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Ebrahim Raisi eleito Presidente do Irão

por RTP
Reuters

O ultraconservador Ebrahim Raisi foi este sábado eleito oitavo Presidente do Irão, com 61,95 por cento dos votos, de acordo com os resultados finais anunciados pelo Ministério do Interior. Estas foram as presidenciais com menor participação eleitoral desde 1979.

Ebrahim Raisi assumirá o cargo no início de agosto, substituindo o Presidente cessante Hassan Rouhan. "Felicito o povo pela sua escolha", anunciou Raisi.

Ebrahim Raisi tem 60 anos e é um clérigo conservador apoiado pelo próprio líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei. Elogiado por políticos e fações conservadoras do país, era o vencedor esperado nesta eleição. Desde 2019 que era o chefe da Autoridade Judicial do país.

Raisi venceu as eleições com 61,95 por cento dos votos na primeira volta, segundo os resultados finais anunciados pelo Ministério do Interior do Irão. O ultraconservador obteve 18.926.345 do total de 28.933.004 votos válidos, num universo de mais de 59 milhões de eleitores.

Os outros três candidatos eram Mohsen Rasai, que recolheu 3,4 milhões de votos, à frente de Adbdolnaser Hemati (2,4 milhões) e de Amirhosein Qazizadeh (quase um milhão), tendo-se registado ainda 3,7 milhões de votos inválidos.

Ainda antes de se conhecerem estes resultados, os restantes candidatos admitiram a derrota e felicitaram o clérigo.
Eleições com menor participação desde 1979

Estas foram as eleições com menor participação desde o estabelecimento da República Islâmica, em 1979, com apenas 48,8 por cento de afluência às urnas.

A baixa participação é explicada pelo descontentamento dos iranianos face à crise económica em que o país está mergulhado, assim como as restrições à liberdade impostas pela pandemia da Covid-19. Para além disso, muitos eleitores parecem ter atendido aos apelos de centenas de dissidentes para boicotar a votação.

A oposição iraniana no exílio congratulou-se com a "fraca" taxa de participação na votação, saudando o "boicote" como um "golpe para o sistema teocrático".

Citada pela AFP, a líder do Conselho Nacional de Resistência do Irão (NCRI), Mariam Rajavi, disse que o "boicote nacional" foi o "maior golpe político e social" no sistema liderado pelo líder supremo Ali Khamenei. "O boicote provou e mostrou ao mundo que a única vontade do povo iraniano é derrubar este regime medieval", disse Rajavi. Banido do Irão, o movimento Mujahedin do Povo (MEK) acredita que a "taxa real" de participação foi de 10% e que as autoridades o aumentaram cinco vezes, através de "falsificações astronómicas", afirmou o NCRI.

Outro motivo apontado pelos eleitores para a não participação nas eleições é a “falta de escolha”, após a prévia anulação, pelo Conselho de Guardiães, de alguns candidatos importantes do setor reformista e moderado.

“O meu voto não mudará nada nestas eleições. O número de pessoas que votam em Raisi é enorme e Hemati não tem as competências necessárias para isso”, disse Hediyeh, uma iraniana de 25 anos, à Associated Press. “Não tenho nenhum candidato aqui”, admitiu.
"Lembrete sombrio de que a impunidade reina no Irão"
A par das visões ultraconservadoras, Raisi é acusado de ter desempenhado um papel central na execução em massa de prisioneiros políticos em 1988, no fim da guerra de oito anos entre Irão e Iraque. Raisi nega qualquer envolvimento nas execuções.

Também por esse motivo, Raisi está na lista negra de autoridades iranianas sancionadas por Washington devido a "cumplicidade em graves violações dos Direitos Humanos". Raisi tornou-se, assim, o primeiro Presidente iraniano a ser sancionado pelos EUA mesmo antes de assumir o cargo.

Enquanto os aliados regionais do Irão, o Presidente sírio Bashar al-Assad, os grupos islâmicos militantes Hamas e Hezbollah saudaram a eleição de Raisi, os defensores dos direitos humanos consideram que a vitória de Ebrahim Raisi é "mais um passo" em direção à repressão. “O facto de Ebrahim Raisi ter sido eleito Presidente em vez de ser investigado pelos crimes contra a humanidade de homicídio, desaparecimento forçado e tortura é um lembrete sombrio de que a impunidade reina no Irão”, afirmou Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional.
O que esperar da política de Raisi?
Ebrahim Raisi assume o cargo de Presidente no momento em que o Irão atravessa uma crise económica e um impasse relativamente ao acordo nuclear.

O Irão e seis grandes potências procuram reavivar o acordo sobre o programa nuclear de 2015, após a saída unilateral por parte dos Estados Unidos em maio de 2018. Desde então, o ex-Presidente norte-americano Donald Trump impôs duras sanções a Teerão que, por sua vez, respondeu com o aumento gradual da sua capacidade nuclear.

As negociações com o objetivo de reavivar o acordo estão em andamento em Viena, com o Presidente Joe Biden a lutar para reverter as políticas do seu antecessor. No entanto, permanece um impasse relativamente a este acordo, com ambas as partes a discordarem sobre quem deve dar o primeiro passo.

Apesar da posição mais conservadora e crítica de Raisi em relação ao Ocidente, o candidato apoiou durante a campanha o regresso ao pacto internacional, sobretudo como forma de inverter a grave crise económica que assola o país e as pesadas sanções dos EUA.

Outra das grandes bandeiras do novo Presidente iraniano é a promessa de "uma luta incessante contra a pobreza e a corrupção" no país.

Num país controlado pelas autoridades religiosas e em que os candidatos presidenciais foram alvo de enorme escrutínio, Raisi compromete-se em defender "a liberdade de expressão, transparência e os direitos fundamentais" dos iranianos.

c/agências
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