Espanha: Estudo associa calor a homicídio entre casais

por RTP
Entre 2008 e 2016 registaram-se 23 casos de feminicídio na Comunidade de Madrid Henry Romero - Reuters

O risco de homicídio entre casais, particularmente o feminicídio, aumenta em 40 por cento durante temperaturas quentes, segundo um estudo espanhol.

Um estudo espanhol apurou que o assassinato de mulheres por parte de um parceiro ou ex-parceiro (feminicídio) aumenta em períodos de temperaturas quentes.

Durante os meses de maio a setembro, entre 2008 e 2016, os investigadores contabilizaram o número de casos de feminicídio e pedidos de ajuda por violência doméstica na Comunidade de Madrid. A par disso, registaram o aumento de temperatura e a ocorrência de ondas de calor.

Durante esse período contabilizaram 23 casos de feminicídio na região. Por norma, o número de casos aumentava três dias após uma onda de calor, altura em que o risco de feminicídio subia em 40 por cento.

No caso de violência contra as mulheres por parte de parceiros ou ex-parceiros, registaram-se mais de 61 mil chamadas de emergência para linhas de apoio para vítimas de maus tratos, para além de serem preenchidos cerca de 38 mil relatórios policiais.

O estudo concluiu que um dia após uma onda de calor havia uma maior probabilidade de o número de relatórios policiais aumentar. O número de chamadas para as linhas de apoio aumentava cinco dias após as ondas de calor.

As ondas de calor “disparam o stress e a irritabilidade dentro de um casal onde já existe conflito”, explica Carmem Vives, co-autora do estudo, ao jornal El País.
Feminicídio pode ser precedido de maus tratos
No estudo argumenta-se que, apesar de não se aprofundar se os feminicídios são precedidos de maus tratos ou não, é possível que as altas temperaturas, ao acrescentarem o fator stress, provoquem episódios de violência que “culminam em feminicídio três dias depois”.

Já o aumento do número de chamadas para linhas de apoio, cinco dias após a onda de calor, pode ser indicativo de que as mulheres utilizam o serviço assim que os episódios de violência diminuem de intensidade.

Desta forma, os investigadores explicam que estas margens de tempo permitem “planear estratégias”, quer por parte da polícia pública, quer por parte das próprias mulheres, que assim conseguem identificar as alturas em que o risco de feminicídio é maior.

Tal como noticia o jornal espanhol, esta investigação faz parte de um movimento científico para identificar os fatores que aumentam o risco de uma mulher ser vítima de violência ou ser assassinada pelo seu parceiro.

Num outro estudo publicado em 2016, Carmem Vives, entre outros autores, destacavam que as mulheres imigrantes e as que vivem em zonas rurais tinham mais riscos de serem assassinadas.

Para além disso, concluiu-se que “a denúncia judicial ao agressor não parece modificar o risco de assassinato entre as mulheres expostas a violência doméstica”.

O trabalho foi realizado por especialistas em violência de género, epidemiologia e por psicólogos da polícia e da guarda civil.
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