Ex-espião australiano que denunciou espionagem a Timor-Leste vai declarar-se culpado

por Lusa

Um ex-espião australiano que denunciou as escutas feitas pelo Governo da Austrália às autoridades de Timor-Leste vai declarar-se culpado de violar a lei dos serviços secretos, anunciou hoje, em Camberra, o advogado.

Hadyn Carmichael adiantou que o seu cliente, cuja identidade nunca foi revelada e é conhecido como "testemunha K", vai declarar-se culpado, e os detalhes desse processo ainda a ser negociados com a procuradoria australiana.

A "testemunha K" e o antigo advogado Bernard Collaery são acusados de conspiração pelas autoridades em Camberra, crime que tem uma pena máxima de dois anos de prisão e estão a ser julgados num tribunal australiano.

Os dois foram acusados no ano passado de conspirar para revelar informações protegidas pela lei dos serviços secretos, que abrange o sigilo e a comunicação não autorizada de informação.

À saída do tribunal, em Camberra, Collaery afirmou que mantém a intenção de desafiar a acusação de conspiração no Tribunal Supremo de Camberra, onde o caso tem estado a ser ouvido.

A acusação contra "K" traduz "uma cultura de mentira motivada por interesses comerciais", que é ilegal e "vai contra os interesses da Austrália", indicou.

A "testemunha K" denunciou a existência de um esquema de escutas montado em 2004 pelos serviços secretos australianos em escritórios do Governo timorense, em Díli, durante as negociações para um novo tratado para o mar de Timor.

Grande parte do processo tem estado, até aqui, a decorrer à porta fechada com as autoridades a alegarem segredos de Estado, sendo ilegal divulgar pormenores da operação de espionagem, ou do caso em si, que vai continuar em agosto.

A decisão de "K" marca a primeira divergência dos dois casos, tendo Collaery afirmado à saída do tribunal entender a posição do antigo cliente.

"Tenho grande empatia pela `testemunha K` e pela luta espiritual, mental e física porque passou até agora. Entendo a sua posição depois destes seis longos anos", afirmou.

Collaery saudou a presença de um pequeno grupo de apoiantes se ter concentrado no exterior do tribunal: "alguns australianos estão preocupados com o estado da nossa democracia, da liberdade de expressão, das restrições nos `media` e que eu esteja a ser julgado por dar aconselhamento jurídico, de boa fé, a um membro dos serviços de segurança".

"Estamos perante uma grande determinação de esconder a roupa suja política. É disso que se trata: de roupa suja política, disfarçada agora sob imperativos de segurança nacional", afirmou.

Collaery mostrou-se determinado em defender as suas ações em tribunal, manifestando preocupação em relação aos jornalistas que estejam a noticiar este caso.

"Sinto muito, mas pela primeira vez na minha carreira, não responderei a mais perguntas. Pode trazer-vos problemas", esclareceu.

Em junho, em Lisboa, o ex-Presidente timorense Xanana Gusmão afirmou que a nação se sentiu traída por "um país amigo".

"Sentimo-nos traídos por um país, supostamente amigo, e com o qual contávamos reconstruir (Timor-Leste)", disse Gusmão, que pediu a Camberra para reconsiderar e parar com "a injustiça que está a ser praticada contra Bernard Colleary e contra a testemunha K".

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