Familiares de vítimas do conflito na Irlanda do Norte protestaram hoje em Londres contra os planos do Governo britânico de conceder imunidade a responsáveis por crimes.
O Parlamento britânico começou hoje a debater uma proposta de lei que propõe a substituição de investigações policiais e processos judiciais por um organismo que ofereceria imunidade a pessoas que cooperem na recolha de informações para as famílias das vítimas.
Este sistema pode acabar com a maioria dos processos por homicídio cometidos por soldados britânicos e membros de grupos paramilitares, tendo em conta a probabilidade "cada vez menor" de condenar pessoas por crimes cometidos há décadas, afirmou o ministro para a Irlanda do Norte, Brandon Lewis.
"O sistema atual não funciona. Não está a dar justiça nem informação à grande maioria das famílias. Os processos judiciais morosos, contraditórios e complexos não oferecem o caminho mais eficaz para a recolha da informação, nem promovem o entendimento, confissão ou a reconciliação", disse aos deputados.
Mais de 3.500 pessoas morreram, a maioria civis, durante três décadas de violência entre soldados britânicos, grupos paramilitares republicanos irlandeses e grupos leais à coroa britânica.
A proposta de lei inspira-se na Comissão de Verdade e Reconciliação pós-apartheid da África do Sul e dá a uma "comissão para a recuperação de informação" a missão de investigar supostos crimes.
As pessoas que cooperarem com a comissão e revelarem o que sabem sobre crimes passados terão imunidade de acusação, e novas ações civis e investigações sobre o período em causa serão impedidos.
As pessoas que recusarem falar com a comissão podem ser acusadas, condição introduzida depois de uma proposta anterior de amnistia geral ter sido rejeitada por todos os principais partidos políticos da Irlanda do Norte, o governo da Irlanda e grupos de direitos humanos.
Mas familiares de vítimas alegam que a lei ainda permitirá que os homicidas fiquem impunes e hoje membros do grupo `Relatives for Justice` (`Familiares pela Justiça`) carregaram um caixão pelo centro de Londres com a palavra "Justiça", antes de entregar uma carta aberta na residência do primeiro-ministro, em Downing Street.
"Os beneficiários são as pessoas que carregaram nos gatilhos e puseram as bombas", disse o presidente da `Relatives for Justice`, Mark Thompson, cujo irmão Peter foi morto a tiro por soldados britânicos em Belfast em 1990.