"Impeachment". Comité de Justiça dividido aprova queixas contra Trump

por RTP
A contagem dos votos sobre as duas acusações do processo de destituição de Donald Trump, no Comité de Justiça da Câmara dos Representantes, dia 13 de dezembro de 2019 Reuters

As duas queixas contra Donald Trump, acusando o Presidente norte-americano de ter abusado do poder do cargo em proveito próprio e de ter obstruído as investigações ao caso, acabaram por ser aprovadas esta tarde, em Washington, pelo Comité de Justiça da Câmara dos Representantes.

Este era mais um passo necessário para a votação, na próxima semana, na Câmara de Representantes, do processo de destituição de Donald Trump. Espera-se que o processo seja aprovado pela Câmara, maioritariamente democrata, o que fará de Trump o terceiro Presidente norte-americano a ser destituído.

Que tal implique que ele seja afastado do cargo é menos provável,
uma vez que o assunto irá subir depois ao Senado, onde os Republicanos detêm a maioria.

A votação final do Comité, dominado por democratas, expressa contudo a evidente divisão entre os representantes da Câmara, quanto às razões de destituição do Presidente. A aprovação foi conseguida com 23 votos a favor e 17 contra.
Divididos
"Hoje é um dia solene e triste", comentou o residente do Comité, o democrata Jerry Nadler. "Pela terceira vez em pouco mais de um século e meio, o Comité de Justiça votou artigos de destituição contra o Presidente", referiu.

Os membros republicanos do Comité defenderam Donald Trump e acusaram os democratas de criarem "uma farsa" com motivos políticos, por nunca terem aceitado a vitória de Trump em 2016.

"Uma triste, ridícula farsa na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos", reagiu o Presidente do Comité de Justiça do Senado, Lindsey Graham, um republicano habitual defensor de Trump.


"Isto precisa terminar rapidamente", acrescentou Graham, na sua conta Twitter.

Donald Trump está a ser acusado pelos democratas de ter abusado dos privilégios do cargo de Presidente, para pressionar o seu homólogo, o Presidente recém-eleito da Ucrânia, a investigar a família de Joe Biden, o seu maior rival entre os candidatos democratas às eleições presidenciais de 2020.

Donald Trump reagiu à aprovação das acusações, negando mais uma vez qualquer pressão sobre Zelenskiy e acusou os democratas de estarem a tornar "trivial" o processo de destituição".


Presente a julgamento em 2020
O processo de destituição foi lançado em setembro passado pelos democratas, após um denunciante ter feito queixa do teor do telefonema entre Trump e Zelenskiy, que teve lugar a 25 de julho.

Trump terá depois retido 400 milhões de dólares em verbas de Defesa, prometidos à Ucrânia, para obrigar Volodymyr Zelenskiy a investigar as atividades de Hunter Biden enquanto membro do Conselho de Administração de uma empresa estatal de gás ucraniana, dizem.

Após uma série de audições públicas, os democratas acusaram ainda Trump de ter tentado impedir as investigações, algo igualmente negado pela Casa Branca.

Trump e os republicanos afirmam que o Presidente não cometeu qualquer crime e que não existem quaisquer provas diretas de que ele reteve o auxílio prometido em troca do favor de investigar os Biden.

Os democratas contrapõem que Trump impediu os membros do seu gabinete, como o secretário de Estado, Mike Pompeo, de testemunhar nas audiências.

Donald Trump tem falado numa nova "caça às bruxas". Apesar de não apresentar provas, acusa por seu lado os Biden, de envolvimento em corrupção na Ucrânia, e diz que deviam ser investigados.

O candidato democrata, ex-vice-presidente do antecessor de Trump, Barack Obama, nega as acusações.
O terceiro
Se for destituído, Trump deverá ser presente a julgamento no Senado no início do próximo ano, precisamente quando a campanha das presidenciais começar a acelerar.

Alguns analistas referem que o próprio Trump, seguro da proteção dos senadores republicanos, poderá tentar prolongar o processo de forma a coincidir com o início oficial das ações de campanha, em fevereiro.

O Presidente recandidata-se ao cargo, pelo Partido Republicano.

Donald Trump irá juntar-se a Bill Clinton e a Andrew Johnson, ambos democratas e destituidos em 1998 e em 1868, respetivamente, e ambos ilibados pelos repetivos Senados.

Clinton foi destituído por perjúrio, após mentir sobre a sua relação sexual com uma interna da Casa Branca, Monica Lewinsky.

Em 1974, o Presidente republicano Richard Nixon demitiu-se antes de ser destituído, devido ao seu envolvimento no escândalo Watergate.
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