Governador de Nova Iorque assediou 11 mulheres, conclui inquérito independente

por Andreia Martins - RTP
Reuters

Uma investigação concluiu na terça-feira que o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, assediou sexualmente várias mulheres entre 2013 e 2020. Em conferência de imprensa na Casa Branca, o Presidente dos Estados Unidos defendeu que o governador democrata deve renunciar ao cargo. Cuomo continua a desmentir todas as acusações.

Um relatório divulgado na terça-feira pela procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James, corrobora as acusações de 11 mulheres contra o governador Andrew Cuomo. A investigação, levada a cabo durante cinco meses, confirma as acusações de assédio, desde abraços e beijos indesejados até toques e comentários impróprios.

"O inquérito independente concluiu que o governador Andrew Cuomo assediou sexualmente várias mulheres e, ao fazê-lo, violou a lei federal e a do estado", adiantou a procuradora Letitia James.

O documento descreve com detalhe os comportamentos desadequados do governador, acusando Cuomo de fomentar uma cultura de trabalho “tóxica”, de medo e de intimidação, que proporcionou os casos de assédio e criou “um ambiente de trabalho hostil”.

De acordo com o inquérito civil, o governador e membros da equipa "adotaram medidas de represálias dirigidas a pelo menos uma funcionária, por ter testemunhado" contra Cuomo.

O relatório com 168 páginas conta com entrevistas a 179 pessoas e a obtenção de 74 mil provas. São descritas as alegações de 11 denunciantes, com “grande detalhe”. Todas consideraram que o comportamento de Andrew Cuomo foi “perturbador, humilhante incómodo e inapropriado”.

“A investigação independente apurou que o governador Cuomo assediou várias mulheres (...) com apalpões indesejados, beijos, abraços e comentários inadequados. Eu acredito nestas mulheres”, afirmou a procuradora Letitia James.
"Nunca toquei em ninguém de forma imprópria"

O governador Andrew Cuomo, político que ganhou destaque e popularidade em 2020 na luta contra a pandemia, veio desmentir todas as acusações, como tem feito aliás nos últimos meses, desde que as primeiras denúncias vieram a público. 

"Nunca toquei em ninguém de forma imprópria ou tomei iniciativas inapropriadas em termos sexuais", afirmou numa declaração de vídeo de 14 minutos, sem admitir a possibilidade de demissão.

“Tenho 63 anos. Vivi toda a minha vida adulta à vista de todos. Eu não sou essa pessoa, e nunca fui assim", asseverou. Desde março, altura em que foram divulgadas as primeiras acusações, Andrew Cuomo tem negado tudo.

O governador considerou ainda que o relatório foi elaborado por “motivações políticas” e que os factos declarados “são muito diferentes do que foi descrito”.



Cuomo referiu também que as acusações têm por base uma interpretação errada de gestos, palavras e conduta, argumentando que a sua intenção foi sempre no sentido de transmitir cordialidade e proximidade.

No entanto, o relatório rejeita esta mesa possibilidade. A defesa do governador tinha argumentado que a conduta se devia a um reflexo inofensivo da cultura italo-americana em que nasceu e cresceu, mas os investidores consideraram esta hipótese pouco credível.

“O que estas testemunhas – e muitas outras – descreveram não se trata apenas de um comportamento antiquado e afetuoso. Trata-se de assédio sexual”, conclui o relatório.
Biden e democratas apertam o cerco
Governador eleito pelo Partido Democrata, em funções desde 2011, Andrew Cuomo está a ser alvo de fortes críticas e pedidos de demissão dentro do próprio partido, com destaque para o próprio Presidente Joe Biden.

“Acho que ele deve demitir-se”, afirmou o Presidente dos Estados Unidos, durante uma conferência de imprensa na Casa Branca, em Washington.

Amigo de longa data do governador, Joe Biden já tinha indicado em março que, se as investigações confirmassem a veracidade das alegações, Andrew Cuomo deveria demitir-se.

Também a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, se juntou ao coro cada vez mais significativo de personalidades políticas que exigem um pedido de demissão.

Numa declaração conjunta, os governadores democratas de outros Estados vizinhos - Nova Jérsia, Pensilvânia, Rhode Island e Connecticut – assumem-se chocados com as conclusões da investigação e defendem também que Andrew Cuomo deve renunciar ao cargo.

Carl Heastie, porta-voz dos democratas na Assembleia estadual Nova Iorque, controlada por esse mesmo partido, lançou um inquérito para o impeachment do governador em março último. O responsável afirmou na terça-feira que o governador "perdeu a confiança da maioria democrata na Assembleia" e que "não pode continuar no cargo".

A Assembleia de Nova Iorque - com 150 deputados, 106 democratas - poderá agora impugnar Andrew Cuomo por "má conduta ou malversação". São necessários 76 votos para confirmar a destituição do governador.
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