pôr fim ao mais antigo conflito do planeta.

Entretanto, Trump não deixou de pedir a Israel “contenção” na expansão de novos colonatos nos territórios palestinianos ocupados. Netanyahu respondeu que “a questão dos colonatos não está no centro do conflito [com os palestinianos, a quem exige] o reconhecimento do Estado judeu”.

A direita israelita ignorou o pedido sobre os colonatos e concentrou-se em festejar ruidosamente a declaração de Trump sobre os "dois Estados".

Na verdade, já tem havido muitas declarações de sucessivos inquilinos da Casa Branca contra a actividade de colonização demasiado ostensiva. Mas nunca houve nenhuma afirmando que a política externa norte-americana poderia prescindir do princípio dos "dois Estados".

Naftali Bennett, o parceiro de coligação ultra-direitista de Netanyahu, segundo citação do Jerusalem Post, comentou que "isto é o fim de uma era. A bandeira palestiniana foi arriada e substituída pela bandeira israelita. O primeiro ministro mostrou capacidade de liderança e audácia, e reforçou a segurança de Israel".

Também o ministro da Cultura e Desportos Miri Regev, do partido Likud, comentou que tinha terminado a era do gelo nas relações EUA-Israel, e também a era do congelamento dos colonatos em territórios palestinianos ocupados.

Inversamente, Erel Margalit, da União Sionista (considerada de centro-esquerda), lamentou: "Hoje a extrema direita ganhou e o Estado de Israel perdeu". E acrescentou: "Netanyahu está a conduzir-nos a um Estado binacional e a fugir da solução de dois Estados que era no melhor interesse de Israel". E aludindo aos processos pendentes contra o primeiro ministro por corrupção, rematou: "Estamos a assistir a Netanyahu fugindo das investigações e vamos pagar o preço".

Do mesmo partido, o deputado Stav Shaffir aconselhou a direita a "moderar os seus gritos de alegria", porque, explicou, "por baixo da demagogia de Netanyahu, não há nenhum plano para manter a segurança".

Também Zehava Gal-On, do partido da esquerda sionista Meretz, reagiu dizendo que, "seja o que for que Trump diga ou deixe de dizer, a única solução continua a ser acabar com a ocupação e manter Israel um Estado judeu e democrático". Qualquer outra solução, acrescentou, "garantiria que nos tornássemos um Estado de apartheid".


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