Grécia pode ir para eleições em setembro ou outubro

por Graça Andrade Ramos - RTP
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e os ministros das Finanças, Euclid Tsakalotos, e da Justiça, Nikos Paraskevopoulos, durante a discussão de novas medidas de austeridade Yiannis Kourtoglou - Reuters

A aprovação do segundo pacote de medidas de austeridade pelo Parlamento grego acentuou a divisão interna do Syriza, apesar das pressões de Alexis Tsipras, e o cenário de eleições antecipadas na Grécia parece cada vez mais provável. Alguma imprensa grega já aponta datas, 13 ou 20 de setembro, apesar de o Executivo grego ter negado estar a preparar esse cenário - para já.

Analistas como Michael Michaelides, da RBS, afirmam igualmente que, logo que as negociações para o terceiro resgate estejam concluídas, a marcação de novas eleições será quase inevitável. Michaelides aponta outubro como mês mais provável.

Outro cenário que admite consenso é uma nova remodelação governamental.

Para já as preocupações do Executivo grego são outras. Na segunda-feira a porta-voz do Governo de Atenas garantiu à agência grega de notícias que a prioridade do Governo de Tsipras é "finalizar o acordo com a UE e restaurar a normalidade e estabilidade".

Olga Yerovasili afastou igualmente o cenário de eleições antecipadas pois estas "não são úteis neste momento e o Governo não tem qualquer intenção de as organizar".

O problema será manter a estabilidade interna no Syriza durante as negociações. Para já, Tsipras mantém a liderança da maioria do partido e o apoio da oposição às reformas tem-lhe permitido fazer passar as exigências da União Europeia em troca de sustentação financeira.

Um cenário que pode mudar, deixando o Syriza à beira da perda de legitimidade parlamentar. Há uma semana, na votação do primeiro pacote de medidas de austeridade, o Syriza ficou com apenas 123 deputados dos 120 necessários para formar Governo e, apesar da desobediência à disciplina de voto de 39 deputados os obrigar a renunciar aos seus cargos, nenhum o fez.
Possibilistas vs Ideólogos
Um novo Congresso poderá ser marcado após as negociações para o terceiro resgate e deverá consagrar a divisão, admite El País.

De acordo com o diário espanhol, antes da votação do segundo pacote de medidas de austeridade, Alexis Tsipras deu um murro na mesa e enfrentou os dissidentes do seu partido, fazendo uma ameaça velada de limpeza interna.

Numa mensagem interna, divulgada na noite de terça-feira, Tsipras acusou-os mesmo de proferir "demasiadas mensagens heroicas" sem propor alternativas viáveis àquilo que chamam "um golpe de Estado" do Executivo.

A votação da madrugada - que só ficou concluída às 4h00 locais - mostrou que a rebelião interna se mantém, já que 36 deputados do Syriza voltaram a desafiar a disciplina partidária e abstiveram-se ou votaram contra o pacote de medidas imposto pelos credores e aceite - a contra-gosto - por Tsipras.

O Syriza está dividido entre possibilistas - a maioria que apoia Tsipras - e ideólogos, a fação mais radical do partido, encabeçada pelo ex-ministro das Finanças, Yannis Varoufakis, o ex-ministro da Energia Panayotis Lafazanis e a presidente do Parlamento, Zoi Konstandopulu, que se mantém no cargo.

Varoukakis foi um dos deputados que mudou o seu sentido de voto e que, desta vez, votou ao lado do primeiro-ministro.
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