Estudo. Poluição do ar pode aumentar risco de perda irreversível de visão

por Joana Raposo Santos - RTP
O estudo conclui que a exposição ao ar poluído pode aumentar o risco de degenerescência macular associada à idade. Foto: Diego Azubel - EPA

A poluição atmosférica pode estar associada a um risco acrescido de perda irreversível de visão. A conclusão é de investigadores da University College London, segundo os quais partículas poluentes encontradas em áreas urbanas - e maioritariamente emitidas por veículos - são inaladas pela população, entrando na corrente sanguínea e podendo afetar a parede ocular.

O estudo da University College London analisou o ar poluído em Inglaterra, na Escócia e no País de Gales e concluiu que até uma reduzida exposição a este ar parece aumentar o risco de degenerescência macular associada à idade.

Essa doença degenerativa da área central da retina, que leva a uma diminuição acentuada e irreversível da visão central, enquanto a visão periférica se mantém conservada, é a principal causa de cegueira em pessoas com mais de 50 anos nos países ocidentais.

A visão central que se perde com esta doença é aquela que precisamos para ler, desempenhar tarefas mais detalhadas e reconhecer rostos. Para além da idade, os fatores de risco para a degenerescência macular são a genética e o consumo de tabaco.

Agora, os investigadores da University College encontraram outro possível fator. Pessoas que vivam em áreas mais poluídas têm pelo menos mais oito por cento de probabilidade de sofrer desta doença do que quem habita em zonas com menos poluição atmosférica.

O estudo, publicado na revista de oftalmologia British Journal of Ophthalmology, utilizou os dados de quase 116 mil pessoas entre os 40 e os 69 anos. Os investigadores compararam a quantidade de agentes poluentes nas áreas de residência dos participantes com e sem degenerescência macular.

“Pessoas que vivem numa área mais poluída registam mais frequentemente degenerescência macular”, explicou à CNN o autor do estudo e professor universitário, Paul Foster. Segundo o especialista, os principais poluentes associados à doença são partículas PM2.5, dióxido de nitrogénio e óxido de nitrogénio.

As PM2.5 são minúsculas partículas que podem alojar-se nos pulmões quando inaladas, acabando por entrar na corrente sanguínea.

A maioria destas partículas contém uma mistura de poluentes originados por emissões de veículos, centrais de energia ou zonas industriais, sendo essas as raízes do problema que afeta maioritariamente áreas urbanas.

Ao entrarem no corpo através dos pulmões, estes poluentes parecem causar mais danos nos olhos devido à elevada circulação do sangue na parede ocular, elucidou o líder do estudo. “As pessoas respiram [os poluentes] e estes são absorvidos pelo sangue e transportados pelo sangue”.

“Existe, sem dúvida, uma relação entre os membros mais desfavorecidos da sociedade e o risco mais elevado de se adquirir esta condição”, defendeu Foster.

O estudo britânico agora divulgado não é o primeiro a chegar à conclusão de que o ar poluído pode causar degenerescência macular. Já em 2019, um estudo levado a cabo no Taiwan teve resultados semelhantes.

“O tipo de poluentes analisados pelos dois grupos de investigadores (o do Reino Unido e o de Taiwan) é ligeiramente diferente, mas a fonte é a mesma: a combustão”, disse à CNN o professor Chris Inglehearn.

“Claro que a correlação não prova a causalidade, mas o facto de estes dois estudos independentes terem alcançado conclusões semelhantes fazem crer que esta ligação é real”, considerou.

A poluição atmosférica mata, aproximadamente, sete milhões de pessoas todos os anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados desta organização indicam que nove em cada dez pessoas respiram ar que excede os limites das diretrizes sobre níveis de poluentes.
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