Emmanuel Macron defende estratégia urgente para a reforma da Zona Euro

por RTP
Nesta missão de preparar o futuro da Europa, Emmanuel Macron disse que a França está pronta a aumentar a sua participação no Orçamento comunitário Vincent Kessler - Reuters

Emmanuel Macron defende que é urgente apresentar uma estratégia para a reforma da Zona Euro e a conclusão da União Económica e Monetária. No Parlamento Europeu, o Presidente francês defendeu a criação de novas fontes de financiamento e mostrou-se disponível para aumentar a contribuição gaulesa. Macron quer ainda que a União Europeia seja um baluarte da democracia liberal. Jean-Claude Juncker gostou do que ouviu mas deixou um aviso: a União Europeia serão 27 países e não apenas o eixo franco-alemão.

Um mês depois de António Costa, Emmanuel Macron foi a Estrasburgo apresentar a sua estratégia para o futuro da Europa. O Presidente francês defendeu a urgência de ser apresentada uma estratégia conjunta para a reforma da Zona Euro e da União Económica e Monetária.

“A reforma da União Económica e Monetária é outra frente indispensável a concretizar antes do final desta legislatura, definindo um roteiro que permita avançar por etapas na União bancária e estabelecer uma capacidade orçamental que favoreça a estabilidade e a convergência na zona euro", afirmou o chefe de Estado francês.

Nesta missão de preparar o futuro da Europa, Emmanuel Macron disse que a França está pronta a aumentar a sua participação no Orçamento comunitário. No entanto, coloca uma exigência: a Europa precisa de ser mais eficiente.

Na busca por novas fontes de financiamento da União Europeia, Macron apontou contra as grandes multinacionais da internet. O Presidente francês propõe que seja criado “um imposto a curto prazo que ponha fim aos excessos mais chocantes”. "Eu apoio essa proposta, ela é essencial e permitirá aumentar os recursos próprios para o próximo orçamento", frisou Emmanuel Macron.

Para além da frente económica, Paris designa como prioritária a gestão da crise migratória. O Presidente francês defendeu a criação de um “um programa europeu que apoie financeiramente as coletividades locais que acolham e integrem refugiados” ao abrigo de uma verdadeira "solidariedade interna e externa de que a Europa necessita”.
Ao encontro de Costa

Apesar de faltar pouco mais de um ano para as eleições para o Parlamento Europeu, Emmanuel Macron considera que muito ainda pode ser feito até ao final da legislatura, nomeadamente no que diz respeito ao orçamento comunitário pós-2020, que já terá em conta a saída do Reino Unido.

As prioridades apontadas por Emmanuel Macron vão ao encontro das estabelecidas por António Costa no passado mês de março. Em Estrasburgo, o primeiro-ministro defendeu que os Estados-membros não podem ver a Zona Euro como um conjunto de economias que competem entre si.

Costa recordou que “nada do que hoje é difícil ganha em ser adiado” e defendeu que a Europa precisa de concluir a União Económica e Monetária e de ter ao seu dispor um orçamento “ambicioso”.

O chefe do Governo português apoiou a criação de novos impostos para financiar o orçamento comunitário, mostrou-se disponível para aumentar a contribuição portuguesa e defendeu que só uma União Europeia integrada e coesa pode ser estável.
"Defender a democracia"
Numa altura em que a Europa se vê confrontada com derivas autoritárias na Polónia e na Hungria, Emmanuel Macron frisou esta terça-feira que quer fazer parte de uma geração que “tenha decidido firmemente defender a sua democracia”.

“Quero pertencer a uma geração que defenderá esta soberania europeia, pois lutámos para a ter. Porque ela tem sentido e porque é a condição que permitirá às gerações vindouras escolherem elas próprias o seu futuro. Não cederei a qualquer fascínio pela soberania autoritária, não cederei a qualquer facilidade dos tempos atuais”, prometeu o governante francês.

O Presidente apelou ainda aos europeus para que não se refugiem no nacionalismo e para que contribuam para a construção de uma União Europeia que seja um “baluarte da democracia liberal contra um mundo desordenado e perigoso”.

"Não somos apenas franceses e alemães"
O discurso de Emmanuel Macron mereceu elogios de Jean-Claude Juncker. O presidente da Comissão Europeia considerou que “a verdadeira França está de volta”. O líder europeu não deixou de advertir que a União Europeia não se pode resumir ao eixo franco-alemão, que Emmanuel Macron tem tentado revitalizar.

"Sei a importância que atribui à amizade franco-alemã e, por razões geográficas e históricas, sou muito a favor da aproximação entre os dois países, mas não esqueçamos que a Europa não é só franco-alemã. Nós somos 28, amanhã 27”, recordou.

O ex-primeiro-ministro do Luxemburgo defendeu que “é preciso também o contributo dos outros para que o motor possa funcionar”. “Não somos apenas franceses e alemães", insistiu.

O presidente do executivo comunitário disse também desejar que "todos em conjunto" trabalhem para que "este fosso que divide a Europa entre Leste e Ocidente seja preenchido por uma ambição comum".
“Verdadeiro debate europeu”
Depois desta participação em Estrasburgo, Emmanuel Macron dará início às convenções cidadãs sobre o futuro da União Europeia. O primeiro encontro realiza-se esta terça-feira em Épinal, localidade que fica a uma centena de quilómetros a sudoeste de Estrasburgo.

Estas convenções eram uma das promessas de campanha de Emmanuel Macron. O Presidente francês pretende recolher as propostas e as opiniões dos cidadãos sobre o futuro da construção europeia. Para além de França irão realizar-se iniciativas semelhantes em 25 outros Estados europeus. Apenas a Hungria e o Reino Unido não aceitaram a proposta gaulesa.

No discurso de Estrasburgo, Emmanuel Macron defendeu que todos têm responsabilidade de “organizar um verdadeiro debate europeu” que promova “verdadeiros intercâmbios europeus que permitirão aos nossos povos escolherem”.

“Aqueles que querem uma Europa que já não apresenta propostas, aqueles que querem uma Europa em regressão, aqueles que querem uma Europa do costume ou aqueles que estão prontos a oferecer uma Europa com ambição, com soberania reinventada e democracia. É nessa Europa que acreditamos”, não deixou de sublinhar.
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