Estado da União. Biden garante assistência à Ucrânia pelo "tempo que for necessário"

por Cristina Sambado - RTP
O presidente norte-americano assegurou que os Estados Unidos continuarão a apoiar o povo ucraniano Jacquelyn Martin - EPA

O presidente norte-americano, Joe Biden, afiançou, durante o discurso do Estado da União, na última noite, que continuará a apoiar a Ucrânia pelo "tempo que for necessário", destacando a liderança dos EUA contra a agressão russa.

Ao dirigir-se às duas câmaras do Congresso - Senado e Câmara de Representantes -, reunidas no mesmo hemiciclo, o presidente norte-americano declarou que os Estados Unidos deram um exemplo de liderança, ao "unir a NATO" e ao "construir uma coligação global" pela Ucrânia.

"A invasão de Vladimir Putin tem sido um teste para os tempos. Um teste para a América. Um teste para o mundo", avaliou.

Biden aproveitou a presença no evento da embaixadora da Ucrânia em Washington, Oksana Markarova, para lhe dar diretamente garantias da continuidade de apoio, para que Kiev se possa continuar a defender da agressão russa.

"A embaixadora representa não apenas a sua nação, mas a coragem do seu povo. Embaixadora, a América está unida no apoio ao seu país. Estaremos consigo o tempo que for preciso. A nossa nação está a trabalhar por mais liberdade, mais dignidade e mais paz, não apenas na Europa, mas em todos os lugares", assegurou.Firmeza com a China
Neste Estado da União, em que definiu as prioridades para o próximo ano e pediu a colaboração dos congressistas, Biden incluiu ainda a relação com a China, frisando que procura "competição, não conflito".

No entanto, deixou claro que agirá prontamente caso "a China ameaçar a soberania dos EUA".

"Mas não se enganem: como deixámos claro na semana passada, se a China ameaçar a nossa soberania, agiremos para proteger o nosso país. E nós fizemos isso", disse Biden, referindo-se ao abate de um balão chinês que sobrevoou o território norte-americano na semana passada.

As relações já complicadas entre os Estados Unidos e a China ficaram consideravelmente mais tensas nos últimos dias, após a descoberta deste balão chinês, alegadamente para fins de espionagem.

Antes de assumir o cargo presidencial, cresciam os rumores de que "a China estaria a aumentar o seu poder e a América estava a cair", mas "não mais", sublinhou Joe Biden.Investir em tecnologias avançadas
Biden defendeu ainda a continuação do investimento, juntamente com os aliados dos EUA, na proteção de tecnologias avançadas e evitar que sejam usadas contra o país, e na modernização das forças armadas para salvaguardar a estabilidade e prevenir agressões.

"Não vou desculpar-me por estarmos a investir para fortalecer a América", advogou.

"Hoje estamos na posição mais forte em décadas para competir com a China ou qualquer outro país do mundo. Estou empenhado em trabalhar com a China onde for possível para promover os interesses norte-americanos e beneficiar o mundo", acrescentou.

O democrata declarou ainda que, nos últimos dois anos, as democracias tornaram-se mais fortes e as autocracias mais fracas, dando destaque às parcerias que se estão a formar entre várias geografias.

"Mas aqueles que apostam contra a América estão a aprender o quão errados estão. Nunca é uma boa aposta apostar contra a América", avaliou.

Biden relembrou que a sua Administração criou “12 milhões de novos empregos. Mais empregos criados em dois anos do que qualquer Presidente criou em quatro anos”.
João Ricardo de Vasconcelos, correspondente da RTP em Washington

"Nos arredores de Columbus, no Ohio, a Intel está a construir fábricas de semicondutores. Isso criará 10 mil empregos: sete mil na construção e três mil empregos quando as fábricas forem concluídas. Empregos que pagam 130 mil dólares (121 mil euros) por ano e muitos não exigem diploma universitário. Empregos onde as pessoas não precisam de sair de casa em busca de oportunidade. E está apenas a começar", disse em tom energético.
Made in America

O inquilino da Casa Branca promoveu as conquistas legislativas dos seus dois anos de mandato e prometeu o regresso em força da produção e manufatura no país.

“Estamos a garantir que a cadeia de abastecimento para a América começa na América”, afirmou Joe Biden, num discurso em que passou bastante tempo a falar da economia, infraestruturas e emprego, e onde anunciou propostas e medidas.

