Irão e França reuniram-se à margem do G7 para discutir tensões entre Washington e Teerão

por Joana Raposo Santos - RTP
Javad Zarif esteve reunido cerca de três horas e meia com o homólogo francês Regis Duvignau - Reuters

O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, esteve este domingo reunido com o homólogo francês, Jean Yves Le Drian, e com o Presidente Emmanuel Macron, à margem da cimeira do G7, que decorre este fim de semana em Biarritz. Os ministros terão discutido medidas que possam travar a escalada de tensões entre Washington e Teerão e salvar o acordo nuclear já abandonado pelos Estados Unidos.

De acordo com França, “as discussões entre o Presidente e Zarif foram positivas e irão continuar”.

“A diplomacia ativa do Irão continua em busca de compromissos construtivos”, escreveu Javad Zarif no Twitter após a reunião. “A estrada que se segue é difícil. Mas vale a pena tentar percorrê-la”, acrescentou.


Javad Zarif esteve reunido cerca de três horas e meia com o homólogo francês e meia hora com o Presidente Emmanuel Macron.

Uma fonte oficial da presidência francesa tinha avançado, no início do encontro, que “Zarif foi até Paris na sexta-feira e trouxe propostas do Irão que, obviamente, devem ser aperfeiçoadas”.

“Ontem (sábado) houve uma discussão substancial entre os líderes do G7 e agora é importante atualizar Zarif de modo a podermos continuar a fechar as lacunas nas condições com as quais poderemos reduzir a escalada de tensões e criar espaço para negociações”, acrescentou.

O porta-voz do Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros adiantou durante a tarde que "não haveria reuniões ou negociações" com responsáveis dos Estados Unidos no G7 (França, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Itália, Canadá e Japão), o que se verificou ao final do dia, quando Zarif partiu no seu avião.

A Casa Branca afirmou mesmo que Donald Trump tinha ficado “surpreendido” com a chegada de Javad Zarif. De acordo com o Eliseu, o encontro entre ministros, no qual participou brevemente o Presidente francês, foi “organizado com muito pouca antecedência” e “os outros países (do G7) foram informados assim que possível”.
Exigências do Irão
Enquanto a reunião ainda decorria, fontes diplomáticas iranianas avançaram à agência Reuters que o Irão impôs como condição ao Ocidente exportar um mínimo de 700 mil barris de petróleo por dia de modo a continuar nas negociações para salvar o acordo nuclear de 2015.

“Como um gesto de boa vontade e um passo em direção às negociações, nós respondemos à proposta francesa. Queremos exportar 700 mil barris de petróleo por dia e ser pagos em dinheiro, e isso é apenas o início”, explicou uma das fontes oficiais. “Deveremos chegar aos 1,5 milhões de barris por dia”.

Nenhum dos funcionários do Governo iraniano explicou, porém, em que consiste a alegada proposta francesa sobre o salvamento do acordo nuclear, que terá sido apresentada na sexta-feira em Paris.

De acordo com outra das fontes, “o programa de mísseis balísticos do Irão não pode e não será negociado”. Um diplomata iraniano acrescentou ainda que o país descartou qualquer negociação sobre “o direito ao enriquecimento de urânio” mas que, em troca, Teerão voltará a estar totalmente dedicado ao pacto nuclear.
Escalada de tensões
O dossier nuclear iraniano continua a dividir os Estados Unidos e os dirigentes europeus, apesar dos esforços do Presidente francês, Emmanuel Macron, para conciliar as posições no G7 de Biarritz.

Macron queria desbloquear a crise desencadeada pela retirada unilateral dos Estados Unidos em maio de 2018 do acordo nuclear de 2015, assinado entre o Irão e as potências do chamado grupo 5+1 (Alemanha, França, Reino Unido, Rússia e China e EUA).

Depois da decisão norte-americana, associada à imposição de fortes sanções, o Irão deixou de cumprir algumas das obrigações impostas pelo acordo, que limitava o seu programa nuclear em troca do levantamento das sanções económicas, e pede aos europeus, que querem preservar o pacto, medidas para contornar as sanções norte-americanas.

Este domingo, depois de a França indicar que os líderes do G7 tinham concordado em encarregar o Presidente francês de conversar com o Irão para evitar uma escalada de violência na região, o Presidente norte-americano, Donald Trump, negou a informação.

Questionado sobre se assinou a mensagem, o Presidente dos Estados Unidos afirmou aos jornalistas: "Eu não discuti isso".

A tensão entre os Estados Unidos e o Irão tem vindo a subir desde a retirada unilateral de Washington do acordo nuclear iraniano e do restabelecimento de sanções a Teerão.

Nos últimos meses aumentou devido a ataques contra petroleiros no Golfo, pelos quais Washington responsabiliza Teerão, que desmente qualquer envolvimento.

c/ agências
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