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Guaidó critica expulsão de eurodeputados pelo “regime isolado e irracional”

por RTP
Marco Bello - Reuters

Juan Guaidó, autoproclamado Presidente interino da Venezuela, criticou a expulsão de cinco eurodeputados do país, no domingo, atribuindo a decisão a um “regime isolado e cada vez mais irracional”.

Uma delegação do Parlamento Europeu, que tinha sido convidada pela Assembleia Nacional venezuelana a visitar o país, foi impedida de entrar no país e obrigada a apanhar um voo de regresso a Madrid.

“Exercemos toda a pressão necessária para pôr fim a esta usurpação. Vamos Continuar!”, escreveu Guaidó na rede social Twitter, depois da delegação do parlamento Europeu ter sido impedida de entrar no país.

Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional que se autoproclamou presidente interino no dia 23 de janeiro, é reconhecido por cerca de 50 países, entre eles os Estados Unidos, sem ter as alavancas do poder executivo.

Num vídeo gravado no Aeroporto Internacional Simón Bolívar de Maiquetía, o principal aeroporto do país, um dos membros da delegação europeia e porta-voz do Partido Popular espanhol Esteban Gonzalez Pons, afirmou que as autoridades venezuelanas não justificaram a decisão.

"Estamos a ser expulsos da Venezuela: os nossos passaportes foram confiscados, não nos foi comunicado o motivo da expulsão, nem temos um documento que justifique a nossa expulsão do país", disse.


"Somos a primeira delegação internacional a visitar o Presidente interino Juan Guaidó. A questão não é que não possamos entrar, mas que o Presidente interino não possa ver nenhuma autoridade estrangeira na Venezuela", lamentou.

A delegação estava composta pelos eurodeputados Esteban González Pons, José Ignácio Salafranca Sánchéz-Neyra e Juan Salafranca.

Dela fazia parte também o eurodeputado português Paulo Rangel, que perdeu o voo de ligação entre Madrid e Caracas.


O eurodeputado português, na Antena 1, contou que ia juntar-se a esta delegação mas devido ao congestionamento do tráfego aéreo em Madrid não conseguiu voar para Caracas.

Conta o eurodeputado do PSD que os colegas de Bruxelas viram o passaporte retido e têm guia de marcha para a Europa.

A expulsão dos eurodeputados foi denunciada pelo deputado opositor Francisco Sucre, através da sua conta oficial no Twitter, onde afirma que a delegação já tinha chegado ao Aeroporto Internacional Simón Bolívar de Maiquetía (norte de Caracas), o principal do país.

"Queremos alertar a opinião pública nacional e internacional que o regime usurpador de Nicolás Maduro acaba de proibir a entrada na Venezuela de uma delegação de eurodeputados que vieram a convite da Assembleia Nacional da Venezuela e do seu presidente Juan Guaidó", escreveu.

Segundo Francisco Sucre, a decisão das autoridades venezuelanas foi um "novo atropelo contra a liberdade e a democracia".

"Proíbem a entrada aos eurodeputados e retêm os seus passaportes sem razão ou explicação alguma, o que é um abuso de força de um regime que recorre à força para aferrar-se ao poder", sublinhou.

Francisco Sucre publicou ainda um vídeo, em que explica que os deputados mostraram às autoridades uma carta com o convite feito pela presidência da Comissão de Política Exterior do Parlamento, mas que obtiveram como resposta: "isso não vale nada".


A Colômbia, que reconheceu Guaidó como Presidente interino da Venezuela, a 23 de janeiro, não tardou a responder à expulsão dos deputados.


"O Governo da Colômbia repudia que a ditadura tenha impedido a entrada na Venezuela de membros da delegação do Parlamento Europeu. Muito em breve, o país irmão voltará a ter democracia e liberdade", escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Carlos Holmes Trujillo, também no Twitter.
Delegação do PE notificada “há vários dias”
Entretanto o ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano revelou que a delegação do Parlamento Europeu (PE) que foi impedida de entrar na Venezuela tinha sido notificada "há vários dias" de que "não seria admitida" no país.