Joe Biden fez ainda um anúncio inesperado: “Todos os materiais de construção usados em projetos federais de infraestruturas serão fabricados na América”. “Madeira serrada, vidro, placa de gesso, cabos de fibra ótica feitos na América”, exemplificou.

Este foi um dos pontos transversais ao discurso do Estado da União: o foco na produção doméstica, no regresso aos bons empregos de colarinho azul e o aceno a uma classe trabalhadora que se tem sentido “esquecida”, bem como muita insistência nas reformas da saúde.

O Estado da União, visto por dezenas de milhões de americanos, foi a oportunidade de Joe Biden de mudar a narrativa e também de encostar os republicanos à parede na disputa sobre o teto da dívida pública, que tem se ser levantado para que o país possa pagar as contas. Colaboração com os republicanos
O presidente norte-americano pediu ainda aos republicanos que trabalhem em conjunto com o Governo “para terminar o trabalho”.

"Aos meus amigos Republicanos, se pudemos trabalhar juntos no último Congresso, não há razão para não trabalharmos juntos neste novo Congresso. As pessoas enviaram-nos uma mensagem clara. Lutar por lutar, poder pelo poder, conflito pelo conflito, não nos leva a lugar nenhum", disse Biden.

O discurso do Estado da União foi a oportunidade de o Presidente norte-americano mudar a narrativa e também de encostar os Republicanos à parede na discussão sobre o teto da dívida pública.

“Alguns dos meus amigos republicanos querem tomar a economia como refém, a não ser que eu aceite os seus planos económicos”, apontou Biden.

“Em vez de fazerem os ricos pagarem a sua parte, alguns republicanos querem que a Medicare e a Segurança Social desapareçam”, acusou. Uma acusação que levou a que vários congressistas republicanos protestassem e chamassem Biden de “mentiroso”.


Joe Biden recordou ainda que assinou “mais de 300 leis bipartidárias” desde que assumiu a presidência. “Meus amigos Republicanos, se trabalhámos juntos na última sessão do Congresso, não há razão para não trabalharmos neste”.

O presidente norte-americano também se mostrou otimista e não poupou elogios ao espírito e à alma da América, um país que emerge “mais forte” das crises e é marcado pelo “progresso e resiliência”.

“Porque a alma da nação é forte, a sua espinha dorsal é forte e o povo da nação é forte, o Estado da União é forte”, concluiu. “Somos os Estados Unidos da América e não há nada que fique além da nossa capacidade se o fizermos juntos”, sublinhou Biden.Conquistas económicas
No discurso, Biden deu enfase às conquistas económicas e legislativas que alcançou ao longo dos últimos dois anos e lançou o mesmo apelo várias vezes ao longo dos 72 minutos que discursou: “Vamos terminar o trabalho”.

“Nos últimos dois anos, o meu Governo reduziu o défice em mais de 1,7 mil milhões de dólares [1,58 mil milhões de euros] - a maior redução de défice na história americana. No Governo anterior, o défice americano aumentou quatro anos consecutivos. Por causa desses números recorde, nenhum Presidente acrescentou mais à dívida nacional em quatro anos do que meu antecessor", disse Biden, numa referência direta ao seu antecessor Donald Trump.

"Quase 25 por cento de toda a dívida nacional, uma dívida que levou 200 anos para ser acumulada, foi adicionada apenas por esse Governo", acrescentou, sendo mais uma vez apupado pelos Republicanos presentes no Congresso.Temas fraturantes
Joe Biden aproveitou para defender o direito ao aborto, uma reforma abrangente da imigração, a proibição de acesso a armas semiautomáticas e criticou a violência policial, na presença da mãe e do padrasto de Tyre Nichols, um jovem negro que foi recentemente espancado mortalmente por agentes das forças de segurança norte-americanas.

“Não há palavras para descrever o desgosto e a dor de perder um filho. Mas imagine como é perder um filho às mãos da lei", disse Biden, num dos momentos mais emocionantes da noite, sendo aplaudido de pé.

“Proíbam as armas de ataque já! Proíbam-nas já!”, apelou.

Este foi o segundo Estado da União de Joe Biden e a primeira vez que se dirigiu ao Congresso desde que os Republicanos conquistaram o controlo da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do parlamento dos Estados Unidos, nas intercalares do ano passado. O discurso foi visto como uma rampa de lançamento para a sua recandidatura às presidenciais de 2024.

O Estado da União é tradicionalmente a arma de comunicação direta mais poderosa de um presidente. No discurso do ano passado, 38 milhões de americanos assistiram à transmissão televisiva.

c/ agências
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