EUA reconhecem. "Muito, muito difícil" expulsar este ano forças russas da Ucrânia ocupada

por Graça Andrade Ramos - RTP
O general Mark Milley, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, na conferência de imprensa em Ramstein, a 20 de janeiro de 2023 Reuters

No rescaldo da reunião do grupo de contacto da Ucrânia em Ramstein, na Alemanha, o chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, o general Mark Milley, anteviu um cenário de meses de guerra ainda pela frente. E disse que o fim será necessariamente a mesa de negociações, a não ser que Vladimir Putin desista de uma guerra que está a revelar-se "catastrófica" para a Rússia.

"Do ponto de vista militar, mantenho que este ano será muito, muito difícil expulsar militarmente as forças russas de todo o território ucraniano ocupado" considerou Milley, sublinhando que os russos estão a entrincheirar-se e que a frente se tem mantido estática nas últimas semanas.

"O que pode suceder é uma defesa contínua, estabilizando a frente", acrescentou. “Penso que é claramente possível fazer isso”.
Já a eventualidade da Ucrânia lançar uma contraofensiva coerente nos próximos meses, Milley admitiu que é possível mas que será um desafio.

"Penso que é muito, muito possível que os ucranianos consigam uma ofensiva a nível tático e até operacional para libertar o máximo possível do território da Ucrânia", referiu, assumindo que os resultados irão depender da "entrega e treino de todo o equipamento" prometido esta sexta-feira a Kiev.

"O pessoal terá de ser treinado e unido ao equipamento… há uma janela de oportunidade muito curta para cumprir essas tarefas e isso é muito desafiante", referiu.

Os norte-americanos querem conter o avanço até pelo menos à primavera, dando tempo à formação das forças ucranianas e à entrega de todas as remessas prometidas.

"O nosso objetivo é fornecer a capacidade à Ucrânia para ser bem-sucedida no curto termo", afirmou Lloyd Austin, secretário de Defesa dos Estados Unidos na conferência de imprensa ao lado de Milley.

"Este é um pacote muito, muito capaz e se for bem utilizado irá permitir-lhes ter sucesso", acrescentou, referindo-se ao auxílio prometido acordado na reunião desta sexta-feira, o qual, lembrou, "não depende de uma plataforma única".

"Falamos de treino adicional. Isto é algo que não conseguimos fazer até agora. Irão treinar ao longo de semanas", revelou Austin.

Como lembrou esta sexta-feira o Presidente ucraniano o tempo joga contudo a favor dos russos. Volodymyr Zelensky apelou os seus apoiantes à urgência da ajuda.

Mesa de negociações
Os dois líderes norte-americanos realçaram a capacidade e a "bravura excecional" demonstrada pelos ucranianos, tanto combatentes como civis.

Esta é uma "guerra sangrenta", classificou Milley, "que mais cedo ou mais tarde terá de acabar na mesa de negociações, com uma Ucrânia livre, independe e soberana".

O militar lembrou que, além das perdas significativas ucranianas, há a considerar as perdas russas que se deverão cifrar acima das 100 mil baixas. "Bem acima" afirmou.

"Isto está a transformar-se numa catástrofe para a Rússia" disse Milley.

"Eventualmente, o Presidente Putin, a Rússia, irão perceber a extensão dos seus erros de cálculo. Mas até que Putin termine esta guerra – é a sua escolha – as nações deste grupo de contacto irão continuar a apoiar a defesa da Ucrânia de forma a manter as leis da ordem internacional", garantiu o general norte-americano.

Mark Milley disse também que "nunca viu a NATO tão unida" como no apoio à defesa da Ucrânia, tanto a nível militar como financeiro.

"Estes importantes compromissos demonstram a nossa resolução em ajudar a Ucrânia na autodefesa", referiu por seu lado Lloyd Austin.

O secretário norte-americano da Defesa concluiu que o que está em causa é contudo mais vasto.

 "É também sobre a segurança europeia e global", lembrou.
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