Os principais candidatos a chanceler num dos debates televisivos. Da esquerda para a direita: Olaf Scholz (SPD), Annalena Baerbock (Verdes) e Armin Laschet (CDU). Michele Tantussi - Reuters

Eleições na Alemanha. A incerteza até ao fim

A imprevisibilidade marca estas eleições. Até ao fim. As ultimas sondagens conhecidas diminuem a vantagem do social-democrata Olaf Scholz sobre o conservador Armin Laschet. Em 1 por cento num dos casos, em 3 por cento noutra das sondagens.

Quando cerca de 40 por cento dos eleitores já votaram pelo correio, o valor mais elevado de sempre para esta opção na Alemanha – o que parece ser certo é que será Annalena Baerbock, dos Verdes, a conseguir o terceiro lugar nestas eleições.

Mas seja qual o for o resultado final, ganhe a CDU da ainda chanceler Angela Merkel ou o SPD do atual ministro das Finanças, Olaf Scholz, o certo é que serão precisos pelo menos três partidos para formar Governo, uma situação que escapa à normalidade dos últimos anos com as alianças ao centro dos dois partidos.
Scholz e Laschet parecem já ter excluído essa possibilidade e desenhado outras que incluem sempre a candidata dos Verdes como número dois do próximo Governo. Uma conquista que será sempre pequena porque o partido de Baerbock chegou a liderar as preferências dos eleitores.

Em todos as sondagens divulgadas há uma queda acentuada do partido de extrema-direita da AfD. Depois de ter alcançado um terceiro lugar nas eleições de 2017, muito à custa de uma campanha populista contra os refugiados, agora os extremistas não devem passar do quinto lugar, atrás dos liberais.
As possíveis coligações de Governo
Afastada que está a possibilidade de haver um Governo suportado só com dois partidos, há agora três prováveis coligações em cima da mesa

Se a CDU, de Angela Merkel, ganhar as eleições deverá tentar formar Governo com os verdes e com os liberais. Neste cenário Armin Lashet assumirá o cargo de chanceler mas precisará do acordo dos liberais do FDP. E há divergências que se mostraram inultrapassáveis, há quatro anos, e que levaram mesmo os liberais a abandonar as negociações para a formação de um executivo.

Se o SPD for o partido mais votado. Olaf Scholz poderá optar por duas soluções: nas duas estão incluídos os Verdes, mas há diferentes opções para o terceiro partido da coligação. Ou os liberais – num executivo politicamente mais ao centro - ou o partido de esquerda com uma mudança de rumo politico da Alemanha.

Se a opção for pelos liberais, o SPD precisará de ultrapassar as diferenças em matéria fiscal.

Se a opção for pelo partido de esquerda, a maior divergência está relacionada com a politica externa, sobretudo com exigida saída da NATO. Uma demanda que o partido suavizou, nos últimos dias, referindo-a como uma tarefa a longo prazo.

Seja qual for o resultado, as negociações podem não ser fáceis e os analistas dizem que a Alemanha dificilmente terá um novo chanceler antes do Natal.
Os números desta eleição
Num país com perto de 84 milhões de habitantes, são 60,4 milhões os que vão poder votar este domingo vão votar.

Elegem o 20º Bundestag (Parlamento) do pós-guerra e cerca de 40 por cento até já votaram porque escolheram fazê-lo por correio, uma opção disponível para todos os eleitores na Alemanha. Angela Merkel também decidiu votar assim. Aliás, nunca tantos cidadãos com direito a voto decidiram faze-lo desta forma.

Há quatro anos foram apenas 28,6 por cento dos inscritos, mas a pandemia ajudou na decisão deste ano, apesar de nas ruas já quase ninguém usar mascara ou se preocupar com o distanciamento social.

Talvez por isso o dia de hoje possa parecer pouco movimentado junto às assembleias de voto. Serão 299, que abrem às 8h00 e fecham às 18h00.

Numa altura em que parece haver uma rutura geracional dos temas que preocupam os eleitores são 2 milhões e 800 mil os que vão votar pela primeira vez. Apenas 4,6 dos cidadãos com direito a voto.

O futuro do país parece assim ser determinado pela população mais velha: 57,8 por cento dos eleitores têm mais de 50 anos. Com menos de 30 há apenas 14,4 por cento.
Os temas da campanha
A pandemia, o ambiente, os refugiados, o salário mínimo e transição ambiental. Foram estes os principais temas da campanha para as eleições alemãs na qual quase não se falou de politica europeia, um contraste com o interesse que os europeus têm nestas eleições por causa das marcas que Merkel deixou, de austeridade numa primeira fase, mas também de união, nos últimos tempos, ao forçar entendimentos para se criar a bazuca europeia e a compra conjunta de vacinas.

Os debates televisivos centraram-se sobretudo nas politicas sociais.

Um dos temas que mais preocupa os eleitores alemães é o do custo de vida e a dificuldade em encontrar uma habitação que consigam pagar nas grandes cidades.

O salário mínimo tem dividido os partidos. SPD e Verdes querem um aumento para os 12 euros por hora e defendem também a possibilidade de taxar as maiores fortunas para criar um rendimento básico para as crianças, por exemplo. A CDU e os liberais estão contra.

Mas o tema em destaque nesta campanha foi o do combate às alterações climáticas, sobretudo depois das cheias que atingiram o país. Os conservadores e os social-democratas defendem a bandeira da neutralidade climática até 2050, mas os Verdes insistem na necessidade de apressar as mudanças.

A pensar no ambiente, o tema do limite de velocidade das auto estradas – que não existe na Alemanha – entrou na campanha. A CDU não aceita mudar esta regra mas o SPD e os Verdes querem que seja de 130 quilómetros por hora. Querem também que os voos de curta duração, domésticos, passem a ser menos atrativos, ao nível dos preços, do que as viagens de comboio por exemplo.

Enquanto a CDU de Armin Laschet quer promover soluções tecnológicas na luta contra as alterações climáticas, o SPD de Olaf Scholz e os Verdes de Anallena Braebock insistem ambos na necessidade de uma efetiva proteção social dos trabalhadores que vão perder empregos por causa da transição verde.

Houve três debates televisivos entre os três principais candidatos, e Olaf Scholz foi considerado como o vencedor nos três, nas sondagens feitas imediatamente a seguir