O homem e a criança com menos de dois anos eram de El Salvador e morreram afogados no passado domingo no Rio Grande, quando tentavam chegar aos Estados Unidos. A imagem dos dois migrantes está a correr o mundo e ilustra o drama da crise migratória na fronteira com o México.
Shocking images of a drowned Salvadoran migrant and his two-year-old daughter who died while trying to cross the Rio Grande river from Mexico to the US spark outrage, underscoring the dangers faced by asylum-seekers https://t.co/G0AeIcaoPu pic.twitter.com/pciTwC27qY
— AFP news agency (@AFP) 26 de junho de 2019
Os dois foram descobertos na margem do rio Grande, perto de Matamoros, no México, perto de Brownsville, Texas. Estavam a apenas a um quilómetro da ponte internacional que faz a ligação entre os dois países.
De acordo com a repórter, a família – Óscar, Valeria e a mulher, Tania Ávalos - tinha chegado a Matamoros no domingo, onde pretendia pedir asilo às autoridades norte-americanas. Quando perceberam que a mera apresentaçao do pedido de asilo poderia levar várias semanas, decidiram que iriam tentar atravessar o rio.
Na descrição do afogamento feita ao jornal The Guardian pela jornalista Julia Le Duc, que vai ao encontro do que foi dito por Tania Ávalos à polícia mexicana, o pai, Óscar Martinez, de 25 anos, atravessou o rio com a criança, com um ano e 11 meses, levando-a para o lado americano. Quando deixou a criança em terra e voltou para trás, para ir buscar a mulher, a menina atirou-se à água para seguir o pai. Apercebendo-se da situação, o homem tentou salvar a filha, mas ambos foram arrastados pela corrente.
Os gritos da mulher chamaram à atenção das forças de segurança de Matamoros, que iniciaram uma operação de busca ainda no domingo. As buscas foram interrompidas com o cair da noite e logo na segunda-feira de manhã os dois corpos foram encontrados.
O jornal The New York Times apresenta uma versão ligeiramente diferente, tendo também por base o depoimento de Tania Ávalos: a criança seguia nas costas do pai, por baixo da camisola, enquanto tentavam passar o rio e a mulher seguia atrás deles. Óscar Martínez e a filha estavam a aproximar-se da margem oposta com dificuldade, devido à força da corrente. A mulher decidiu voltar para trás, para a margem mexicana. Quando olhou para trás, viu que o marido e a filha a afogarem-se e a serem levados pela corrente.
Em declarações ao jornal El Salvador, a mãe de Óscar Martinez conta que a família abandonou o país de origem no dia 3 de abril, tendo passado dois meses num abrigo em Tapachula, junto à fronteira entre o México e o Guatemala.
O rio Grande constitui uma das fronteiras naturais entre o México e os Estados Unidos, assim como o deserto do Sonora. No ano passado, pelo menos 283 migrantes morreram a tentar chegar aos Estados Unidos.
Acordo entre EUA e México
O acordo estabelece ainda que os requerentes de asilo devem aguardar por uma resposta no México, um processo que pode demorar vários anos. Em troca, a Administração Trump suspendeu a aplicação de pesadas taxas alfandegárias ao país vizinho.
A crescente morosidade do processo tem levado vários migrantes a arriscarem percorrer rotas mais perigosas para chegarem ao destino. No início da semana, uma patrulha norte-americana encontrou os corpos de dois bebés, uma criança e uma mulher com cerca de 20 anos no sul do Texas, perto do parque Anzalduas.
As quatro vítimas, cujos nomes não foram revelados, já teriam morrido há vários dias devido à desidratação e exposição ao calor, após terem concretizado a travessia do rio Grande.
“É lamentável que isto esteja a acontecer. À medida que há uma maior rejeição por parte dos Estados Unidos, haverá pessoas que vão perder a vida no deserto ou a atravessar o rio”, alertou o Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador.
Depois do que se passou à família de El Salvador, os restantes familiares pedem ajuda ao Presidente do país para repatriar os corpos de Óscar e Valeria Martínez, uma vez que a despesa pode chegar até aos 7.500 dólares e a família não dispõe dos recursos necessários.
“Estamos unidos pela dor desta perda irreparável. Nenhum salvadorenho deve ter necessidade de abandonar o seu país por falta de oportunidades. Pedimos à família que nos contacte para dar início ao repatriamento”, disse o Presidente salvadorenho Nayib Bukele.
A imagem que representa a crise migratória centro-americana está a ser comparada à fotografia de Alan Kurdi, o rapaz sírio de três anos que morreu numa praia turca enquanto tentava chegar à ilha grega de Kos, em 2015. Na altura, o caso despertou a atenção da Europa e do mundo para o drama dos refugiados no Mediterrâneo.
Em reação às recentes mortes na fronteira com o México, vários candidatos à presidência dos Estados Unidos do lado democrata falaram sobre o tema. Beto O’Rourke considerou que “Trump é responsável por estas mortes”, enquanto a candidata Kamala Harris disse que este caso “é uma mancha na nossa consciência moral”.