Depois de a Turquia ter dado início a uma ofensiva militar a nordeste da Síria, na quarta-feira, a União Europeia tem mostrado a sua preocupação e apelado à Turquia para que interrompa a operação. O Presidente turco, Recep Erdogan, rejeitou todos os avisos e ameaçou "abrir os portões" e enviar 3,6 milhões de refugiados para a Europa.
O presidente turco, Recep Erdogan, rejeitou todas as críticas e avisos que tem recebido e afirmou que a operação vai continuar, ameaçando “abrir os portões” e enviar refugiados para a Europa.
“Ei, União Europeia, controla-te. Se tentares rotular esta operação como uma ocupação, faremos o que é fácil para nós: abriremos os portões e enviaremos 3,6 milhões de refugiados na vossa direção”, ameaçou Erdogan esta quinta-feira.
Poucas horas depois de a Turquia ter dado início à ofensiva militar, várias vozes de aviso e de apelo surgiram.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, apelou a um cessar fogo, ameaçando a Turquia com o fim do financiamento europeu ao plano turco de criar uma “zona de segurança” no território sírio.
"A Turquia deve parar com a operação militar em curso. Não irá resultar. E, se o plano da Turquia é a criação de uma zona de segurança, não espere pelo financiamento da União Europeia (UE)", afirmou Jean-Claude Juncker na quarta-feira, diante do Parlamento Europeu reunido em Bruxelas.
Em resposta a esta ameaça de corte no acordo de migração com a UE, Erdogan argumenta nunca ter recebido ajuda: “Tu [UE] nunca nos deste nada para os nossos esforços [para acolher refugiados]. Fomos nós que gastámos 40 mil milhões de dólares. Continuaremos o nosso caminho, gastando a mesma quantia de dinheiro, mas abriremos as portas”.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, também apelou à Turquia para “não desestabilizar ainda mais a região”, apesar de reconhecer as “preocupações legítimas de segurança” de Ancara, ao ter sofrido “ataques terroristas horríveis” e por ter recebido vários milhares de refugiados, grande parte oriundos da Síria.
“Olha-te ao espelho”
Londres e Riade expressaram igualmente a sua preocupação. O chefe da diplomacia britânica, Dominic Raab, em comunicado, declarou que esta operação “pode desestabilizar a região, exacerbar a crise humanitária e minar o progresso feito na luta contra o grupo radical Estado Islâmico”.
A Arábia Saudita considera que a ofensiva turca arrisca a ocorrência de “repercussões negativas na segurança e estabilidade na região”, além de “minar os esforços internacionais contra o grupo terrorista Estado Islâmico”.
Em resposta à reação de vários países sobre a ofensiva militar, o presidente turco disse que todos se deveriam “afastar” e deixar a Turquia avançar com a sua operação.
“Olha-te ao espelho primeiro. Quem levou o Iémen a este estado?", perguntou Erdogan, referindo-se à intervenção militar de Riade na guerra civil do Iémen. "Não morreram dezenas de milhares de pessoas no Iémen?", continuou a interrogar.
Passo atrás dos EUA
O presidente da Turquia defende que o objetivo desta operação contra o nordeste da Síria “é destruir o corredor de terror que tem estado a ser estabelecido na nossa fronteira a sul e trazer paz à região”.
“A Operação Primavera de Paz irá neutralizar as ameaças terroristas contra a Turquia e levará ao estabelecimento de uma zona segura, facilitando assim o regresso dos refugiados sírios às suas casas. Vamos preservar a integridade territorial da Síria e libertar as comunidades locais dos terroristas”, argumentou Erdogan.
A ofensiva teve início dias depois de Donald Trump ter anunciado que iria retirar do nordeste da Síria as forças militares norte-americanas – uma ação vista como a quebra do laço que os EUA tinham, até agora, com os curdos, no combate ao autoproclamado Estado Islâmico.
Donald Trump, mais tarde, veio garantir que não tinha abandonado os curdos e disse que deixou “claro à Turquia que esta operação seria uma má ideia”, ameaçando destruir a sua economia.
Entretanto, Trump parece voltar atrás nas suas palavras ao desvalorizar a aliança com os curdos. “Eles não nos ajudaram na Segunda Guerra Mundial e não nos ajudaram na Normandia, por exemplo”, afirmou o presidente norte-americano.
No seio deste conflito, uma das principais preocupações geradas a nível internacional é a de um eventual ressurgimento do autoproclamado Estado Islâmico.
O secretário de Estado Mike Pompeo disse que Trump “está consciente de que o autoproclamado Estado Islâmico pode voltar a surgir na região”, admitindo que “esse desafio permanece”.
No entanto, “o Presidente acredita firmemente que agora é a altura de reorganizar prioridades e de proteger a América em primeiro lugar”, explicou o secretário de Estado.