Incêndio em armazém em Díli mostra carências dos bombeiros timorenses

por Lusa

Os bombeiros timorenses necessitam de um reforço urgente de meios materiais para poder responder a incêndios, como o ocorrido no domingo, num armazém em Díli, disse hoje o secretário de Estado da Proteção Civil (SEPC).

"Os nossos recursos dos bombeiros não estão adequados para combater este tipo de incêndio. Não podemos responder com material como este, químicos, borrachas, plásticos e 20 e tal bidons de óleo", afirmou Joaquim Gusmão Martins, em declarações à Lusa.

O relatório da Proteção Civil, a que a Lusa teve acesso, mostrou as carências atuais, com autotanques de "pequenas dimensões" e "mangueiras em mau estado, com buracos e grandes fugas", bem como a "falta de equipamentos de proteção adequados a um incêndio destas dimensões", o que tornou o combate às chamas "particularmente difícil".

"Isso dificultou muito a nossa intervenção. O nosso corpo de bombeiros tem falta de equipamento de proteção pessoal. Em casos destes, temos de combater com espuma. Temos 200 litros de reserva que usámos, mas não é suficiente", explicou Martins.

"Tivemos apoio de empresas e da Aviação Civil que ajudaram com espuma. Também tivemos problemas de água e de tanques. É muito difícil combater fogos assim", acrescentou.

O responsável indicou ter sido feita uma proposta para o Governo incluir, no Orçamento para 2021, fundos para carros de combate, equipamento de proteção pessoal, mangueiras e outro material.

O incêndio causou um ferido ligeiro, civil, e ferimentos ligeiros a vários bombeiros, incluindo alguns picados por seringas que estavam armazenadas num armazém contíguo de material médico.

O ferido ligeiro, que foi retirado inanimado da zona contígua ao armazém, teve de ser transportado para o hospital nas traseiras de uma pequena camioneta de caixa aberta, por falta de ambulância de bombeiros.

A Proteção Civil indicou que os danos materiais são "da ordem dos 10 milhões de dólares", segundo dados preliminares.

O incêndio, que começou ao início da tarde de domingo, só foi controlado à noite, com um fumo espesso a ser visível ainda esta manhã no local, onde permanecem equipas de bombeiros e da Proteção Civil.

Na zona, onde o fogo foi dado hoje e quase 20 horas depois, estiveram Joaquim Martins e o secretário de Estado do Ambiente, Demétrio Carvalho.

Uma das preocupações é agora com as lamas de água misturadas com óleo que foram canalizadas para a vizinha ribeira de Comoro, onde equipamento pesado começou já o processo de contenção, descontaminação e limpeza, para evitar que sigam para o mar.

Martins sublinhou ainda a necessidade de um reforço da coordenação, algo previsto na nova lei da Proteção Civil, que foi vetada pelo Presidente timorense por elementos relativos a eventuais restrições a direitos no caso de declarações de "calamidade pública".

A lei, que está agora a ser revista no Parlamento, prevê que se "possa atuar de forma mais coordenada em matéria de proteção civil, com um centro de operações e socorro", explicou o secretário de Estado.

Martins sublinhou ainda a necessidade de regulamentar a questão do armazenamento destes materiais perigosos, especialmente em zonas urbanas, notando que as empresas necessitam de licenciamento ambiental, algo que não tinham neste caso.

"A lei da Proteção Civil permitirá regulamentar a necessidade de que todos os armazéns têm que cumprir critérios de segurança. Se não o fizerem serão encerrados", disse.

Com as causas ainda em investigação, o relatório preliminar adiantou que o incêndio começou num armazém onde estavam produtos altamente inflamáveis, incluindo pneus, tintas e diluentes, óleos, viaturas e diesel.

As chamas, que se alastraram depois para outro armazém vizinho onde estava equipamento e material médico, foram combatidas por elementos do Corpo de Bombeiros de Díli, apoiados por elementos da Proteção Civil e, durante a madrugada, por reforços do Corpo de Bombeiros de Aileu, a sul de Díli, que se deslocaram para a capital.

As equipas estiveram no terreno, até esta manhã, primeiro para o combate e posteriormente para rescaldo, vigilância e prevenção, processo que vai continuar hoje.

Essencial ao combate foi o apoio de várias empresas privadas, que cederam camiões, água e até espuma.

A petrolífera indonésia Pertamina e a empresa PAX forneceram meios humanos e quatro autotanques e um carro de combate a incêndios de grande débito de água, o que se tornou, segundo a Proteção Civil, "uma mais-valia decisiva na diminuição das proporções do incêndio".

Várias empresas privadas, nomeadamente a ETO, a Hidayat, a RMS e a Elemloi, "contribuíram decisivamente para o combate às chamas com várias cisternas de água que foram usadas pelos carros de combate ao incêndio".

O fornecimento de água foi ainda garantido pela empresa privada NNR e pelo Serviço de Águas e Saneamento (SAS).

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