Governo escocês quer referendo sobre a independência em 2020

por Joana Raposo Santos - RTP
O Governo acredita que a independência ofereceria à Escócia a oportunidade de "ser uma ponte entre a UE e o Reino Unido" Russell Cheyne - Reuters

A primeira-ministra e líder do Partido Nacional Escocês, Nicola Sturgeon, defendeu esta terça-feira que a Escócia deve realizar um referendo sobre a independência já em 2020 e garantiu que o país irá em breve requerer os poderes necessários para o fazer legalmente.

“O nosso trabalho é garantir a independência. O meu apelo é que o referendo aconteça no próximo ano”, declarou Sturgeon. “Antes do final deste ano, vou exigir a transferência de poderes que não deixará dúvidas quanto à legalidade de um referendo”.

Para a líder do Partido Nacional Escocês, a independência ofereceria à Escócia a oportunidade de “ser uma ponte entre a União Europeia e o Reino Unido”, tornando o país “um íman para o investimento global”.Quando, em 2016, o Reino Unido votou maioritariamente a favor da saída da UE, a Escócia votou para ficar.

“A Escócia é rica o suficiente, forte o suficiente e grande o suficiente para que possa ocupar o seu lugar entre as nações orgulhosas e independentes do mundo”, defendeu, durante uma conferência do Partido Nacional Escocês.

Nicola Sturgeon disse estar “farta do Brexit” e defendeu que o Reino Unido possui um sistema político falhado que impõe políticas à Escócia contra a sua vontade.

Para que um referendo possa ser levado a cabo de forma legal, a Escócia precisa da permissão do Governo britânico, algo que poderá ser difícil de alcançar uma vez que Boris Johnson acredita que seria “totalmente errado” realizar outro referendo.
Referendo de 2014
O povo escocês rejeitou a independência num referendo em 2014, mas o Partido Nacional Escocês alega agora que a decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia leva a que a questão da independência seja revisitada.

Em 2014 a margem de derrota foi curta, com 55,30 por cento a votarem contra a independência e 44,70 por cento a favor. Na altura, o governo escocês não obteve apoio por parte da União Europeia, que fez questão de frisar que uma posterior adesão da Escócia à UE seria um processo difícil e demorado.

Atualmente o cenário é bastante diferente, com a maioria das capitais europeias a considerar que, caso um referendo na Escócia seja legal e constitucionalmente válido, o país poderá obter a independência e depois iniciar o processo de adesão à UE.
Críticas a Johnson e Trump
Nicola Sturgeon atacou ainda “os chamados líderes fortes” como Boris Johnson e Donald Trump e apelou aos membros do partido que façam frente ao populismo.

Aqui no Reino Unido temos um primeiro-ministro que atuou contra a lei e que não demonstrou preocupar-se com as consequências humanas da sua desastrosa política do Brexit. Do outro lado do Atlântico, o atual líder da Casa Branca permitiu casualmente que uma guerra no Médio Oriente fosse reacendida”, constatou.

“Aquilo que líderes como Boris Johnson e Donald Trump têm em comum é o seguinte: a crença de que nada deve impedir os seus próprios interesses”, acrescentou Sturgeon. “Nem factos ou provas, nem a lei, nem a democracia. Em alguns casos, nem os direitos humanos básicos”.
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