Estónia. A extrema-direita emergiu no país báltico

por RTP
Martin Helme, dirigente do EKRE, Partido Popular Conservador da Estónia Ints Kalnins - Reuters

O pequeno país báltico, considerado exemplar a nível democrático, um modelo a seguir pela restante Europa de Leste, saída da antiga União Soviética, está a perder o estatuto. O partido de extrema-direita EKRE conseguiu aumentar o número de votos nas últimas eleições, assim como a representação no Parlamento.

Passados quase 30 anos desde a dissolução da URSS, a Estónia tornou-se uma nação digital – 99 por cento dos serviços públicos estão online; um terço da população vota através da internet desde 2014; os impostos são declarados online, em menos de cinco minutos; e os cartões de identidade estão associados a assinaturas digitais.

É um dos países mais seguros do mundo, um dos países com maior liberdade de imprensa, um dos que têm maior liberdade de expressão na internet e um dos que possuem maior facilidade em fazer negócios.

Como o país tem assumido uma posição anti-russa desde a sua independência, a par dos irmãos bálticos, tem-se mostrado um prestável aliado da União Europeia e da NATO.

Contudo, silenciosamente, o espetro político estónio tornou-se cada vez mais radical.

O Partido Popular Conservador da Estónia, EKRE, liderado pelo pai e filho Mart e Martin Helme, fundado apenas em 2012, tem assumido uma importância crescente na cena política estónia, sobretudo desde a crise de refugiados em 2015.

O EKRE conseguiu obter, nas eleições legislativas de março de 2019, 19 em 101 lugares no Riigikogu, o Parlamento. Com o dobro dos votos comparativamente às eleições em 2015, o primeiro-ministro, Jüri Ratas, convidou o EKRE a formar uma coligação conservadora com o seu partido, o Partido Reformista Estónio.

Numa tentativa de se manter no poder, Ratas decidiu ignorar os pedidos de Bruxelas de cessar negociações com o partido de extrema-direita, e ofereceu cinco em 15 cargos ministeriais e outras concessões políticas, como um referendo para inquirir o eleitorado sobre se o casamento deveria ser apenas entre uma mulher e um homem.

Desde a independência, os governos estónios viram-se obrigados a formar coligações, visto que nenhum partido alcançou os 51 lugares necessários para uma maioria no Parlamento. 
Política anti-imigração
O EKRE mantém uma clara posição etno-nacionalista relativamente à migração: é contra a imigração por parte de países africanos e do Médio Oriente e afirma não querer que os partidos liberais alterem a “composição étnica da Estónia”. Martin Helme afirmou: “If you’re black, go back” (se és negro, volta para trás) e “Eu quero que a Estónia seja um país branco”.

Porém, a imigração não parece ser um problema real para o pequeno país, considerando a sua distância das rotas dos refugiados na Europa e o facto de ter dado apenas asilo a 47 refugiados.

Ruuben Kaalep, o líder do movimento jovem associado ao partido, o Blue Awakening (Despertar Azul), afirmou: “Os políticos de direita não conseguem repudiar completamente a Alemanha Nazi”, dizendo que esta teve elementos positivos.

Por outro lado, um dos representantes do partido replicou que algumas medidas económicas da Alemanha nazi deveriam ser aplicadas atualmente.

Tendo em consideração a presença de uma minoria russa significativa no país e a exclusão a que estes afirmam ter sido relegados, os comentários das figuras do EKRE afiguram-se incendiários.

Quanto ao casamento por casais do mesmo sexo, o partido também se opõe veementemente.

Neste contexto político e social, a Estónia começa a perder o estatuto de “país modelo” na Europa de Leste. Já há, inclusive, relatos de jornalistas que criticam a atual falta de liberdade de imprensa.

As ações do EKRE poderão colocar em causa as relações com a União Europeia e, potencialmente, com a Rússia, visto que a última poderá identificar esta nova retórica com uma ameaça aos russos étnicos que vivem no pequeno país, e a consequente necessidade de defendê-los. Tal poderia alterar as ações da Rússia na Europa de Leste e, em particular, nos Bálticos.
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