Guerra aberta. Londres dá ordem de expulsão a 23 diplomatas russos e o Kremlin ameaça retaliar

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Stefan Wermuth, Reuters

Moscovo falhou esta terça-feira o ultimato lançado por Londres para avançar com uma explicação para o envenenamento do antigo espião Sergey Skripal e a sua filha em solo britânico. Da Rússia seguiu uma declaração de não envolvimento no episódio, o que não satisfez o governo britânico: a primeira-ministra Theresa May anunciou a expulsão de 23 diplomatas russos.

Em cima da mesa está também o fecho da delegação da televisão Russia Today, com o Kremlin a responder com a ordem de saída de todos os meios de comunicação ingleses em solo russo. Entretanto, está marcada para esta tarde uma reunião no Conselho de Segurança da ONU para discutir o assunto.

A Rússia voltou a negar qualquer relação com o envenenamento do antigo agente secreto russo Sergey Skripal e a sua filha, Julia Skripal, com um gás nervoso que supostamente será um tipo desenvolvido nos programas soviéticos, sublinhando que não admite a Londres uma acusação sem apresentação de provas concretas.

Moscovo admite cooperar com Londres na investigação do envenenamento, mas exige que lhe sejam para isso fornecidas amostras da substância encontrada em Sergey e Julia Skripal.

Face à recusa de Moscovo de responder ao ultimato lançado pela primeira-ministra Theresa May, a chefe do Governo britânico acaba de anunciar a expulsão de 23 membros do corpo diplomático russo no Reino Unido. A NATO pede a Moscovo que responda às questões colocadas por Londres, incluindo a "divulgação completa do programa Novichok", no âmbito do qual terá sido desenvolvido o gás nervoso usado no ataque a Sergey e Julya Skripal.

De acordo com a declaração de expulsão da primeira-ministra britânica, estes diplomatas serão na realidade membros não-declarados dos serviços de informações russos. Têm uma semana para abandonar o país.

No que parece o desenhar de uma nova guerra fria entre os dois países – mas que várias personalidades britânicas disseram já ser “uma coisa diferente”, “mas mais perigosa”, “imprevisível” – também o jornalismo e os media estão em cima da mesa para servir de arma de arremesso.

O regulador britânico para os meios de comunicação social avançou que a estação russa Russia Today poderá vir a perder a sua licença para o Reino Unido se o executivo de May determinar que Moscovo esteve por detrás do ataque à família Skripal. A resposta foi imediata, com Moscovo a avisar que esta decisão levaria à expulsão de todos os meios de comunicação inglesa que actualmente trabalham em solo russo.

“Nem um único media britânico trabalhará no nosso país se encerrarem a Russia Today”, ameaçou a porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov.

O chefe da diplomacia russa já veio esta quarta-feira lamentar que não haja progressos neste dossier. “Há apenas um regredir, não vejo qualquer progresso” neste caso, declarou Lavrov, para acrescentar que lamenta a atitude de Londres de lançar uma acusação sobre Moscovo que não é sólida nem séria.

Sergey Lavrov explicou ainda que Moscovo está em condições de fornecer uma resposta em dez dias, fosse o caso de as autoridades britânicas submeterem um requerimento oficial em linha com a convenção para as armas químicas. “Ao invés de submeterem esse pedido, a Grã-Bretanha preferiu continuar com a sua encenação política”, lamentou.

O diplomata russo argumentou ainda ser falsa a tese britânica de que ninguém além da Rússia tinha um motivo para tentar eliminar Sergey Skripal.

“Ainda ontem, tanto media russos como do ocidente produziram argumentos demonstrativos de que a Rússia não tinha um motivo [para eliminar Skripal] e que os únicos que poderiam ter tido um motivo para o fazer eram aqueles que querem continuar uma campanha de russofobia”, apontou Sergey Lavrov.
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