Israel sem governo. Netanyahu vê ameaçado o lugar de primeiro-ministro

por Inês Moreira Santos - RTP
Ronen Zvulun - EPA

O impasse político em Israel continua, depois de Benjamin Netanyahu ter informado a Presidência do país de que não tinha conseguido formar governo nem uma coligação até à meia-noite desta quarta-feira. Com o prazo expirado, cabe agora ao Presidente israelita mandatar outro eleito, Reuven Rivlin, para tentar salvar o país da crise política.

O prazo para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, formar um novo governo expirou e, tendo fracassado nessa missão, pode ter posto em causa o seu futuro político. O prazo concedido a Netanyahu após as eleições de 23 de março para reunir todas as forças da direita do país ou chegar a acordo com islamitas para formar um executivo terminou à meia-noite desta quarta-feira, mas o chefe do governo não conseguiu a maioria de 61 deputados dos 120 do Kneset (Parlamento israelita).

Se estivesse próximo de alcançar um acordo, Netanyahu podia ter solicitado uma prorrogação de duas semanas. Mas, segundo a Presidência e o seu próprio partido, o Likud, o primeiro-ministro não apresentou o pedido.

"Pouco antes da meia-noite, o primeiro-ministro Netanyahu informou a presidência de que não era capaz de formar um governo", informou o gabinete do Presidente Reuven Rivlin, através de um breve comunicado, citado pela France-Presse (AFP).

O Likud (de direita) foi o partido mais votado nas eleições legislativas de março, com 30 deputados, e o Presidente encarregou o primeiro-ministro cessante de formar o próximo Governo. Para o conseguir, Netanyahu devia reunir uma maioria de 61 deputados dos 120 do Knesset (parlamento).

Como o apoio dos seus aliados tradicionais, os ultraortodoxos, não era suficiente, o primeiro-ministro multiplicou os contactos nas últimas semanas para atingir aquele limiar. Mas em vão.

Depois deste fracasso na formação de um novo executivo, Rivlin tem três dias para decidir a quem concede o mandato para formar governo e tentar colocar um ponro final na crise política que o país vive há dois anos. O Presidente de Israel iniciou, esta quarta-feira, reuniões consultivas para designar a um novo líder político a missão de formar governo.

Segundo a BBC, Yair Lapid, líder do partido centrista Yesh Atid, e Naftali Bennett, chefe do partido de direita Yamina, reuniram com Rivlin esta manhã. Mantém-se contudo o risco de o país ter de realizar eleições gerais pela quinta vez em apenas dois anos.
Novo líder ou novas eleições?

Netanyahu pode ainda conseguir outra oportunidade para se manter no cargo, caso Reuven Rivlin decida estender o prazo das negociações por duas semanas. Se o impasse persistir, Rivlin pode dar à oposição o direito de tentar chegar a uma maioria parlamentar e, nesse caso, Netanyahu deverá deixar o lugar de primeiro-ministro.

Netanyahu teve 28 dias para formar uma coligação com maioria no parlamento, mas sem sucesso. O partido que lidera, o Likud considera que a "recusa de Bennett em se juntar a um governo de direita" é a principal causa para o falhanço na formação de um executivo de coligação.Se o Presidente israelita optar por designar algum líder da oposição para formar governo, os especilistas consideram que este será um dos maiores golpes na vida política do ainda primeiro-ministro, líder no poder há mais tempo em Israel.

O primeiro-ministro cortejou a formação da direita radical Yamina (sete deputados) e chegou mesmo a propor a Bennett, seu ex-ministro da Defesa e ardente defensor do desenvolvimento dos colonatos, que assumisse primeiro as funções de chefe de governo no âmbito de um eventual acordo de rotação no poder.

Mas Bennett recusou, lembrando ao primeiro-ministro que precisava de mais apoios.

Já o líder da oposição, cujo partido Yesh Atid ficou em segundo lugar com 17 deputados nas eleições legislativas, sente que poderia formar um "governo de união nacional" para afastar do poder Netanyahu, julgado por "corrupção" e "fraude".

"Chegou o momento para um novo governo. É uma oportunidade histórica para romper as barreiras que dividem a sociedade israelita, para unir os religiosos e os laicos, a esquerda, a direita e o centro", afirmou o centrista Lapid esta semana.

Há ainda a possibilidade de Lapid e Bennett tentarem juntos formar governo. Uma pesquisa do canal israelita 13, divulgada esta quarta-feira, revela que 43 por cento dos israelitas desejam um governo de coligação Lapid-Bennett. Mas, considerando o cenário político tão fragmentado, Lapid e Bennett teriam de se unir não apenas com a esquerda, o centro e a direita de Netanyahu, mas também com pelo menos um partido árabe, o que torna a coligação quase impossível.

Embora a decisão esteja nas mãos do Presidente israelita, que já recebeu Bennett e Yair Lapid, o Likud podia recomendar que o mandato fosse concedido a Bennett num último esforço para obter um governo de direita.

Mas, caso nem Netanyahu nem os opositores consigam uma maioria, Israel pode ter de realizar novas eleições, sendo esse o quinto processo eleitoral desde 2019. Aliás, segundo uma pesquisa divulgada pelo Instituto Democrático de Israel, 70 por cento dos israelitas não descartam um novo escrutínio.
Tópicos
pub