EUA. Juristas conservadores em pé de guerra contra anunciada nomeação para o Supremo

por RTP
O Supremo Tribunal dos EUA, na sua composição de 2017 DR

Os juristas conotados com a direita republicana abriram fogo contra a nomeação de uma mulher afro-americana para preencher o lugar vago no Supremo Tribunal norte-americano, antes ainda de se saber quem será a pessoa e quais as suas qualificações como jurista. O argumento recorrente deste clamor é o de um alegado racismo anti-branco e anti-masculino.

A aposentação do juiz Stephen Breyer levou o presidente Joe Biden a anunciar que ele seria substituído por uma pessoa com todas as qualificações jurídicas exigidas para o exercício do cargo e que seria, além disso, a primeira mulher afro-americana a tomar assento na máxima instância do poder judicial. O anúncio suscitou reacções favoráveis, mas também um coro de críticas, que essencialmente ignoraram a garantia do presidente sobre as competências da pessoa a nomear e se focaram apenas no género e na etnia, como se esses dois critérios fossem os únicos ou os principais da escolha.

O mais notório dos protestatários foi o jurista da Universidade de Georgetown Ilya Shapiro, que lançou e depois apagou, apresentando desculpas, um tweet dizendo que, infelizmente, o seu candidato preferido "não encaixa na moderna hierarquia de interseccoinalidade, de modo que teremos de ficar com uma mulher negra de menor nível [no original: a lesser black woman]". 

O tweet de Shapiro é entretanto replicado por pessoas indignadas, que o classificam como um comentário racista, insinuando que para o Supremo Tribunal dos EUA vigoram critérios que fazem passar uma mulher negra à frente de candidatos mais qualificados, sem saber de quem se está concretamente a falar, e ignorando que em 232 anos de existência daquela instituição nunca alguma mulher negra lá teve assento.

Entretanto, num outro tweet, Shapiro afirma que a pessoa escolhida por Biden ficará sempre com "um asterisco colado" ao seu nome, a lembrar que ela foi posta no lugar por o presidente exercer uma espécie de "acção afirmativa", ou seja, discriminação positiva. 

Já antes, em 2009, o mesmo Shapiro comentara a escolha da juíza norte-americana de origem porto-riquenha Sonia Sotomayor como uma confirmação de que "a política identitária importa ... mais do que o mérito", e hoje esses antecedentes são-lhe recordados na áspera polémica desencadeada pelo seu tweet.
Um outro republicano enfurecido com o anúncio de Biden é o representante da Florida no Congresso Anthony Sabatini, conhecido por excentricidades como a de pedir que todas as estátuas derrubadas de líderes esclavagistas anteriores à Guerra Civil fossem entregues ao seu Estado, para receberem o merecido destaque no espaço público. Sabatini acusou Biden de "racismo ao contrário" e reclamou, também num tweet, que a escolha do presidente fosse considerada fundamento suficiente para um processo de destituição.

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