Homicida de prisioneiro palestiniano condenado a um ano e meio

por RTP
Jim Hollander, Reuters

O sargento israelita Elor Azaria, que tinha abatido um prisioneiro palestiniano com um tiro na cabeça, foi despromovido a soldado e condenado a 18 meses de prisão.

Um tribunal militar israelita condenou Azaria por, em 5 de março de 2016, na cidade cisjordana de Hebron, ter abatido o prisioneiro palestiniano Abdel Fattah al-Sharif, quando este jazia no chão, já ferido a tiro e inconsciente. Acontece que Azaria foi filmado a abater o prisioneiro, num vídeo que depois se tornou viral e suscitou um aceso debate.

O sargento, de 21 anos, não recebeu ordens nesse sentido do seu superior hierárquico, que testemunhou contra ele. Embora tenha alegado no julgamento que actuara em legítima defesa, por recear que o palestiniano inconsciente tivesse algum cinturão explosivo, viu-se comprometido por testemunhas que se recordavam de o ter ouvido dizer que o prisioneiro tinha de morrer.

Al-Sharif fora atingido depois de, aparentemente, ter tentado esfaquear um militar israelita. O tribunal deu como provado que Azaria não tinha qualquer motivo razoável de legítima defesa para justificar o seu comportamento e que fora movido por um sentimento de vingança contra o alegado autor de um atentado.

Segundo o site de The Times of Israel, Azaria foi condenado a 18 meses de prisão, a uma outra pena suspensa de 12 e seis meses e ainda a perder o posto de sargento. Até agora, Azaria não cumpriu tempo algum na cadeia, embora tenha passado uma parte do tempo confinado às instalações da sua base militar ou à sua própria residência. Os dez meses decorridos até à sentença não lhe serão, por isso, descontados na pena.

Azaria entrou na sala em uniforme e com um largo sorriso. Os seus familiares presentes na sala de audiências festejaram a leitura da sentença aplaudindo, cantando o hino nacional e gritando: "És um herói".

O procurador militar, tenente-coronel Nadav Weisman, embora tenha pedido uma pena de três a cinco anos, deu-se por satisfeito com o ano e meio determinado pelo tribunal e comentou: "Sabemos que este é um dia difícil para o acusado e a sua família, mas tinha de ser feita justiça e justiça foi feita".

A organização Human Rights Watch, em copmentário emitido sobre a sentença, também se dava por satisfeita, afirmando que "enviar Elor Azaria para a prisão pelo seu crime envia uma mensagem importante, de refrear o abuso da força".

Já Tamar Zandberg, deputado do partido Meretz (centro-esquerda) criticou no Facebook: “Condenaram [Azaria] apenas a um ano e meio de prisão. Azaria devia ser castigado, e a sério".

O pai da vítima, Yusri al-Sharif, considerou que "um ano e meio é uma farsa". E acrescentou: "O que é um ano e meio. Ele [Sharif] era um animal, para ser morto desta forma bárbara?"Mais tempo de prisão por uma pedrada do que por um assassínio
Num outro artigo do mesmo periódico, o pai da vítima surge a dizer que o tribunal "está a rir-se na nossa cara (...) Eles prendem alguém por atirar uma pedra e dão-lhe dois anos; o soldado cometeu um assassínio e leva um ano e meio". Yusri al-Sharif reiterou ainda que a sua família acha "a sentença não satisfatória e injusta em comparação com as penas que são dadas aos nossos filhos pela ocupação israelita".

Prosseguindo a comparação, notou também que os pais de Azaria puderam sermpre estar ao seu lado durante o julgamento, ao passo que, "nos julgamentos dos nossos filhos, não é possível para a mãe ou o pai estar presente". Al-Sharif concluiu que, daqui em diante, o assunto deverá ficar nas mãos da Autoridade Palestiniana, para levá-lo aos tribunais internacionais.

E, com efeito, Tarek Rishmawi, um porta-voz da Autoridade Palestiniana, considerou que a sentença constitui uma "luz verde para o exército de ocupação continuar com os seus crimes". E admitiu que esta sentença leve a Autoridade Palestiniana a lutar pela condenação de crimes de guerra israelitas em tribunais internacionais.

Numa declaração emitida sobre a sentença, a Autoridade Palestiniana apelou também "às organizações relevantes de direitos humanos, para que denunciem estes teatrais julgamentos israelitas perante os tribunais dos seus respectivos países e perante os competentes tribunais internacionais".



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