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"Impeachment". Diplomata dos EUA em Kiev confirma pressões da Casa Branca

por Carlos Santos Neves - RTP
Bill Taylor testemunhou na terça-feira perante os três comités da Câmara dos Representantes responsáveis pelo inquérito prévio ao processo de destituição do Presidente Carlos Jasso - Reuters

O inquérito prévio conduzido pela Câmara dos Representantes subiu na terça-feira mais um degrau na direção de um eventual processo de destituição de Donald Trump, depois do testemunho do atual encarregado de negócios dos Estados Unidos na Ucrânia. O diplomata Bill Taylor detalhou insistentes investidas da Sala Oval para que as autoridades ucranianas investigassem Hunter Biden, filho do candidato à nomeação presidencial democrata Joe Biden.

Diante dos três comités responsáveis pelo inquérito tendente ao impeachment - Relações Externas, Serviços Secretos, Supervisão e Reforma -, na abertura dos trabalhos, Bill Taylor começou por reproduzir uma declaração escrita. O depoimento decorreu à porta fechada, mas multiplicaram-se entretanto as fugas para a imprensa internacional. Está a ser descrito como o mais detalhado e nefasto para a Administração Trump, até à data, no inquérito lançado pela maioria democrata na Câmara dos Representantes.


No texto, divulgado na íntegra pela publicação Lawfare, fica clara a preocupação do diplomata face ao comportamento da Casa Branca de Trump para com Kiev.

O encarregado de negócios dos Estados Unidos dá conta de repetidas diligências para condicionar o envio de ajuda militar e a realização de uma reunião bilateral à abertura de uma investigação, na Ucrânia, ao filho do ex-vice-presidente norte-americano Joe Biden, Hunter.

Taylor afirmou ter ficado preocupado com o comportamento do círculo próximo do Presidente pouco depois de ter assumido, em junho deste ano, o posto de encarregado de negócios na capital ucraniana.

“A nossa relação com a Ucrânia estava a ser fundamentalmente minada por um canal informal irregular de definição de políticas dos Estados Unidos”, estimou o diplomata de carreira, para apontar o que descreveu como “retenção de assistência de segurança vital” ao Governo ucraniano e ao Presidente Volodymyr Zelensky “por razões de política doméstica”.

O “canal irregular” teria como correias de transmissão, de acordo com Bill Taylor, o advogado do Presidente e antigo mayor de Nova Iorque Rudy Giuliani, o secretário da Energia cessante Rick Perry, o embaixador dos Estados Unidos para a União Europeia, Gordon Sondland, e Kurt Volker, emissário especial para a Ucrânia.
Hunter Biden e Burisma no ponto de mira
Talyor confirmou que o embaixador dos Estados Unidos para a União Europeia tornou claro, num telefonema, que qualquer forma de assistência militar à Ucrânia ou uma receção a Zelensky na Casa Branca dependeriam da abertura, em concreto, de duas investigações.

A primeira investigação teria de visar a empresa energética ucraniana Burisma, para qual trabalhara Hunter Biden. A segunda incidiria sobre uma teoria de conspiração segunda a qual a ingerência na eleição presidencial de 2016 teria sido pró-democrata e teria partido de Kiev e não de Moscovo – uma linha de raciocínio rejeitada pelos próprios serviços secretos dos Estados Unidos.Trump acionou os travões a um pacote de 400 milhões de dólares em assistência militar à Ucrânia poucos dias antes de um telefonema, a 25 de julho deste ano, para o gabinete de Zelensky. Foi então que o Presidente norte-americano pediu “o favor” ao interlocutor ucraniano, nos termos da versão libertada pela própria Casa Branca.

“Durante esse telefonema, o embaixador Sondland contou-me que o Presidente Trump lhe tinha dito que queria que o Presidente Zelensky declarasse publicamente que a Ucrânia investigaria a Burismo e a alegada interferência ucraniana na eleição de 2016”, revelou o encarregado de negócios.

“Sondland disse que tudo estava dependente desse anúncio, incluindo a assistência de segurança”, continuou Bill Taylor.

O diplomata revelou também ter ficado a saber, através de um alto responsável da Casa Branca, de uma conversa telefónica entre Donald Trump e Gordon Sondland, datada de 7 de setembro, na qual o Presidente norte-americano “insistiu que o Presidente Zelensky teria de se chegar a um microfone e anunciar a abertura de investigações a Biden e à interferência na eleição de 2016”.

Sondland terá mesmo sublinhado a Taylor que “o Presidente Trump é um homem de negócios”. E que, “quando um homem de negócios está prestes a passar um cheque a alguém que lhe deve alguma coisa, pede a essa pessoa que pague o que deve antes de assinar o cheque”.

Na sequência da divulgação do depoimento de Bill Taylor, a porta-voz da Casa Branca Stephanie Grisham emitiu uma nota a repudiar o processo em curso no Capitólio, considerando-o “uma campanha” destinada a manchar o 45.º Presidente e conduzida por “legisladores de extrema-esquerda e burocratas radicais não eleitos em guerra com a constituição”.
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