Homenagens a Yasser Arafat em Ramala e na Europa

por Agência LUSA

Milhares de palestinianos afluíram hoje à «Cabana da Dor» para prestar a última homenagem ao presidente Yasser Arafat, sendo a grande ausente a sua mulher Suha Arafat, que partiu para a Tunísia, acompanhada pela filha, sem passar por Ramala.

A «Cabana da Dor» foi instalada próxima do local onde foi sepultado, em Ramala, o dirigente palestiniano e, conforme a tradição, ali se serve café com cardamomo e tâmaras, a todos que chegam para expressar condolências.

Palestinianos a pé, dirigentes comunitários e diplomatas estrangeiros passam por ali.

Arafat foi sepultado sexta-feira, rapidamente, junto a quatro cedros no recinto da Mucata, próximo do edifício a que Israel o confinou durante três anos e de onde só saiu há 13 dias para receber tratamento num hospital de Paris.

Milhares de palestinianos, homens e mulheres de todas as idades acompanhados pelos filhos e familiares idosos, depositaram hoje sobre o túmulo ramos de oliveira, bandeiras palestinianas e +kefias+, como as que fizeram de Arafat um símbolo nacional quando, em 1974, compareceu na Assembleia Geral das Nações Unidas coberto com aquele simbólico ornamento tradicional.

A jornada de dor coincide com a festa do Id-el Fiter, que assinala o fim do mês do jejum do Ramadão, mas as comemorações foram canceladas, durante o luto oficial de quarenta dias.

O ambiente é sombrio em Ramala e as lojas estão encerradas.

Na sexta-feira, o caos e a emoção impediram que fosse cumprido o programa oficial das exéquias oficiais, quando dezenas de milhar de pessoas se atiraram sobre o helicóptero que transportou, do Cairo para Ramala, os restos mortais de Arafat, o que impediu os dirigentes palestinianos de prestarem as suas homenagens ao falecido.

Hoje, às primeiras horas da manhã, a nova direcção palestiniana, com o novo presidente da OLP, Mahmud Abbas (Abú Mazen), deslocou-se ao local onde repousa o histórico presidente para rezar pela sua alma.

Pouco depois, surgiu sozinho e com uma coroa de flores, o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), Ahmed Qurea.

Depois de colocar um ramo de flores sobre o túmulo de Arafat, Qurea encontrou-se na Mukata com o alto representante europeu para a Política Externa e Segurança, Javier Solana, a quem comunicou a sua intenção de convocar eleições municipais para Dezembro, presidenciais em Janeiro e legislativas no primeiro trimestre de 2005.

Entretanto, na Nazaré, Galileia, a comunidade árabe-israelita rendeu hoje homenagem a Arafat. Entre setecentas e duas mil pessoas, conforme as fontes, desfilaram desde a Praça do Manancial, no centro da cidade, até um campo de futebol, junto à Basílica da Natividade.

Em diversos países europeus, milhares de manifestantes desfilaram também hoje em homenagem a Arafat, contestando Israel e a política norte-americana para o Médio Oriente.

Os franceses manifestaram-se em Paris, Lyon e Lille, denunciando a construção do Muro israelita na Cisjordânia e gritando palavras de ordem - «Bush/Sharon assassinos» ou «O Muro tem de cair».

Também em Roma, trinta mil manifestantes segundo os organizadores ou quatro mil segundo a polícia, desfilaram pelas ruas de Roma, acompanhados por vários dirigentes da esquerda italiana e pelo representante da ANP na Itália, Nemer Hammad.

A manifestação manteve-se silenciosa durante a maior parte do trajecto, mas foram eventualmente gritadas palavras de ordem contra a construção do Muro, contra a ocupação do Iraque e da Palestina, e exigiu-se a retirada dos militares italianos do Iraque.

Em Genebra, cerca de trezentas pessoas protestaram também contra o Muro, convocadas por uma vintena de associações.

«Com Arafat vivo ou morto, o Muro está sempre lá», disse Valentina Hemmeler, do Colectivo da Urgência Palestiniana, advogando que a sociedade civil se deve mobilizar para chegar «a uma solução pacífica do conflito».

Em Berlim, cerca de 750 pessoas, na sua maioria pertencentes à comunidade muçulmana, manifestaram-se contra a política israelita.

Muitas mulheres de véu transportavam fotografias de Arafat.

Mas aqui, simultaneamente, registou-se uma contra- manifestação, integrando meia centena de pessoas, e em que se apelava à luta contra «o islamismo, o anti-semitismo e o racismo». A polícia não teve conhecimento de qualquer distúrbio.

A grande ausente nesta grande jornada internacional de dor é a mulher de Arafat, Suha, cujo paradeiro se ignora desde que deixou o Cairo rumo à Tunísia, sem passar por Ramala, acompanhada pela filha de ambos, Zahua.

Durante a cerimónia fúnebre de homenagem a Arafat, no Cairo, Suha revelou-se compungida, enquanto a filha chorava copiosamente.


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