Fernando Rosas defende que a Alemanha beneficiou de acordo que é a "oposição" da atual troika

por Christopher Marques, RTP

Em entrevista ao Jornal 2, o historiador Fernando Rosas fez uma breve síntese histórica quanto ao fim dos dois grandes conflitos do século XX e às reparações de guerra a eles associados. O ex-candidato à presidência da República considera que a República Federal da Alemanha saiu beneficiada pelo clima de Guerra Fria que rapidamente se instalou no fim da Segunda Guerra Mundial.

O historiador Fernando Rosas considera que o tratamento dado às dívidas soberanas dos países periféricos é o oposto do que foi proporcionado à Alemanha no fim da Segunda Guerra Mundial.

Fernando Rosas explica que, depois de uma primeira conferência “muito complicada” no pós-guerra, houve uma segunda conferência que acabou por ser positiva para os germânicos.
Pelos cálculos do Tribunal de Contas da Grécia, a Alemanha deve 278,7 mil milhões de euros em reparações de guerra. Indemnizações que dizem respeito à ocupação da república helénica pela Alemanha nazi entre 1941 e 1944. A Alemanha mantém que esta é uma questão que já está fechada
Este é um encontro em que é definida a dívida total da Alemanha, incluindo a que vinha do pré-guerra, nomeadamente da Primeira Guerra Mundial, e as do Plano Marshall. A dívida total alemã é fixada em 32 mil milhões de marcos, explica Fernando Rosas.

“É um acordo que é a oposição do está a fazer a troika atualmente. É um acordo que perdoa 50 por cento da dívida da Alemanha, parcela a dívida por um período de 30 anos em matéria de pagamento e há uma parte da dívida que pode ser paga para lá de 30 anos”, afirmou na entrevista conduzida por João Fernando Ramos.

“O serviço da dívida, em circunstância nenhuma, podia ultrapassar os cinco por cento das exportações, por forma ao país poder aplicar o grosso do rendimento da exportação no desenvolvimento económico”, continua Rosas, que foi um dos fundadores do Bloco de Esquerda.Para o historiador, o acordo de 1953 fez com que dez milhões de trabalhadores escravos do Terceiro Reich não fossem indemnizados e com que a maioria dos países ocupados e destruídos pelas forças nazis ficassem sem direitos de indemnização.

Fernando Rosas acrescenta mesmo que se previa a suspensão deste regime de pagamento em caso de dificuldades económicas. O historiador realça as diferenças entre o acordo da Alemanha à época e a atual crise das dívidas soberanas.

“Este é um regime que a própria Alemanha não vai nem aplicar, nem reconhecer, nem validar no presente momento para os países periféricos com dívidas soberanas como têm Portugal, a Grécia e a Irlanda."

"É uma radical mudança de posição”, afirma Rosas.
Primeira Guerra Mundial
A Alemanha também saiu como derrotada da Primeira Guerra Mundial. Fernando Rosas recorda ainda que, mesmo no fim deste conflito global, a solução alemã passou pela injeção de capital que pudesse proporcionar crescimento económico. Uma forma que previa que os germânicos pudessem assim pagar a dívida e estabilizar a sua situação.

“Há uma situação entre 1924 e 1929, até à grande depressão, em que os nazis praticamente desaparecem de cena porque a economia está bem e o desemprego recupera”, refere Rosas.

Uma situação que ficou comprometida com a crise de 1929, tendo a Alemanha suspendido unilateralmente o pagamento da dívida em 1930, continua o historiador.
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