Huawei. Retaliação "pública e dolorosa" à vista para o Reino Unido

por Inês Moreira Santos - RTP
Tingshu Wang/Reuters

O Reino Unido deve sofrer uma retaliação por ter decidido banir a Huawei da infraestrutura de redes de quinta geração (5G) do país. É a exigência de punição do jornal chinês Global Times , que considera que a China não pode continuar "passiva", enquanto os Estados Unidos se vangloriam pela decisão britânica.

O Governo de Boris Johnson anunciou, na terça-feira, que a gigante chinesa Huawei vai ser banida da infraestrutura de redes de quinta geração (5G) do Reino Unido até ao final de 2027.

Perante a decisão da Grã-Bretanha, o jornal estatal Global Times publicou um editorial instando uma retaliação por parte da China. Para além desta decisão ser "um golpe" à gigante tecnológica, a publicação chinesa considera que "a rejeição da Huawei pelo Reino Unido provavelmente aumentará a hesitação de outros países".

Com a decisão tomada no Conselho de Segurança Nacional britâncio, a partir de 1 de janeiro de 2021 passa a ser proibida a compra de qualquer novo equipamento 5G da Huawei. E o que existe, atualmente, nas redes de telemóvel britânicas terá de ser completamente removido até o final de 2027.

Para o jornal nacionalista, o Reino Unido deve ser punido: "É necessário que a China retalie contra o Reino Unido, caso contrário não seríamos muito fáceis de intimidar? Essa retaliação deve ser pública e dolorosa para o Reino Unido".

Contudo, é claro para a China que o governo de Boris Johnson só tomou esta atitude pressionado pela Casa Branca.

"A decisão do Reino Unido é obviamente o resultado de forte pressão de Washington", lê-se na publicação.

Mas, "enquanto a Huawei puder sobreviver à repressão dos EUA e manter a liderança tecnológica, a decisão do Reino Unido será apenas temporária, e a Huawei ainda tem oportunidade de retornar ao mercado do Reino Unido".

"Realmente não é fácil dizer adeus à Huawei", frisa ainda o editoral.

O editor do Global Times também fez questão de recordar que as condições políticas podem mudar antes do prazo final para "expulsão" da Huawei em terras de Sua Majestade. No Twiteer, Hu Xijin escreveu que "o Reino Unido só pode remover completamente a Huawei até 2027, o que indica que é difícil deixar a Huawei" e que "pode haver mudanças" entretanto.


As relações entre o Londres Pequim deterioraram-se no mês passado, quando o Reino Unido criticou a controversa lei de segurança nacional imposta a Hong Kong, que criminaliza a dissidência antigovernamental no antigo território britânico, prometendo apoiar ativistas e manifestantes pró-democracia em fuga.

No entanto, e embora exija uma vingança, o editorial considera "desnecessário transformá-la num confronto China-Reino Unido".

"O Reino Unido não são os EUA, nem a Austrália, nem o Canadá.(...) A longo prazo, o Reino Unido não terá motivos para se voltar contra a China, com a questão de Hong Kong resolvida".
EUA saudam "consenso internacional" contra a Huawei
A Casa Branca felicitou-se na terça-feira com o aparecimento do que considerou um "consenso internacional" sobre a Huawei, depois de o Reino Unido ter decidido banir a sua rede 5G dos equipamentos produzidos pela empresa chinesa.

"A decisão do Reino Unido reflete um consenso internacional crescente sobre o facto de a Huawei e outros atores representarem uma ameaça para a segurança nacional, por estarem dependentes do Partido Comunista Chinês", disse Robert O'Brien, conselheiro para a Segurança Nacional da Casa Branca.

Também o presidente norte-americano quis reivindicar o crédito pela decisão do Reino Unido, vangloriando-se numa conferência de imprensa de que nenhum outro executivo "foi mais dura com a China" do que a Administração Trump.

"Fiz isto pessoalmente, na maior parte do tempo", disse Donals Trump, referindo-se ao esforço para pressionar os países a não usarem a Huawei, acrescentando: "Se eles querem fazer negócios connosco, não podem usá-lo".

"Convencemos muitos países, e eu próprio fiz isso, na maioria das vezes, não usar a Huawei porque achamos que é um risco para a segurança. É um grande risco de segurança", disse ainda.

A chinesa Huawei está implementada no Reino Unido há mais de 20 anos. Esteve mesmo envolvida no desenvolvimento das redes 2G, 3G e 4G, com equipamento mais barato e avançado do que o dos concorrentes.

Perante a decisão do Governo britânico, a empresa de imediato lamentou a decisão, que considerou uma "má notícia para qualquer pessoa no Reino Unido com um telemóvel".

A Global Times também expressa o receio de que, futuramente, haja "muitos países e muitas empresas a vacilar sob a pressão dos EUA".

"A maneira mais eficaz de a China influenciá-los será aumentar a nossa força e atratividade, e nada mais", reforçou a publicação chinesa.

Recorde-se que em janeiro, Londres autorizou a Huawei a fornecer equipamento para partes não estratégicas da rede 5G, considerando que representava um risco "controlável" para a segurança nacional.

A mudança de posição do Executivo britânico ocorre após levar em conta a decisão anunciada em maio pelos Estados Unidos, de restringirem a venda de ‘chips' ao grupo chinês, o que poderia comprometer a cadeia de fornecimento.
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