Governador republicano acusa Trump de proximidade com "ditadores" e "supremacistas brancos"

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

O governador do Nebrasca, Ben Sasse, fez duras críticas ao presidente dos Estados Unidos durante uma videoconferência com eleitores. O republicano acusou Donald Trump de não ter sabido lidar com a pandemia da covid-19, de maltratar as mulheres, de se aproximar dos ditadores e de "flirtar com supremacistas brancos".

O governador do Nebrasca, em resposta às perguntas de um cidadão sobre o seu relacionamento com Donald Trump e em referência acríticas que já tinha feito anteriormente ao presidente norte-americano, não poupou o candidato republicano à Casa Branca com novas acusações.

Numa gravação a que o jornal Washington Examiner teve acesso, Ben Sasse começa por criticar a política externa de Trump, a gestão da covid-19 no país e acusa o presidente de ter "valores deficientes". Segundo o também republicano, Donald Trump tinha maltratado mulheres e alienado alguns aliados importantes em todo o mundo, esbanja dinheiro, ignora os direitos humanos e além disso tratou a pandemia como uma "crise de relações públicas".

"A maneira como ele beija o traseiro dos ditadores. Quer dizer, a maneira como ele ignora a situação dos uigures que estão literalmente em campos de concentração em Xinjiang, neste momento. Ele não levantou um dedo em nome dos habitantes de Hong Kong", acusou Ben Sasse, em resposta à pergunta "Porque é que o critica tanto?" de um dos eleitores.

E continuou, explicando a má relação que tem com Donald Trump, com a afirmação de que "os Estados Unidos agora vendem regularmente os aliados sob a sua liderança".

"A maneira como ele trata as mulheres e gasta como um marinheiro bêbado. Da mesma forma que critiquei o presidente Obama por este tipo de gastos, também critiquei o presidente Trump. Ele goza com evangélicos nas costas, à porta fechada. E a sua família viu na presidência uma oportunidade de negócio"
.

Além disso, segundo Sasse, Trump "flirtou com os supremacistas brancos".

Na opinião do governador, Donald Trump ofende os eleitores de forma tão descarada que podia provocar um "banho de sangue republicano" no Senado.

"Não lamento por ter lutado pelos meus valores contra os dele em lugares onde acho que os dele são deficientes, não apenas para um republicano, mas para um americano", disse.



Relativamente à forma como a Administração Trump geriu a crise de saúde da covid-19, Ben Sasse afirmou que Trump se recusou a levar a pandemia a sério desde o início, tratando-a como se fosse uma crise de relações públicas e não uma crise de saúde pública.

O governador do Nebrasca criticou, neste caso, também a comunicação social: "Acho que muitos meios de comunicação fingiram que a covid-19 é literalmente a primeira crise de saúde pública de todos os tempos. E de alguma forma, é culpa de Donald Trump. Isso não é verdade. Eles só queriam usá-la contra ele".

E acrescentou: "Mas a realidade é que ele cambaleou nesta questão. Primeiro, ignorou a covid. E depois entrou em modo de paralisação económica total. Foi ele quem achou que um período de 10 a 14 dias de paralisação resolveria esta crise. E isso sempre foi errado. Quer dizer, eu não acho que a forma como ele está a gerir a covid esteja a ser razoável ou responsável, ou certa".
Governador republicano admite derrota de Trump em novembro

Na longa resposta de mais de nove minutos, Ben Sasse referiu-se ainda à política de Donald Trump e à possibilidade de o candidato republicano não ganhar as eleições presidenciais de 3 de novembro.

A apenas três semanas do dia das eleições, o governador republicano considera "provável" que Trump não seja novamente eleito para a presidência dos EUA e que os republicanos possam vir a sofrer repercussões por o terem apoiado tão firmemente nos últimos quatro anos. Ben Sasse disse ainda temer que Trump e as suas "estúpidas obsessões políticas" pudessem levar o país ainda mais para a esquerda.

E, explicou, isto poderá acontecer "se os jovens se tornarem democratas permanentes porque acabaram de sentir repulsa pela natureza obsessiva da nossa política, ou se as mulheres que ainda quiseram votar no Partido Republicano em 2016 decidirem que precisam de se afastar deste partido permanentemente futuro".

Seguidamente, acrescentou ainda: "A questão não devia ser: 'Ben Sasse, por que foi tão mau com Donald Trump?' Devia ser: 'Em que raio estava qualquer um de nós a pensar, quando achámos que vender um indivíduo narcisista e obcecado pela TV ao povo americano era uma boa ideia?'".

"Passei grande parte do ano passado num autocarro de campanha, e quando se ouvia população do Nebrasca, vemos que realmente não querem mais 'tweets' de raiva como uma nova forma de entretenimento", disse ainda.

"Acho que o principal motivo que explica que o presidente Trump tenha vencido em 2016 foi simplesmente porque Hillary Clinton foi literalmente a candidata mais impopular da história".

Segundo Sasse também pode haver consequências mais drásticas como um Supremo Tribunal "ao estilo da Venezuela" com dezenas de juízes instalados por democratas em ascensão, uma China com poder para governar o Pacífico por causa das políticas "fracas" de Trump, e ainda aliados dos norte-americanos com dúvidas sobre se podem "confiar na força e na vontade dos EUA".

Sasse, que se candidata à reeleição a 3 de novembro, revelou as suas preocupações ao público, num momento em que os republicanos estão cada vez mais preocupados com a eventualidade de uma possível derrota de Trump também prejudicar os republicanos no Senado.

Ben Sasse tem sido um dos governadores republicanos mais críticos de Donald Trump, embora nos últimos meses tenha sido mais brando. O governador do Nebrasca relembrou ainda que em 2016 não apoiou a candidatura de Donald Trump à Casa Branca.

"Este tem sido o meu medo há cinco anos", disse Sasse na mesma videoconferência. "É por isso que fiz campanha para todos os que não foram apoiantes de Trump em 2016".
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