Hong Kong. Manifestantes começam a deixar a universidade

por RTP
Jeon Heon-Kyun - EPA

"Desistam!", é desta forma que a polícia de Hong Kong se dirigiu aos últimos resistentes no protesto, que dura há vários dias, no campus da Universidade Politécnica. Entretanto, em Macau existem receios que a onda de protestos pró-democracia chegue ao território.

Esta sexta-feira, uma dezena de manifestantes rendeu-se às forças de segurança. Os restantes continuam barricados e procuram desesperadamente rotas de fuga, enquanto as forças de segurança vão apertando o cerco.

O chefe da polícia de Hong Kong tem esperança numa solução pacífica para o impasse. O cerco à universidade começou na passada segunda-feira, com a polícia a deter centenas de estudantes no arredor do campus, obrigando muitos a estenderem-se no chão, à bastonada.

"Estamos a ficar cansados, mas não vamos desistir de tentar sair. Ontem passámos o dia a tentar encontrar formas de sair, mas como não conseguimos, viemos comer”, afirmou à Reuters um manifestante de 23 anos, enquanto comia massa com salsichas.

Já um manifestante mais velho estimou que restavam apenas 30 manifestantes no interior do campus, e acrescentou que alguns tinham desistido de procurar rotas de fuga e que estavam a tentar fabricar novas armas para se protegeram, caso a polícia invadisse o espaço da universidade.

Segundo o repórter da Reuters em Hong Kong “seis manifestantes vestidos de preto segurando as mãos estavam a andar em direção às linhas policiais, enquanto um socorrista disse que mais dois se renderam”.
Macau teme que situação se alastre O único deputado português na Assembleia Legislativa (AL) de Macau afirmou à Lusa que o Governo tem medo que a situação de Hong Kong alastre para o território, mas garantiu que não há 'mercado' para a mobilização.

"O Governo tem muito medo daquilo que está a acontecer em Hong Kong (...) possa alastrar para Macau", afirmou Pereira Coutinho, numa referência aos protestos violentos que têm marcado o território vizinho há mais de cinco meses.

"(Mas) Macau não tem mercado para o que está a acontecer em Hong Kong. Em primeiro lugar porque os nossos jovens são diferentes, quer em termos de educação, quer em termos de conhecimentos políticos, quer em termos daquilo que está a acontecer de uma maneira geral na sociedade", explicou.

Em "segundo lugar, o Governo de Macau comporta-se de uma maneira diferente do Governo de Hong Kong em termos de concessão de subsídios. Nós temos subsídios de toda a espécie e para todos os efeitos", acrescentou o deputado, na AL desde 2005.

Pereira Coutinho defendeu que os jovens de Macau e de Hong Kong partilham o mesmo problema da habitação, mas que, depois, há muitas diferenças que os separam.

Enquanto em Hong Kong é visível ainda "a penetração e influência do modelo ocidental de democracia, de educação, de visão e de maior internacionalização, Macau nunca foi uma cidade internacional", apontou.

“Em Macau há antibióticos, há anestésicos que fazem com que eles esqueçam de uma forma curta o sofrimento que têm", recordando que existem "28 fundos a conceder subsídios todos os anos para todas as associações e entidades particulares", algo que, frisou, "Hong Kong não tem".

"Basta invocar um slogan da Grande Baía (o projeto de uma metrópole definida por Pequim que junta Hong Kong, Macau e a província chinesa de Guangdong) ou sessões de esclarecimento de como ser mais patriota para ter subsídios", sustentou.Por outro lado, o deputado de nacionalidade portuguesa, nascido em Macau, lembrou o facto de já ter organizado muitas manifestações e que "não é qualquer assunto que consegue convencer as pessoas a irem para a rua".

"Não é fácil pôr 100 pessoas na rua. Nós já conseguimos pôr 20 mil numa mega manifestação contra um projeto de lei que concedia imunidade a governantes em processos criminais e que concedia ordens de aposentação para uma dúzia de elites de governantes. O projeto foi retirado", recordou.

Contudo, tendo em conta o tema sensível que é Hong Kong, o deputado da AL destacou o que considera ser uma evidência hoje: "As pessoas vão para a rua são identificadas, são referenciadas, (porque) nós temos câmaras em todos os lados. Pode não ter consequências imediatas, mas, eu garanto que terão retaliações indiretas e diretas no médio prazo".

c/ Lusa
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