General português quer alargar treino da missão europeia a Cabo Delgado

por Lusa

O comandante da Missão de Treino militar da União Europeia em Moçambique (UETM) considera que "faz todo o sentido" que ações de formação das Unidades de Reação Rápida sejam realizadas no norte de Moçambique, em Cabo Delgado.

"Há questões de natureza política, e um comandante militar só tem que executar o que é decidido. Mas, para nós, que estamos aqui como executores, o "train as you fight" -- treinar como se combate -- é fundamental. Portanto, estar próximos, saber e sentir as verdadeiras necessidades de quem formamos faz todo o sentido", disse em entrevista à Lusa o brigadeiro-general português Nuno Lemos Pires.

O diretor-geral do Pessoal Militar da União Europeia (EUMS) e responsável máximo das missões militares da UE, vice-almirante Hervé Blejean, reafirmou no início de maio em declarações à Lusa uma vontade já expressa a eurodeputados em janeiro de levar para Cabo Delgado o treino e aconselhamento da UE, que está sedeado nas bases de Catembe e Maputo, dois mil quilómetros a sul (no extremo oposto a Cabo Delgado), e também no Chimoio, centro de Moçambique.

"Estamos completamente disponíveis para o que a UE e Moçambique entenderem como necessário. Cumpriremos de qualquer forma. Treinamos a partir de localizações mais remotas, como na linha frente. Estamos habituados a estar na linha da frente quando é preciso", reafirmou à Lusa Lemos Pires

O comandante da missão começou por sublinhar que "não se pretende deslocar a UETM para norte", mas sim "incluir Cabo Delgado na área da missão da UE", permitindo que, "quando necessário", o treino possa ser feito nessa província, alvo de ataques de extremistas islâmicos.

A formação das 11 unidades das Forças de Reação Rápida (FRR) moçambicanas -- fuzileiros e comandos - continuará a ser feita nas três unidades militares até agora utilizadas para o efeito, mas o alargamento da área de missão permitiria, por exemplo, que, quando Moçambique receber os equipamentos militares que a UE deverá começar a enviar "nos próximos meses", o "refrescamento" da formação das unidades já deslocadas em Cabo Delgado possa ser feito "in loco", em vez de essas unidades se deslocarem a sul.

Num balanço feito sobre o trabalho feito pela UETM em cerca de oito meses, general português sublinhou que o dispositivo europeu está "a tentar e a conseguir cumprir o que foi acordado entre a União Europeia (UE) e Moçambique", mas "o caminho faz-se caminhando. Estas coisas de montar uma missão completamente nova no terreno têm os seus trâmites, têm os seus tempos".

Neste momento, a missão conta com efetivos de Portugal, Espanha, França, Bélgica, Grécia, Áustria, Roménia, Finlândia, Lituânia e Estónia. No próximo mês, vão chegar um militar da Suécia e começarão a chegar cinco militares de Itália.

"Em setembro de 2021 tínhamos aqui 10 militares portugueses e hoje somos, ao todo, 110 efetivos no terreno, entre os quais 65 portugueses, o que mostra bem o compromisso da UE em relação a esta missão", acentuou.

"Só posso dizer que estou muito satisfeito com o empenho, com o interesse crescente demonstrado pelos vários países da UE. Esta unanimidade europeia em torno desta missão, que se transmite para o terreno através da presença efetiva de militares e civis já de 10 países -- em breve 12 --, tem sido fantástica", afirmou o oficial português.

Neste momento, no total, quatro unidades de FRR estão formadas e em maio começou o treino de mais duas unidades de fuzileiros e de comandos, com apoio de controladores aéreos avançados da Força Aérea.

"Isto está a decorrer conforme previsto, com grande empenho das Forças de Defesa e de Segurança (FDS) de Moçambique", sublinhou.

Entretanto, a UE vai começar a fornecer a Moçambique cerca de 89 milhões de euros em equipamentos. O seu "processo de aquisição pela UE - embora muito moroso e que não acompanha o ritmo do processo de treino - está a decorrer, e espera-se que, em breve, nos próximos meses, comecem a chegar os primeiros materiais", disse.

O comandante da UETM avaliou, por outro lado, como "excelente" a cooperação entre as cinco missões não-executivas de treino militar ativas em Moçambique - Estados Unidos, União Europeia, França Portugal e o Reino Unido -, que "desde o princípio" se articulam regularmente para discutir "formas de melhor cooperar" com as FDS de Moçambique.

"Entretanto, já alargámos estas reuniões [regulares] às forças do Ruanda e da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique (SAMIM), lideradas neste momento pela África do Sul, com a presença das FDS", acrescentou.

O militar destacou igualmente a importância da "abordagem integrada" que caracteriza a intervenção no país da União Europeia, que, se "investe em termos de segurança e defesa, investe muito mais ainda em projetos de desenvolvimento em Cabo Delgado".

"Trabalhamos diariamente com o pessoal da delegação da UE para garantirmos que existe um planeamento cruzado" entre atividades de desenvolvimento económico, educação, cultura em Cabo Delgado, e as intervenções na área da segurança, disse.

"Não há segurança sem desenvolvimento", reforçou.

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