Erdogan abriu portas da Aliança a Finlândia e Suécia

por Lusa

Depois de ter chamado a si os `holofotes` na adesão da Suécia e Finlândia à NATO, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan deu hoje finalmente `luz verde`, aceitando garantias apresentadas pelos países escandinavos, incluindo na extradição de "terroristas" curdos.

É Erdogan que, quase dois meses depois de ter colocado `gelo` no pedido de adesão dos países escandinavos, surge ao centro da fotografia do momento ansiado por suecos, finlandeses e aliados da NATO - a assinatura em Madrid de um memorando que faz avançar o processo de alargamento da Aliança Atlântica, a que os dois países resistiram, durante décadas, até à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Rubricado pelos chefes da diplomacia turco, finlandês e sueca, na presença de Erdogan, dos dois presidentes dos países escandinavos e do secretário-geral da NATO, o acordo surgiu após três horas de reunião em Madrid, na véspera do início da cimeira da Aliança Atlântica - que prometia ser histórica, mas sobre a qual pairava a `nuvem` do veto turco, agora dissipada.

Coube ao secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, apresentar os contornos do acordo: "enquanto aliados da NATO, a Finlândia e a Suécia comprometeram-se a apoiar plenamente a Turquia nas ameaças à sua segurança nacional".

O compromisso, disse, inclui alterar ainda mais as legislações nacionais dos países escandinavos, reprimir as atividades do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e chegar a um acordo com a Turquia no que se refere à extradição.

"Tendo em conta o progresso que fizemos juntos, a Turquia concordou em apoiar a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO", frisou Stoltenberg, que na segunda-feira se tinha mostrado cauteloso em relação a um acordo sobre o tema, limitando-se a prever "progressos". O memorando de hoje, disse, "responde às preocupações da Turquia, incluindo no que se refere às exportações de armas e à luta contra o terrorismo".

O PKK é considerado "organização terrorista" pela Turquia, União Europeia e Estados Unidos, na sequência da rebelião armada curda no sudeste turco, iniciada em 1984.

A Turquia acusa a Suécia de albergar militantes do PKK e exigia também o levantamento dos bloqueios à exportação de armas por Estocolmo e Helsínquia após a intervenção militar da Turquia no norte da Síria em outubro de 2019, o endurecimento da legislação antiterrorista sueca e a extradição de várias pessoas que descreve como terroristas.

Os dois Estados escandinavos têm manifestado desde há vários anos apoio às Unidades de Proteção Popular (YPG), a formação armada dos curdos sírios e principal componente das Forças Democráticas Sírias (HSD), que Ancara acusa de ligações diretas PKK.

Com o fim do veto da Turquia, os Aliados irão, na quarta-feira, tomar a decisão de convidar a Suécia e a Finlândia para a NATO e a tornarem-se Estados-membros da NATO, explicou o secretário-geral. A adesão terá ainda de ser ratificada pelos parlamentos dos 30 Estados-membros da NATO.

"Temos de assinar o protocolo de adesão antes de eles serem formalmente considerados convidados, o que irá acontecer imediatamente depois desta cimeira. A decisão política foi tomada, e isso irá refletir-se nas decisões que os líderes irão tomar amanhã [quarta-feira]", referiu.

Com o presidente russo numa visita oficial ao vizinho Tajiquistão - a primeira ao estrangeiro desde que invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, tornando-se alvo de sanções internacionais - Stoltenberg enviou também avisos para Moscovo - "a porta da NATO está aberta" e a adesão da Suécia e da Finlândia é "talvez o processo mais rápido de sempre".

"É preciso lembrar que, em dezembro do ano passado, o Presidente Putin propôs os chamados `tratados de segurança` para serem assinados com a NATO, em que uma das mensagens mais importantes era de que estava contra qualquer alargamento da NATO. Ele queria menos NATO: agora, está a ter mais NATO às suas portas", considerou.

O Presidente finlandês, Sauli Niinisto, disse que os passos concretos para a adesão finlandesa serão acordados pelos Aliados da NATO durante os próximos dois dias, "mas essa decisão é agora iminente".

"Ao reforçarmos a nossa cooperação em matéria de contraterrorismo, exportação de armas e extradições, a Finlândia continua naturalmente a operar de acordo com a sua legislação nacional", garantiu Niinistö.

Segundo a ministra do Negócios Estrangeiros da Suécia, Ann Linde, as negociações finais para a adesão dos dois países à NATO decorrerão na próxima semana em Bruxelas. Na reunião com Erdogan, a delegação do país foi chefiada pela primeira-ministra Magdalena Andersson.

A presidência turca congratulou-se com a "plena cooperação" da Finlândia e da Suécia contra os combatentes curdos do PKK e aliados.

Depois do encontro de hoje, Erdogan seguiu para o jantar oferecido pelos reis de Espanha aos mandatários estrangeiros no Palácio Real de Madrid. Em seguida, ainda reunirá com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

A cimeira de Madrid vai reunir delegações de mais de 40 países, entre os 30 membros da NATO e outros convidados, e decorre condicionada pela guerra na Ucrânia, provocada pela invasão russa de 24 de fevereiro.

Os trabalhos da cimeira arrancam na quarta-feira e prolongam-se por dois dias, durante os quais a NATO vai adotar um novo Conceito Estratégico, documento que define as suas prioridades para a próxima década e que, segundo Stoltenberg, deverá definir a Rússia como a maior e mais direta ameaça aos países da aliança militar.

Em Madrid deverão também ser aprovados reforços das forças da aliança no leste europeu e das tropas de alta prontidão, naquela que constituirá "a maior revisão" da estratégia "de dissuasão e defesa coletiva" da NATO desde a Guerra Fria.

Será ainda aprovado um novo pacote de ajuda à Ucrânia e também Geórgia, Bósnia e Moldova terão novos planos de ajuda da NATO.

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