Dois jornalistas da Reuters acusados na Birmânia após obterem "documentos secretos"

por Lusa
Os jornalistas obtiveram documentos classificados relacionados com a operação que o exército realiza no norte do estado de Rakhine. Susana Vera - Reuters

A polícia da Birmânia acusou hoje dois jornalistas da agência Reuters por estarem na posse de "importantes documentos classificados", que obtiveram através de dois polícias, noticiaram as agências internacionais.

Wa Lone, de 31 anos, e Kyaw Soe Oo, de 27, foram detidos na terça-feira num município no norte de Rangum, antiga capital do país, e enfrentam uma pena de 14 anos de prisão em caso de condenação.

Os jornalistas obtiveram documentos classificados relacionados com a operação que o exército realiza no norte do estado de Rakhine, no oeste do país, através de dois agentes que também foram detidos e incorrem nas mesmas penas.

A polícia indicou, em comunicado, que os jornalistas foram detidos por estarem na posse de documentos secretos "com a intenção de os enviar para um agência de notícias estrangeira".

O presidente da Reuters, Stephen J. Adler, manifestou a sua indignação pelas detenções e pediu a libertação imediata dos jornalistas, num comunicado divulgado na quarta-feira à noite. "Estamos indignados perante este descarado ataque à liberdade de imprensa. Pedimos às autoridades para os libertarem imediatamente", disse.
Clima de repressão

Pelo menos 626.000 rohingyas fugiram do norte de Rakhine para o Bangladesh, depois de o exército ter lançado, em agosto passado, uma operação em resposta a ataques armados de rebeldes desta minoria muçulmana.

O exército birmanês negou ter cometido abusos contra os rohingya nesta campanha, apesar das múltiplas denúncias de várias organizações, incluindo o Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU, que classificou a operação como uma "limpeza étnica".

Associações de imprensa e grupos de defesa dos direitos humanos denunciaram reiteradamente o "clima de repressão" em que trabalham os jornalistas na Birmânia.

O primeiro Governo democrático birmanês tomou posse em 2016, depois de quase meio século de ditadura militar.

O Governo é liderado pela Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, mas as forças armadas controlam os Ministérios da Defesa, do Interior e de Fronteiras, e ocupam um quarto dos lugares no parlamento, o que lhes garante poder de veto.

Desde a chegada ao poder de Suu Kyi, mais de 70 pessoas foram detidas e acusadas de difamação nas redes sociais, incluindo jornalistas.
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