Hong Kong. Protestos obrigam Carrie Lam a discursar à porta fechada

por RTP
As autoridades de Hong Kong prenderam mais de 2.300 pessoas desde junho Tyrone Siu - Reuters

Esta quarta-feira, vários deputados pró-democracia interromperam o discurso político anual da chefe do executivo, Carrie Lam, com assobios e cartazes de protestos. Carrie Lam foi obrigada a abandonar o parlamento de Hong Kong e a discursar à porta-fechada, num discurso emitido pela televisão.

A chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, foi obrigada a suspender o seu discurso político anual depois de ter sido impedida de falar no parlamento.

Vários deputados pró-democracia interromperam o discurso de Carrie Lam com assobios e cartazes que mostravam a chefe do executivo com mãos cobertas de sangue e projetaram uma imagem na parede na qual se podia ler “cinco exigências, nem uma a menos”.

Lam foi obrigada, pela primeira vez na história de Hong Kong, a abandonar o parlamento e a discursar à porta fechada, num discurso emitido pela televisão.

Já fora do parlamento local e depois do discurso, um grupo de deputados pró-democracia improvisou uma conferência de imprensa onde apelaram à demissão de Carrie Lam, acusando-a de ter “sangue nas mãos” – uma alusão ao uso de força excessiva por parte da polícia para reprimir os manifestantes.

“As duas mãos dela estão ensopadas de sangue”, acusou a deputada da oposição Tanya Chan. “Esperamos que Carrie Lam se retire e demita. Ela não tem capacidade de governar. Ela não é a pessoa adequada a chefe do executivo”, continuou a argumentar.

"Ela é apenas uma marioneta comandada por Pequim", apontou a deputada Cláudia Mo. "Por favor, por favor, por favor, Carrie Lam, não nos deixes sofrer mais", continuou.
“Hong Kong voltará ao normal?”
O cenário de protestos e de violência em Hong Kong já se prolonga há quatro meses. No cerne das contestações está uma proposta de emendas à lei da extradição, a qual os manifestantes consideram ser uma perda de liberdade da região que se governa sob a fórmula “um país, dois sistemas” desde que Hong Kong, antiga colónia britânica, foi devolvida à China em 1997.

No início de setembro, o governo anunciou que iria retirar a lei da extradição da região administrativa especial chinesa. A suspensão da sessão no parlamento levou a que a lei não fosse retirada formalmente.

Apesar dessa promessa de Lam, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão de Lam e eleição por sufrágio universal para este cargo e para o parlamento.

"As pessoas estão a perguntar: Hong Kong voltará ao normal?", questionou Carrie Lam durante o seu discurso, apelando, de seguida, aos 7,5 milhões de cidadãos do território para "valorizarem a cidade".
As autoridades de Hong Kong prenderam mais de 2.300 pessoas desde junho.
A chefe do executivo não manifestou nenhum lamento pela resposta do governo aos protestos, nomeadamente pela ação policial que provocou milhares de feridos, incluindo um estudante que foi baleado.

Por sua vez, Carrie Lam anunciou que "quaisquer atos que defendam a independência de Hong Kong e ameacem a soberania do país, os interesses de segurança e desenvolvimento, não serão tolerados".

"A contínua violência e a disseminação do ódio" vão "corroer os valores centrais de Hong Kong", alertou Lam.

Durante o seu discurso emitido pela televisão, Carrie Lam anunciou várias medidas de habitação e de infraestruturas, considerando que a crise da habitação é a questão mais urgente que a cidade enfrenta.

Numa entrevista coletiva após o seu discurso, a chefe do executivo de Hong Kong ignorou os pedidos de renúncia e rejeitou duas das cinco exigências dos manifestantes.
Na opinião de Lam, a libertação dos manifestantes que foram detidos é ilegal e a demanda por sufrágio universal está para além do poder da chefe do executivo.

"Apesar dos tempos agitados e das enormes dificuldades que Hong Kong está a enfrentar, acredito que, se aderirmos rigorosamente ao princípio de 'um país, dois sistemas', seremos capazes de sair do impasse", considerou Carrie Lam.

c/Lusa
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