O Vaticano anunciou na quinta-feira a abdicação do prefeito da Congregação da Causa dos Santos, o cardeal Angelo Becciu, ao cargo e aos seus direitos. Não foram dados pormenores sobre as razões que levaram à sua demissão, mas sabe-se que o cardeal estava envolvido num escândalo financeiro.
Não foram dados pormenores sobre as razões que levaram o Papa Francisco a aceitar a resignação do cardeal. No entanto, sabe-se que Becciu, de 72 anos, foi implicado num escândalo financeiro que envolve negócios imobiliários em Londres, no qual a sede da Igreja Católica perdeu milhões de euros em comissões pagas a intermediários. Em 2019, o jornal britânico Financial Times divulgou que o Vaticano tinha estado a investigar um investimento de 200 milhões de dólares (180 milhões de euros) considerado pouco transparente, que envolveu o empresário angolano António Mosquito.
A Secretaria de Estado do Vaticano recorreu a consultores externos, em 2012, para realizar um empréstimo de 200 milhões de dólares, com fundos que tinha em contas bancárias suíças, à Falcon Oil, uma empresa petrolífera angolana, controlada pelo conhecido empresário de Angola António Mosquito, também com negócios em Portugal.
Porém, depois de ter decidido não conceder o empréstimo à Falcon Oil, a Secretaria do Vaticano decidiu investir a verba, juntamente com um fundo italiano com sede em Londres, na compra de uma participação minoritária num imóvel que aquela entidade financeira já tinha no exclusivo bairro londrino de Chelsea.
O negócio imobiliário de Londres foi o objeto da investigação judicial do Vaticano, no decurso da qual a polícia do Vaticano apreendeu documentos e computadores dos escritórios da Secretaria de Estado e suspendeu cinco funcionários da Santa Sé.
O Vaticano recusou-se a comentar o conteúdo da investigação, limitando-se a informar que foram investigadas transações financeiras passadas. O cardeal Becciu sempre negou qualquer irregularidade, defendendo a compra do imobiliário. “Foi feito um investimento num prédio. Foi uma boa e oportuna oportunidade, que muitos nos invejam hoje”, disse o cardeal em fevereiro deste ano.
Até 2018, o cardeal Becciu era o segundo mais alto funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano, reportando diretamente a Bento XVI e, mais tarde, ao Papa Francisco.
Um dos direitos mais importantes dos cardeais consiste no direito ao voto na eleição de um novo Papa. Becciu manterá o título apesar da sua resignação, mas não poderá participar na votação do próximo Sumo Pontífice.
A exoneração de um cardeal dos seus direitos é uma decisão rara e excecional tomada pelo Papa. O último cardeal a abdicar do seu direito de voto num novo Papa foi o cardeal Keith O'Brien, que renunciou em 2013, envolvido num escândalo sexual.
c/agências