"Por vias oficiais e diplomáticas, as autoridades do Governo Bolivariano da Venezuela, notificaram, há vários dias, o grupo de eurodeputados que pretendia visitar o país com fins conspirativos, que não seria admitido", escreveu Jorge Arreaza, na sua conta oficial da rede social Twitter.

Segundo o ministro venezuelano, as autoridades da Venezuela "instaram" os deputados "a desistir" da visita "e evitar assim outra provocação".

“O Governo constitucional da República Bolivariana da Venezuela não permitirá que a extrema direita europeia perturbe a paz e a estabilidade do país com outra das suas grosseiras ações ingerencistas. A Venezuela se respeita!", escreveu Jorge Arreaza numa outra mensagem.

O regime de Nicolás Maduro, apoiado pela Rússia, China, Turquia, Irão e Cuba, controla as fronteiras do país.
Acampamentos acolhem milhares de pessoas
A oposição venezuelana instalou uma dezena de acampamentos por todo o país, nos quais acolheu milhares de pessoas a quem assegura ajuda humanitária, que está armazenada na Colômbia e que espera que entre em território venezuelano no dia 23.

O deputado Winston Flores disse, domingo, aos jornalistas, citado pela agência Efe, a partir de um destes acampamentos, no bairro Macarao, em Caracas, que o dia de hoje se caracterizou pela “classificação” de doenças entre a população mais vulnerável, principalmente crianças e idosos.

“É um trabalho essencial para que tenhamos esta ponta de lança do que será a avalanche humanitária a 23 de fevereiro, quando entrar essa ajuda humanitária, em massa, de que tanto necessitam os venezuelanos”, afirmou.Os primeiros dados recolhidos neste acampamento de Caracas mostraram que as doenças de pele, diabetes, hipertensão, Parkinson, osteoporose e desnutrição – esta última em crianças – são as doenças que mais afetam os que para ali se deslocaram.

De acordo com Winston Flores, nos acampamentos humanitários trabalham de forma voluntária centenas de médicos, psicólogos, nutricionistas e voluntários dos partidos políticos da oposição, bem como parte dos mais de 600 mil voluntários de uma rede que irá trabalhar na entrada das doações.

No entanto, assinalou que este esforço foi “curto” devido à “magnitude das necessidades que existem”.

Nesse sentido, pediu aos militares que permitissem a entrada das ajudas perante as reiteradas recusas do Governo do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, a aceitá-las.

Também domingo, o senador norte-americano Marco Rubio pediu em Cúcuta, na Colômbia, cidade onde está armazenada a ajuda, à Guarda Nacional Bolivariana que “tome a decisão correta” e permita a entrada na Venezuela da ajuda humanitária proveniente dos Estados Unidos.

“É um crime internacional, um crime contra a Humanidade, isso é muito claro e que tomem a decisão correta”, defendeu.

Nicolás Maduro disse na semana passada que os alimentos doados pelos Estados Unidos são um “presente podre”, que tem o “veneno da humilhação”, enquanto a sua vice-presidente, Delcy Rodríguez, afirmou, sem mostrar provas, que são “cancerígenos”.

Perante isto, Winston Flores respondeu que “a única comida contaminada que chegou à Venezuela” é distribuído pelo Governo no programa de ajudas conhecido como Clap e que, segundo o parlamento, que controla o anti-chavismo, causou perdas económicas milionárias sobre custos e corrupção.Na segunda região mais importante do país, o estado de Zulia (na zona oeste, na fronteira com a Colômbia), a parlamentar da oposição Nora Bracho assinalou, a partir de outro acampamento, que os venezuelanos atravessam “momentos muito duros”, e pediu aos militares “que se ponham do lado dos mais necessitados” e permitam a entrada da ajuda.

A Venezuela vive grande instabilidade política desde 10 de janeiro passado, quando Maduro tomou posse após umas eleições que não foram reconhecidas como legítimas pela maioria da comunidade internacional.

A crise política agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Maduro, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas.

Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.

C/Lusa
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