Evitar difusão de violência? Facebook diz que primeiro estão as festas de anos

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Charles Platiau, Reuters

Aquando do ataque de um membro da extrema-direita a duas mesquitas na Nova Zelândia, um dos factos mais chocantes desse dia 15 de março em Christchurch foi a transmissão realizada pelo atacante através das redes sociais. Cinquenta pessoas morreram, outras tantas foram feridas e as imagens correram imediatamente todo o mundo. Colocar um delay poderia ajudar a censurar estas estratégias, mas o fundador do Facebook diz que isso estragaria a difusão de festas de anos ou conversas entre amigos.

O livestream tem muitas vantagens para quem usa actualmente as redes sociais, podendo colocar em rede dezenas de amigos – ou mais – em torno de um evento. Há no entanto um reverso perverso desta potencialidade: a difusão sem controle inicial de actos de violência ou de carácter moral e eticamente duvidoso.

Uma forma de exercer esse controle inicial seria o delay (atraso) das transmissões pelas redes sociais – Facebook, Twitter e Youtube serão os mais populares – até que um responsável ou um algoritmo retirassem os conteúdos do ar, dificultando as tentativas de doutrinação por essa via.

Por exemplo, o ataque nas mesquitas de Christchurch esteve a ser emitido durante 17 minutos. Até hoje, as três principais redes ainda lutam contra a repetição da difusão das imagens deste atentado terrorista.
Tempo real fala mais alto

Questionado sobre esta solução no programa “Good Morning América”, Mark Zuckerberg rejeitou a possibilidade de vir a implementar o delay no Facebook, empresa de que é o principal fundador e actual CEO. Porquê? A relevância do factor “tempo real” na partilha de festas de anos, outros eventos e conversas de grupos é demasiado forte para ser colocada em causa.

Para o fundador do FB essa “transmissão” em tempo real é mais do que “difusão” (broadcasting), é a própria “comunicação” que está ali em causa. A resposta foi clara e a prioridade de Mark Zuckerberg não podia ter ficado mais explícita: “Se colocássemos esse atraso [nas transmissões] acabávamos com a comunicação”.

Em alternativa, Zuckerberg sugere o melhoramento “dos nossos sistemas” para que seja possível detectar este tipo de eventos com muito mais rapidez. O CEO desafia os reguladores para se chegarem à frente e apresentarem um manual de procedimentos – um livro de regras para a Internet – preservando alguns princípios básicos como seja a liberdade de expressão e a disponibilização de uma plataforma para os empresários fazerem o seu trabalho.

Mark Zuckerberg considera aqui fundamental que os governos e os reguladores desempenhem um papel mais activo neste domínio.
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