Importante cardeal do Vaticano resigna inesperadamente ao cargo

por RTP
Um dos direitos mais importantes dos cardeais consiste no direito ao voto na eleição de um novo Papa Remo Casilli - Reuters

O Vaticano anunciou na quinta-feira a abdicação do prefeito da Congregação da Causa dos Santos, o cardeal Angelo Becciu, ao cargo e aos seus direitos. Não foram dados pormenores sobre as razões que levaram à sua demissão, mas sabe-se que o cardeal estava envolvido num escândalo financeiro.

Hoje, quinta-feira, 24 de setembro, o Santo Padre aceitou a resignação do cargo de Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e dos direitos associados ao cardinalato apresentada por sua eminência o cardeal Giovanni Angelo Becciu”, lê-se no breve comunicado divulgado pela Santa Sé.

Não foram dados pormenores sobre as razões que levaram o Papa Francisco a aceitar a resignação do cardeal. No entanto, sabe-se que Becciu, de 72 anos, foi implicado num escândalo financeiro que envolve negócios imobiliários em Londres, no qual a sede da Igreja Católica perdeu milhões de euros em comissões pagas a intermediários. Em 2019, o jornal britânico Financial Times divulgou que o Vaticano tinha estado a investigar um investimento de 200 milhões de dólares (180 milhões de euros) considerado pouco transparente, que envolveu o empresário angolano António Mosquito.

A Secretaria de Estado do Vaticano recorreu a consultores externos, em 2012, para realizar um empréstimo de 200 milhões de dólares, com fundos que tinha em contas bancárias suíças, à Falcon Oil, uma empresa petrolífera angolana, controlada pelo conhecido empresário de Angola António Mosquito, também com negócios em Portugal.

Porém, depois de ter decidido não conceder o empréstimo à Falcon Oil, a Secretaria do Vaticano decidiu investir a verba, juntamente com um fundo italiano com sede em Londres, na compra de uma participação minoritária num imóvel que aquela entidade financeira já tinha no exclusivo bairro londrino de Chelsea.

O negócio imobiliário de Londres foi o objeto da investigação judicial do Vaticano, no decurso da qual a polícia do Vaticano apreendeu documentos e computadores dos escritórios da Secretaria de Estado e suspendeu cinco funcionários da Santa Sé.

O Vaticano recusou-se a comentar o conteúdo da investigação, limitando-se a informar que foram investigadas transações financeiras passadas. O cardeal Becciu sempre negou qualquer irregularidade, defendendo a compra do imobiliário. “Foi feito um investimento num prédio. Foi uma boa e oportuna oportunidade, que muitos nos invejam hoje”, disse o cardeal em fevereiro deste ano.

Até 2018, o cardeal Becciu era o segundo mais alto funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano, reportando diretamente a Bento XVI e, mais tarde, ao Papa Francisco.

Em maio de 2018, o papa Francisco nomeou o arcebispo italiano Angelo Becciu para prefeito da Congregação da Causas dos Santos, sucedendo ao cardeal Angelo Amato, no cargo desde 2008.

Um dos direitos mais importantes dos cardeais consiste no direito ao voto na eleição de um novo Papa. Becciu manterá o título apesar da sua resignação, mas não poderá participar na votação do próximo Sumo Pontífice.

A exoneração de um cardeal dos seus direitos é uma decisão rara e excecional tomada pelo Papa. O último cardeal a abdicar do seu direito de voto num novo Papa foi o cardeal Keith O'Brien, que renunciou em 2013, envolvido num escândalo sexual.

c/agências
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