Hungria. Oposição tenta ter voz mas conservadores no poder tornam-no "difícil"

por Lusa

Budapeste, 21 mai 2019 (Lusa) -- Os principais partidos da oposição na Hungria consideram que "é difícil" ter voz, dado o predomínio dos conservadores no poder há 10 anos, mas querem contrariá-lo nas eleições europeias, nomeadamente para evitar a ascensão do populismo na Europa.

"Os partidos da oposição estão a ser alvo de sanções, enfrentam uma maioria de dois terços no parlamento, o que significa que qualquer lei avança sem contestação, e, por tudo isto, é muito difícil ser um partido da oposição na Hungria", admitiu em entrevista à agência Lusa, em Budapeste, o vice-presidente executivo e candidato do Jobbik (Movimento por uma Hungria Melhor), Márton Gyöngyösi.

Segundo o candidato, "a imprensa também não é livre" na Hungria, o que "cria dificuldades à oposição" e faz com que "o Fidesz [partido no poder] fique com todas as oportunidades" nos media.

O Jobbik foi, inclusive, sancionado no final do ano passado com uma multa de mil milhões de florins húngaros (cerca de três milhões de euros) pelo departamento de auditoria do Estado por alegadas infrações no financiamento da propaganda nas eleições legislativas de 2018, estando a aguardar uma decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Dos 21 eurodeputados da Hungria no Parlamento Europeu, o Jobbik elegeu três no último mandato, sendo a maior força da oposição, tanto na assembleia europeia, como no parlamento nacional.

"Manter essa posição seria bom", apontou Márton Gyöngyösi.

Para este responsável, as eleições europeias -- que se votam domingo na Hungria -- são "excecionais", já que vão demonstrar se o país se torna "completamente isolado na política europeia graças ao [primeiro-ministro], Viktor Órban, ou se se mantém no coração desta cooperação".

Assim, o programa do Jobbik estipula uma resposta diferente da do Governo à migração, que Márton Gyöngyösi classificou como "populista e contraproducente", defendendo antes uma "cooperação europeia" nesta questão e uma maior defesa das fronteiras nacionais com a reposição da guarda costeira da Hungria.

Outra das medidas defendidas pelo Jobbik centra-se na "harmonização dos salários mínimos na União Europeia [UE], eliminando as desigualdades", para fomentar o regresso ao país de jovens qualificados que saíram para trabalhar fora.

Do lado dos socialistas, o MSZP, que elegeu dois eurodeputados no último mandato, pretende aumentar o número de eleitos para três.

"Estas eleições também são uma espécie de corrida entre os partidos da oposição para ver quem é o mais forte", disse em entrevista à Lusa o secretário do partido MSZP para as questões internacionais, Balázs Bárány.

Nestas eleições, o MSZP quer, na coligação com o movimento Diálogo (ecologista), "defender a presença da Hungria na UE" e focar-se "nos assuntos sociais".

"Há um risco de populismo e de extremismo na UE, mas queremos voltar a colocar a bola do lado das pessoas e, por isso, queremos padrões europeus para a saúde, para a educação, para os salários, para as pensões", referiu Balázs Bárány à Lusa.

Também este deputado socialista falou em dificuldades para a oposição no país, nomeadamente a "falta de espaço" nos meios de comunicação públicos, como a televisão (Magyar Televízió) e a rádio (Magyar Rádio).

Além de apostar nas redes sociais, o MSZP está a "privilegiar o contacto com as pessoas" para contornar estas restrições, segundo Balázs Bárány.

Esta são instrumentos também usados pela Coligação Democrática (DK), segundo Ágnes Vadai, candidata e deputada do partido.

A responsável admitiu à Lusa ser "difícil" estar na oposição, já que, nas zonas rurais, "as pessoas têm muito medo de falar com políticos e não aceitam panfletos".

"Há uma lavagem cerebral diária [por parte do Fidesz], mas também há quem beneficie do sistema ou tenha medo de represálias", criticou a responsável.

Ainda assim, "vamos sempre tentar, até porque não queremos ver estes populistas na UE", assinalou Ágnes Vadai.

"Há que haver limites na política e Órban não os reconhece. Tem usado todos os meios ao seu dispor, inclusive um discurso de ódio contra tudo o que tenha a ver com a migração", condenou Ágnes Vadai.

Para estas eleições, o DK defende a criação dos "Estados Unidos da Europa", baseado na ideia de uma "resposta europeia" a desafios como alterações climáticas, digitalização e migração, bem como na homogeneização dos benefícios sociais na UE, em termos de pensões, de salários e de acesso à saúde.

No anterior mandato, o DK elegeu dois eurodeputados e espera manter este resultado.

Com apenas um eleito ficaram os partidos `Juntos` e `Políticas Podem Ser Diferentes` (LMP), sendo que o primeiro se extinguiu após as eleições legislativas do ano passado.

Por seu lado, o partido ecologista LMP vai concorrer nestas eleições europeias defendendo que "a Europa se deve tornar verde agora ou não o será de todo", indicou à Lusa o deputado Péter Ungár.

"Acreditamos que as alterações climáticas são o maior desafio do século XXI e queremos que os líderes europeus o levem a sério", adiantou o responsável do LMP.

Confrontado pela Lusa com estas críticas, Balázs Hidvéghi, candidato do Fidesz às europeias e também diretor de comunicação do partido, rejeitou-as, culpando a oposição de não "fazer um trabalho bom o suficiente" e de não ter "uma mensagem política forte".

"Eles têm tido todas as oportunidades para criticar o Governo, para apresentar alguma coisa", assegurou o eleito do Fidesz.

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