Imagens sugerem que Bielorrússia construiu um campo de detenção para dissidentes

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Janis Laizans - Reuters

A CNN teve acesso a imagens que sugerem que a Bielorrússia construiu um campo de detenção para dissidentes políticos. Ativistas acreditam que o campo terá sido construído a pensar em futuros protestos, quando se aproxima o aniversário das polémicas eleições presidenciais de 2020.

As imagens e vídeos obtidos pela CNN demonstram um campo com três camadas de cerca eletrificada, novas câmaras de segurança, janelas com grades e vidros espelhados, guardas militares e uma placa a proibir a entrada.

Para os ativistas da oposição, tudo indica que se trata de um campo de detenção para dissidentes políticos. O campo localiza-se a cerca de uma hora de Minsk, próximo de um local de armazenamento de mísseis da era soviética que se estende por mais de 80 hectares.


Grupos da oposição já tinham expressado o receio de que o regime autoritário pudesse recorrer a campos de detenção para dissidentes caso as prisões ficassem sobrelotadas. Em outubro, o grupo ativista ByPol, formado por ex-agentes de segurança, divulgou uma gravação, alegadamente do ministro do Interior Mikalay Karpyankou, onde este defendia a necessidade de construção de campos de detenção para prisioneiros “mais teimosos”. O Governo bielorrusso referiu-se às gravações como “notícias falsas”.

Para Franak Viacorka, assessor da líder da oposição bielorrussa Svetlana Tikhanovskaia, as imagens agora divulgadas pela CNN não são surpreendentes.

Não é surpreendente que o presidente Alexander Lukashenko esteja a tentar construir algo como um campo de detenção comum, porque irá surgir uma nova onda de protestos de qualquer forma. Pode ser desencadeada pelas suas declarações ou pela situação económica. O presidente tem consciência disso e quer estar mais preparado do que estava no ano passado”, disse Viacorka à CNN.
Ameaça de novos protestos
A onda de protestos no ano passado seguiu-se às eleições presidenciais de 9 de agosto. Centenas de milhares de manifestantes saíram às ruas durante fins-de-semana consecutivos para contestar os resultados destas eleições, que atribuíram a Lukashenko um sexto mandato com 80 por cento dos votos. No cargo há quase 27 anos, o presidente da Bielorrússia é conhecido como “o último ditador da Europa”. De acordo com as Nações Unidas, mais de 35 mil pessoas foram detidas de forma arbitrária no último ano, havendo registo de centenas de presos políticos.

Com a aproximação do aniversário das eleições, aumentam os receios de uma nova onda de repressão policial e detenções em resposta às manifestações, o que leva os ativistas a acreditar que o Governo construiu, de facto, um campo de detenção para dissidentes.

A CNN não consegui aceder ao interior do recinto e até ao momento não existem sinais de prisioneiros no local. Um funcionário dos serviços de inteligência do ocidente disse à CNN que o uso do local como um campo de prisioneiros era “possível”, embora não tenha provas diretas para esse efeito.
Repressão crescente contra a sociedade
As imagens obtidas pela CNN surgem numa altura em que as atenções internacionais têm estado focadas na Bielorrússia, com os ativistas a denunciarem uma repressão crescente contra a sociedade civil.

Em maio, o presidente Lukashenko foi acusado de desviar um avião com destino à Lituânia para deter um jornalista dissidente. O jornalista, Roman Protasevich, seguia a bordo do avião que fazia a ligação entre Atenas e Vilnius quando foi intercetado e obrigado a aterrar na capital bielorrussa devido a uma alegada ameaça de explosivos a bordo. À chegada, todos os passageiros foram forçados a abandonar o aparelho e o jornalista, um dos principais opositores do regime de Lukashenko, foi detido. Em junho, Protasevich emitiu uma nova declaração transmitida pela televisão estatal, onde deixou elogios ao presidente bielorrusso e admitiu que participou na organização de protestos contra o regime de Minsk. A família garante que o jornalista de 26 anos foi obrigado a gravar a confissão e a oposição fala em “refém do regime”.

Na terça-feira, o temor pela crescente repressão contra dissidentes aumentou quando o líder de uma organização de apoio a refugiados bielorrussos na Ucrânia foi encontrado enforcado num jardim de Kiev. A polícia ucraniana continua a investigar a possibilidade de suicídio ou homicídio.

A controvérsia chegou também aos Jogos Olímpicos. A velocista bielorrussa Krystsina Tsimanouskaya diz ter sido obrigada a abandonar a competição em Tóquio depois de ter criticado responsáveis do atletismo bielorrusso. O seu país deu-lhe ordem de regresso e a atleta pediu proteção policial e asilo político. A Polónia acabou por lhe atribuir um visto humanitário e a velocista aterrou em Varsóvia na quarta-feira.
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