Infeções resistentes a antibiótico continuam a ser ameaça para saúde pública

por Inês Moreira Santos - RTP
Ints Kalnins/Reuters

Bactérias e fundos resistentes a antibióticos são uma ameaça maior do que se pensava. Estes agentes patogénicos causam quase três milhões de infeções e matam mais de 35 mil pessoas por ano nos Estados Unidos da América.

Um relatório divulgado esta quarta-feira pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC na sigla em inglês) conclui que a resistência aos antibióticos é uma ameaça maior do que indicavam estudos anteriores. De acordo com o documento, nos EUA há registo de mais de 2,8 milhões de casos de infeções resistentes a antibióticos por ano e de 35 mil mortes associadas a estas infeções.

Em média, a cada 11 segundos uma pessoa é contaminada com uma infeção resistente a antibióticos e, a cada 15 minutos, morre uma pessoa devido a estas infeções.

O estudo desenvolvido pelo CDC apresenta os dados e as conclusões sobre os 18 principais agentes patogénicos - bactérias e fungos, resistentes a antibióticos que requerem mais atenção dos investigadores, classificando-os nas categorias “urgente, grave e preocupante”.

O relatório destaca ainda as estimativas de infeções e mortes desde a divulgação do relatório anterior (em 2013), as medidas tomadas e as falhas que podem retardar o progresso na prevenção e combate a estes agentes infecciosos.
Comunidade em risco
O CDC receia o aumento de infeções resistentes a antibióticos na comunidade, o que, para além de colocar mais pessoas em risco, dificultará a identificação destes agentes infecciosos e o controlo da sua propagação.

O surgimento e a disseminação de novas formas de resistência são uma preocupação constante para os investigadores, principalmente porque ameaçam os progressos na prevenção das infeções hospitalares.

As bactérias, os fungos e os germes que estão a desenvolver resistência aos antibióticos e a outros medicamentos são um dos maiores e mais graves desafios para a medicina moderna e, essencialmente, para a saúde pública.

O problema é que estes patógenos têm vindo a desenvolver novas formas de resistir e combater os efeitos dos medicamentos que visam a sua morte. Desta forma, as infeções tornam-se mais difíceis de combater e acabam por conseguir proliferar com mais facilidade, até para fora do ambiente hospitalar, pondo em risco a comunidade.

Os investigadores alertam para a disseminação e o desenvolvimento dos novos germes mais resistentes e para os perigos na saúde pública. “É necessária mais ação para lidar com a resistência aos antibióticos” e investir na prevenção, adverte o relatório.

Os hospitais e as entidades dedicadas à prevenção e controlo de infeções nos EUA têm conseguido identificar e reduzir o número de casos de infeções e mortes associadas. No entanto, o número de pessoas a serem infetadas continua elevado.

Há medidas básicas que, segundo o relatório, podem ajudar na prevenção e controlo destas infeções. Por exemplo, uma higiene de qualidade das mãos, a vacinação, a manipulação segura e higiénica dos alimentos e uma vida sexual segura.
Uso de antibióticos nem sempre é benéfico
Os agentes patogénicos que desenvolvem resistência aos antibióticos são o foco do relatório do CDC. Mas o estudo destaca ainda uma infeção perigosa que está associada ao uso de antibióticos: Clostridium difficile.

Esta bactéria afeta o trato gastrointestinal, por exemplo provocando diarreias “mortais”, como explica o relatório. O uso de antibióticos facilita o crescimento e desenvolvimento desta bactéria que destrói as bactérias benéficas do sistema digestivo do ser humano.

Devido a esta infeção por uso de antibióticos e a infeções resistentes a antibióticos, o relatório conclui que, nos EUA, há mais de três milhões de casos de infeção e cerca de 48 mil mortes associadas – um valor mais elevado do que o estimado no estudo anterior. No relatório de 2013, o CDC estimava que havia cerca de dois milhões de casos de infeções resistentes a antibióticos e 23 mil mortes devido a estas.

O relatório alerta para o facto de estes agentes infecciosos se disseminarem pelas pessoas, pelos animais e no meio ambiente, e não apenas em ambiente hospitalar.

Duas das maiores preocupações dos investigadores reveladas no relatório são o crescente número de infeções resistentes fora dos hospitais, incluindo a gonorreia altamente resistente a medicamentos, e a capacidade crescente de micróbios resistentes a medicamentos, de partilharem os seus perigosos genes de resistência com outros tipos de bactérias, tornando esses outros agentes difíceis de combater também.

As bactérias e outros agentes infecciosos estão em constante evolução e têm desenvolvido diversas formas de combater os antibióticos e outros medicamentos. Quanto maior o uso de antibióticos, mais resistentes se vão tornando os agentes patogénicos. Por isso, os investigadores consideram quase impossível identificar todo o tipo de infeções resistentes a antibióticos.
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