Israel começa a vacinar trabalhadores palestinianos no país e na Cisjordânia

por RTP
Um trabalhador palestiniano é vacinado contra a Covid-19 na Cisjordânia dia 08de março de 2021 Reuters

Mais de dois meses depois de iniciar uma das mais bem sucedidas campanhas de vacinação do mundo, Israel começou esta segunda-feira a vacinar os palestinianos que trabalham no país e nos territórios da Cisjordânia.

A questão arrastava-se há várias semanas, com os palestinianos a defenderem que deveriam ser os israelitas, como potência ocupante, a inoculá-los contra o SARS-CoV-2 e Israel a contestar o dever de os vacinar
Até agora, a Autoridade Palestiniana recebeu pouco mais de 32 mil doses de vacina para uma população de 2.8 milhões na Cisjordânia. A Faixa de Gaza, governada pelo movimento Hamas, conta cerca de 2,4 milhões de pessoas.

Desde o início da vacinação, Israel administrou à sua população, de 9.3 milhões, mais de 8.7 milhões de doses da vacina da Pfizer, incluindo a palestinianos em Jerusalém Este. Mais de 3.7 milhões  de pessoas já receberam a segunda dose.

Cerca de 130 mil palestinianos da região trabalham em Israel ou nos colonatos israelitas, construídos em territórios capturados em 1967 na Cisjordânia e considerados ilegais à luz do direito internacional.

Cerca de 5.000 deles, que entraram em Israel em diversos postos de controlo na Cisjordânia, receberam esta segunda-feira a primeira dose da vacina de Moderna.

"Esperamos que outros na Cisjordânia, todos eles, consigam as vacinas", reagiu Qais Ghaith, depois de ser inoculado num posto militar em Belém, para logo acrescentar que, porque trabalha em Israel, "o Governo obrigou-nos a tomar a vacina".
O argumento de Israel
Durante a pandemia, os responsáveis pela Saúde em Israel afirmaram que a sua prioridade seria vacinar a própria população, enquanto a Autoridade Palestiniana disse que iria obter as suas próprias doses através do programa COVAX, da Organização Mundial de Saúde. 

Para diversas organizações de defesa de direitos humanos e palestinianas, Israel, enquanto poder ocupante, seria o responsável pela entrega de vacinas ou pela vacinação da população palestiniana.

Israel contestou desde o início esta obrigação e invocou os acordos de paz de Oslo nos anos de 1990, que criaram a Autoridade Palestiniana, dizendo que é esta quem tem de inocular a sua população. Domingo o Governo de Israel anunciou o alargamento formal do seu programa de vacinação a todos os 120.000 palestinianos com autorizações de trabalho.

Apesar do discurso oficial, muitos empregadores israelitas garantiram privadamente vacinas para milhares dos seus trabalhadores palestinianos, sobretudo no setor da construção, confirmou entretanto Shaher Saad, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Palestinianos.

E o major-general Kamil Abu Rukun, diretor da COGAT, a agência israelita que coordena as operações israelitas na Cisjordânia, emitiu um comunicado em defesa da vacinação.

Israelitas e palestinianos "vivem no mesmo espaço epidemiológico" pelo que era no melhor interesse de ambos vacinar os palestinianos, referiu.
Cisjordânia confina

Até agora poucas vacinas tinham sido dispensadas aos palestinianos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, apesar das críticas internacionais. Em conjunto, ambas albergam uma população de 5.2 milhões de pessoas.

As autoridades palestinianas receberam 2.000 vacinas de Israel e milhares de outras da vacina russa. Os Emirados Árabes Unidos doaram por seu lado cerca de 20.000 doses.Com uma reserva de cerca de 32 mil doses no final de fevereiro, os palestinianos lançaram a semana passada planos de vacinação limitados, começando pelos trabalhadores da área da Saúde, da Cisjordânia e de Gaza.

Desde o início da pandemia, mais de 140 mil palestinianos da Cisjordânia foram infetados, tendo morrido 1.579.

Sábado o governador de Ramallah declarou "uma semana de confinamento estrito", justificado por "uma subida de casos de infeção diários e hospitalizações".

Nablus entrou em confinamento na semana passada, com a área de Tulkarm, a norte da Cisjordânia, a fechar-se a partir de amanhã.
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