Os juristas conotados com a direita republicana abriram fogo contra a nomeação de uma mulher afro-americana para preencher o lugar vago no Supremo Tribunal norte-americano, antes ainda de se saber quem será a pessoa e quais as suas qualificações como jurista. O argumento recorrente deste clamor é o de um alegado racismo anti-branco e anti-masculino.
EUA. Juristas conservadores em pé de guerra contra anunciada nomeação para o Supremo
A aposentação do juiz Stephen Breyer levou o presidente Joe Biden a anunciar que ele seria substituído por uma pessoa com todas as qualificações jurídicas exigidas para o exercício do cargo e que seria, além disso, a primeira mulher afro-americana a tomar assento na máxima instância do poder judicial. O anúncio suscitou reacções favoráveis, mas também um coro de críticas, que essencialmente ignoraram a garantia do presidente sobre as competências da pessoa a nomear e se focaram apenas no género e na etnia, como se esses dois critérios fossem os únicos ou os principais da escolha.
O mais notório dos protestatários foi o jurista da Universidade de Georgetown Ilya Shapiro, que lançou e depois apagou, apresentando desculpas, um tweet dizendo que, infelizmente, o seu candidato preferido "não encaixa na moderna hierarquia de interseccoinalidade, de modo que teremos de ficar com uma mulher negra de menor nível [no original: a lesser black woman]".
O tweet de Shapiro é entretanto replicado por pessoas indignadas, que o classificam como um comentário racista, insinuando que para o Supremo Tribunal dos EUA vigoram critérios que fazem passar uma mulher negra à frente de candidatos mais qualificados, sem saber de quem se está concretamente a falar, e ignorando que em 232 anos de existência daquela instituição nunca alguma mulher negra lá teve assento.
contemptible phrase "lesser Black woman" makes us wonder what would the world look like if all the "lesser white men" holding spuriously acquired power disappeared from it (including Ilya Shapiro). https://t.co/EEGSxwKfdn
— Joyce Carol Oates (@JoyceCarolOates) January 27, 2022
Entretanto, num outro tweet, Shapiro afirma que a pessoa escolhida por Biden ficará sempre com "um asterisco colado" ao seu nome, a lembrar que ela foi posta no lugar por o presidente exercer uma espécie de "acção afirmativa", ou seja, discriminação positiva.
Já antes, em 2009, o mesmo Shapiro comentara a escolha da juíza norte-americana de origem porto-riquenha Sonia Sotomayor como uma confirmação de que "a política identitária importa ... mais do que o mérito", e hoje esses antecedentes são-lhe recordados na áspera polémica desencadeada pelo seu tweet.
Um outro republicano enfurecido com o anúncio de Biden é o representante da Florida no Congresso Anthony Sabatini, conhecido por excentricidades como a de pedir que todas as estátuas derrubadas de líderes esclavagistas anteriores à Guerra Civil fossem entregues ao seu Estado, para receberem o merecido destaque no espaço público. Sabatini acusou Biden de "racismo ao contrário" e reclamou, também num tweet, que a escolha do presidente fosse considerada fundamento suficiente para um processo de destituição.Weird how he came after Sotomayor for the same reasons. "she was only nominated because she's a Hispanic woman." It's not "inartful" if it's a pattern.https://t.co/Kf32gosd8Q
— Marktropolis is 4 #Abolition (@JohnsonLewisM) January 27, 2022
Biden MUST be impeached for his anti-white racist exclusion of any white nominee to the Supreme Court
— Rep. Anthony Sabatini (@AnthonySabatini) January 27, 2022