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Estado da União. O que os eurodeputados portugueses querem ouvir

por Andrea Neves, correspondente da Antena 1 em Bruxelas
Yves Herman - Reuters

É o primeiro discurso do Estado da União de Ursula Von der Leyen e há quem admita que apresente metas ainda mais ambiciosas para o pacto verde europeu e para a digitalização. A presidente da Comissão Europeia considera que estas devem manter-se como as linhas de orientação da resposta à pandemia.

O discurso deve, assim, ter referências às medidas da Comissão para dar resposta à crise sanitária, económica e social causada pela Covid-19, mas também ao plano para a recuperação da Europa, à luta contra as alterações climáticas, às novas medidas em matéria de migração e asilo e a situação nos países da vizinhança europeia.
Antena 1

Os eurodeputados portugueses aguardam com expectativa o discurso de Ursula Von der Leyen e consideram que há temas que não podem mesmo ficar de fora.

Carlos Zorrinho, eleito pelo PS, quer também ouvir uma presidente da comissão solidária.

“Profundamente aliada dos países que querem um progresso sustentável da União Europeia até porque as estratégias estão correctas: liderar a transição energética, liderar a transição digital. Também precisamos de uma resposta que seja credível e forte em relação às migrações”.

Já Paulo Rangel quer uma palavra sobre a importância do estado de direito e sobre a mobilidade no espaço Schengen e uma atenção especial ao Brexit.

“Existe uma situação altamente tensa e até de alguma hostilidade entre o governo de Boris Johnson e as Instituições Europeias. Eu imagino o que estejam a passar os cidadãos portugueses porque neste momento está tudo em causa”.

Humanidade é o que a eurodeputada do Bloco de Esquerda deseja que esteja presente no discurso de Ursula Von der Leyen.

“Não podem faltar as respostas aos problemas que as pessoas estão a vier. A crise fez aumentar muito a pobreza e as desigualdades. Estamos com tragédias nas fronteiras, à volta d União e dentro da União. Há muitas situações trágicas como é o caso de muitos refugiados”.

João Ferreira, do PCP, destaca ainda a importância de ouvir sobre a necessidade de reforçar o orçamento europeu

“Era essencial que ainda fossemos a tempo de reverter o corte previsto par ao quadro financeiro plurianual e independentemente do que venha a acontecer com o fundo de recuperação”.

Já Nuno Melo, do CDS-PP, quer que o discurso do Estado da União não esqueça a questão das migrações.

“É um tema muito actual e que afecta muita gente a começar pelos migrantes e refugiados que estão perdidos e abandonas um pouco por toda a Europa”.

Francisco Guerreiro, eleito pelo PAN mas agora independente, quer ouvir dizer que as questões climáticas vão estar na base da resposta europeia à pandemia.

“Não só pelo fundo de recuperação mas pelo quadro financeiro plurianual se garanta que é essa a base de recuperação económica e social da Europa”.
Os temas que dividem

O Estado da União: ou seja, o ponto em que se está e o ponto em que se quer estar. Ninguém imaginaria que o deste ano, o primeiro de Ursula von der Leyen, ficasse marcado por uma pandemia que abalou a sociedade, fragilizou a economia e ainda lança dúvidas sobre o futuro.

Por isso, a forma de lidar com este vírus, económica e socialmente, parece unir a Europa. O desejo, pelo menos, porque a forma de o conseguir chegou a criar divisões quando foi preciso lançar as bases de um plano de recuperação.

A Antena 1 perguntou aos eurodeputados portugueses que divergências consideram mais marcantes numa União que quer apostar mais no acordo verde, na digitalização, na coesão e na geopolítica externa.

Carlos Zorrinho considera que ainda há divergências na forma como se quer continuar este projeto.

“São as visões, diversas, sobre a forma como a União Europeia deve evoluir. Designadamente a existência de alguns países ditos frugais que olham para a União essencialmente como um mercado”.

O eurodeputado do PS identifica ainda outro problema: “Mais recentemente, os países ditos iliberais que têm procurado distorcer os valores constitucionais essenciais da União Europeia”.
Antena 1

Paulo Rangel considera que a vontade de ter uma política de migrações mais humana é comum, mas pode criar divisões.

“É possível que agora exista uma vaga muito grande porque muitos países vão sofrer muito com a crise e, portanto, o desemprego vai crescer. E isto também é um facto para as migrações porque com um desemprego grande na Europa o espaço para acolher migrantes é menor”.

O eurodeputado do PSD admite também que o cumprimento do estado de direito pode criar uma divisão entre Estados.

“Claramente a Polónia e a Hungria estarão na oposição, mas também outros países como a República Checa, a Bulgária e até eventualmente Malta podem vir a por problemas no respeito pelos direitos fundamentais e sobretudo pela liberdade de imprensa”.

Há vontades comuns, sim, mas Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, também identifica a forma como os países reagem, muitas vezes, como um factor que não facilita a identificação de prioridades comuns.O Estado da União é apresentado pela presidente da Comissão Europeia e pode até criar metas mais ambiciosas para o pacto verde europeu e a digitalização. Duas das grandes apostas de Ursula von der Leyen e que devem acompanhar toda a recuperação que se quer fazer, a 27, da economia europeia.

“Há egoísmos nacionais neste momento. E também as regras do mercado interno têm criado mais divergência que aproximação. Mas o que pode unir mais é a politica de coesão e as políticas comuns. Para que haja maior equidade no acesso e redistribuição dos recursos”.

Para o eurodeputado do PCP João Ferreira, a descoordenação na reacção à pandemia não ajuda numa luta comum sobretudo ao nível das questões de saúde.

“Descoordenação também no assegurar de condições uniformes e criteriosas de circulação no espaço europeu. E por outro lado também descoordenação da resposta às consequências económicas da pandemia porque falhou o reforço do Orçamento. Arranjámos um expediente que esconde um pouco o corte que o Orçamento vai sofrer mas isso terá consequências no futuro”.

Nuno Melo, do CDS-PP, considera que o que agora mais une a Europa, a luta contra a pandemia, também a pode a separar.

“Provavelmente pela forma como ultrapassaremos esta crise pandémica pandemia pode surgir uma punção federalista que tende a aproveitar as consequências da Covid-19 para forçar certos passos federalistas como a criação de recursos próprios”.

O eurodeputado independente Francisco Guerreiro admite que há que há ainda alguns interesses estratégicos nacionais que dificultam o entendimento entre Estados-membros.

“Vários Estados dentro da União Europeia que fazem com que o processo negocial do quadro financeiro plurianual seja mais difícil, não cumprindo regras de direito europeu, e cirando algum facilitismos na negociação de recursos próprios”.


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