Guerra comercial. Juncker e Trump acertam trégua na frente europeia

por Carlos Santos Neves - RTP
O ministro alemão da Economia lançou-se ao Twitter para clamar um “avanço” Jim Lo Scalzo - EPA

Foi uma “grande concessão” por parte da Administração norte-americana. O presidente da Comissão Europeia resume assim o resultado mais concreto do encontro que manteve na quarta-feira, em Washington, com o Presidente dos Estados Unidos – a promessa de que não haverá taxas adicionais sobre automóveis importados do Velho Continente. A proclamar intenções de paz para a indústria, a energia e a agricultura, quer Donald Trump quer Jean-Claude Juncker dão como atenuado o braço-de-ferro das tarifas aduaneiras.

Declaradas as intenções, principiam as negociações. E o mesmo Presidente norte-americano que nos últimos meses fez subir a fasquia do protecionismo a altitudes históricas fala agora de um “grande dia” para o comércio livre. E de uma “nova fase” nas relações entre os Estados Unidos e a União Europeia, que chegou a arrumar na estante dos “inimigos” da América.
Trump afirmou que Estados Unidos e União Europeia vão concertar posições para uma reforça da Organização Mundial do Comércio.

Do encontro de quarta-feira – e da conferência de imprensa conjunta a partir dos jardins da Casa Branca -, sobressaem sobretudo as declarações de vontade. O alcance dos compromissos deverá ser talhado nas negociações que se seguirão à conversa entre Donald Trump e Jean-Claude Juncker.

Fontes de Bruxelas, citadas pelas agências internacionais, afiançam que não haverá qualquer nova tarifa aduaneira imposta pelo Governo Federal dos Estados Unidos a automóveis produzidos na Europa. Uma decisão que agradará sobretudo à Alemanha e aos seus construtores do sector.

Por outro lado, espera-se que a União Europeia comece desde já a importar “mais soja” da América. Ao mesmo tempo, a Administração Trump deverá rever as taxas impostas ao aço e ao alumínio europeus.

Numa quase imediata reação, o ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, lançou-se ao Twitter para clamar um “avanço” que “pode evitar uma guerra comercial e salvar milhões de empregos”.


Christine Lagarde, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, pronunciou-se em sentido análogo: “A economia mundial tira vantagem quando os países se empenham de forma construtiva em resolver os seus desentendimentos comerciais sem recurso a medidas excecionais”.
EUA e UE “amam-se”
“Chegámos hoje a um acordo”, proclamou Juncker ao lado de Trump, assinalando em seguida a intenção, por parte da Comissão Europeia, de promover também as importações de gás natural liquefeito dos Estados Unidos.

Antes das declarações a partir dos púlpitos, o presidente do Executivo comunitário, visto no passado recente, pelo Presidente norte-americano, como uma figura “muito inteligente” mas “muito dura”, quis cimentar, entre as paredes da Sala Oval, que os Estados Unidos são “parceiros próximos” ou “aliados”, nunca “inimigos”. Desde logo porque a maior economia mundial move metade do comércio no planeta.

Após o encontro, Donald Trump recorreu também ao Twitter para publicar uma fotografia de um abraço com o presidente da Comissão, ilustrada com a afirmação de que Estados Unidos e União Europeia “amam-se”.


Outro dos anúncios a sair do encontro na Casa Branca foi o de um entendimento tendo em vista a reforma da Organização Mundial do Comércio. Com a China no ponto de mira da atual Administração norte-americana – designadamente as práticas que o Departamento do Comércio dos Estados Unidos carimba como a transferência compulsiva de tecnologia e o “roubo de propriedade intelectual”.

“Vamos trabalhar estreitamente com parceiros que partilham as nossas ideias para reformar a OMC e tratarmos do problema das práticas comerciais desleais, incluindo o roubo da propriedade intelectual, a transferência forçada de tecnologias, as subvenções industriais, as distorções criadas pelas empresas do Estado e a sobrecapacidade”, declarou Donald Trump.

A contrastar com esta – pelo menos aparente – reaproximação atlântica e horas antes da reunião entre Juncker e Trump, o Presidente chinês, Xi Jinping, acendia a partir da África do Sul novo sinal amarelo a Washington, ao reiterar que uma guerra comercial não produz vencedores.
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