Manfred Weber desistiu da sua candidatura a Presidente da Comissão Europeia, abrindo caminho a um acordo para a distribuição dos altos cargos europeus.
Será a alemã Ursula von der Leyen a ocupar a presidência da Comissão Europeia, anunciou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
A ministra alemã da Defesa, muito próxima da chanceler Angela Merkel, torna-se assim a primeira mulher a ocupar o cargo.
Também o PPE, que presidiu à Comissão ao longo dos últimos 15 anos e que venceu as eleições europeias de maio, canta vitória, ao manter o mais 'desejado' dos cargos em negociação.
Os socialistas já exprimiram a sua deceção com a distribuição dos cargos.
A nomeação de Ursula von der Leyen foi uma surpresa e pode criar problemas à coligação que governa a Alemanha, já que os social-democratas se opuseram à escolha.
Entre os líderes europeus recebeu contudo apoio unânime, conforme referiu aos jornalistas em Bruxelas a chanceler Angela Merkel, que revelou ter sido a única a abster-se.
"Para a posição da presidente da Comissão, Ursula von der Leyen foi nomeada por unanimidade, com uma abstenção", disse Merkel. "Esta abstenção foi, seguindo as regras alemãs de votação, minha", sublinhou. A coligação que ela lidera na Alemanha havia decidido que, em caso de desacordo na nomeação, ela se absteria.
Pessoalmente, contudo, Merkel era favorável à escolha de von der Leyen e diz ter-se congratulado com a decisão.
BCE será interregno para Lagarde
Anunciado pelo presidente do Conselho Europeu, o compromisso foi alcançado ao fim de uma `maratona` negocial, que se prolongou em Bruxelas ao longo de três dias, desde as 18:00 de domingo (menos uma hora em Lisboa).
Christine Lagarde, francesa, e até agora diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, FMI, substitui Mario Draghi à frente do Banco Central Europeu.
Em comunicado emitido pelo FMI, Lagarde afirmou sentir-se "honrada" com a nomeação para a presidência do BCE, e anunciou que, após consulta e aprovação do Comité de Ética do Conselho de Administração do Fundo, irá abandonar temporariamente as suas responsabilidades no FMI, enquanto estiver à frente do BCE.
Destaque também para a nomeação do primeiro-ministro belga em funções, o liberal Charles Michel, para a presidência do Conselho Europeu.
Por sua vez, o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, o socialista Josep Borrell, foi nomeado como Alto Representante da UE para a Política Externa, substituindo Federica Mogherini.
A desistência de Weber
Manfred Weber, um social-cristão próximo de Merkel, tinha sido escolhido pelo Partido Popular Europeu, o PPE, como Spitzenkandidat, ou principal candidato à presidência da Comissão. O PPE, de centro-direita, manteve-se a principal força no novo Parlamento Europeu mesmo consideravelmente enfraquecida pelo avanço de partidos considerados populistas de direita, nas recentes eleições de maio.
"A minha jornada como Spitzenkandidat começou aqui e termina aqui", disse Weber aos deputados do PPE, na sessão inaugural da nova Assembleia da União Europeia em Estrasburgo, França.
A desistência de Weber abriu caminho para os líderes do centro-direita, incluindo Merkel, e seus deputados, apoiarem um acordo alcançado por todos os líderes dos 28 Estados-membros esta terça-feira.
A proposta das nomeações tem ainda de ser aprovada no Parlamento Europeu (PE), que deverá eleger esta quarta-feira o seu presidente.
O primeiro-ministro, António Costa, disse esperar que o Conselho Europeu não tenha subavaliado a importância e a capacidade de decisão do Parlamento Europeu, ao indicar Ursula von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia.
"Este processo tem várias fases, esta foi só a primeira fase, em que o Conselho tem de propor ao Parlamento (um candidato). Agora temos de ver qual a reação do PE ao conjunto destas propostas. Espero que o Conselho não tenha subavaliado a importância do PE e da sua capacidade de decisão", manifestou.
"Esta proposta é extremamente dececionante para nós", reagiu entretanto Iratxe Garcia, líder do S&D, Socialistas e Democratas, numa declaração.
"Este processo tem várias fases, esta foi só a primeira fase, em que o Conselho tem de propor ao Parlamento (um candidato). Agora temos de ver qual a reação do PE ao conjunto destas propostas. Espero que o Conselho não tenha subavaliado a importância do PE e da sua capacidade de decisão", manifestou.
"Esta proposta é extremamente dececionante para nós", reagiu entretanto Iratxe Garcia, líder do S&D, Socialistas e Democratas, numa declaração.
"O
nosso grupo manteve-se firme na defesa da democracia na Europa e do
processo Spitzenkandidat, ou do principal candidato, e não queremos que
desapareça", acrescentou.
Apontando o dedo à Polónia, Hungria e Itália, Iratxe Garcia referiu também que considera "inaceitável que governos populistas representados no Conselho afastem o melhor candidato apenas porque ele defendeu o primado da lei e os nossos valores europeus comuns".
No fim-de-semana, os líderes europeus estiveram à beira de um consenso que, por proposta de França, Espanha e Alemanha, com apoio português, iria colocar um socialista holandês, FransTimmermans, como Presidente da Comissão. Os países do leste europeu e a Itália rejeitaram a proposta.
c/agências