Donald Trump proíbe pessoas transgénero de servirem nas Forças Armadas

por Graça Andrade Ramos - RTP
Presidente Donald Trump durante uma visita ao Pentágono dia 20 de julho de 2017, com o secretário da Defesa, Jim Mattis Kevin Lamarque

É considerada uma vitória da ala conservadora do partido Republicano. O Presidente anunciou numa série de publicações na rede social Twitter, que em caso algum poderá alguém transgénero servir "em qualquer capacidade" no exército americano.

Trump explicou que a decisão foi tomada depois de consultar generais e especialistas militares e invocou "o fardo dos custos médicos enormes" e "as perturbações que as pessoas transgénero trariam ao exército" para justificar a proibição. "Os nossos militares têm de estar focados numa vitória decisiva e esmagadora", referiu.


A decisão põe em causa a herança da Administração precedente, de Barack Obama, em favor das pessoas transgénero. Um assunto que se mantém polémico apesar do pequeno número de pessoas que envolve oficialmente.De acordo com o ministério da Defesa dos EUA, haveria entre 2,500 e 7,000 pessoas transgénero entre 1,3 milhões de militares no ativo. A Organização da defesa dos Direitos Humanos, Human Rights Campaign estime que o número seja mais próximo dos 15.000.

A dar a cara pelos militares que declararam a sua orientação depois de serem integrados nas Forças Armadas está Chelsea Manning, nascida Bradley Edward Manning, informadora do Wikileaks e que realizou uma operação de mudança de sexo.

A antiga analista de sistemas, detida por fuga de documentos secretos da Defesa e libertada em junho, continua a ser soldado do Exército.

Até agora, o Departamento da Defesa adotou uma atitude prudente com os militares que tenham assumido a sua orientação depois de já envergar uniforme, decidindo pela sua não expulsão. Ignora-se se essa atitude se irá manter depois da decisão de Trump.

O ano passado, a Administração Obama havia decidido que as Forças Armadas deveriam começar a a colher recrutas transgénero a partir de 1 de julho de 2017. O novo secretário da Defesa nomeado por Trump, o general na reforma Jim Mattis, atrasou esta decisão seis meses, para "avaliar o impacto" da integração nas forças americanas.

A decisão de Trump põe um ponto final na questão e surge de suspresa, quando Mattis está ausente.
Choque
A decisão de Trump provocou de imediato reações de repúdio.

"Todos os americanos patriotas qualificados para servir no nosso exército devem poder fazê-lo. Ponto final!" reagiu esta quarta-feira o anterior vice-presidente democrata Joe Biden.

Também Manning se insurgiu contra a decisão de Trump.

Chelsea Elizabeth Manning, numa fotografia publicada na sua conta da rede social Twitter

"Então, o exército mais forte, mais potente e mais caro do planeta, lamenta-se por alguns trans mas financia os F-35? Isto parece-se com cobardia", lançou na rede social Twitter, ao comparar os custos da integração dos transgénero aos de uma vião de combate F-35, o programa militar mais caro da história militar americana, avaliado em 400 mil milhões de dólares.
Um estudo realizado pelo centro de reflexão RAND estimou que os cuidados médicos necessários para a mudança de sexo de uma pessoa transgénero poderiam custar entre 2,4 e 8,4 milhões de dólares num ano, num orçamento anual de 500 mil milhões em 2016.
Por outro lado, milhares de norte-americanos têm expressado nas redes sociais o seu apoio à decisão de Donald Trump.

Apontam como facto que muitas pessoas transgénero tentariam alistar-se apenas para que as Forças Armadas pagassem a sua operação de mudança de sexo, que muito referem como cosmética, assim como os tratamentos hormonais subsequentes.

Os apoiantes da decisão referem ainda que o exército "não é lugar" para fazer "experiências", que as Forças Armadas não estão ainda preparadas para aceitar este tipo de pessoas, ou que "quem tem dificuldade em gerir os seus orgãos sexuais terá dificuldade de gerir uma arma". Há quem sublinhe também a provável dificuldade de soldados muçulmanos ou da religião judaica em aceitar como companheiros de armas soldados transgénero.

Durante a campanha, Donald Trump assumiu o seu apoio à comunidade homossexual e aos transgéneros.

"Obrigada à comunidade LGBT! Irei lutar por vocês enquanto Hillary traz mais pessoas que ameaçam a vossas liberdades e as vossas convicções" tweetou em junho de 2016 o então candidato.

Mas em fevereiro deste ano, uma das medidas da Administração Trump foi proibir uma medida destinada a proteger os direitos dos transgéneros no sistema público de educação. A medida, instaurada pela Administração Obama, autorizava estudantes e pessoal escolar a frequentar as casa de banho do sexo com o qual se identificassem, em vez das do seu sexo de nascimento.

O debate sobre essa medida tem abalado os Estados Unidos, com o estado do Texas prestes a adotar legislação própria que obriga os alunos transgénero a utilizar as casas de banho correspondentes ao sexo com que nasceram. Também na Justiça a questão é debatida e é espectável que só se decida no Supremo Tribunal.
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