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Ivanka Trump usou email pessoal para assuntos de Estado

por Raquel Ramalho Lopes - RTP
Carlos Barria - Reuters

A filha e conselheira sénior de Donald Trump enviou cerca de uma centena de emails a partir da conta pessoal de correio eletrónico sobre assuntos relacionados com a Casa Branca. Quando confrontada com a situação, Ivanka Trump disse que não estava a par de detalhes legais relativos ao uso do email e que parou de o fazer quando foi notificada, isto apesar de a campanha do pai se ter apoiado sobre acusações idêntica à sua opositora, Hillary Clinton.

Ao longo do ano passado, Ivanka Trump enviou centenas de emails a partir de uma conta que partilha com o marido, também funcionário da administração Trump, Jared Kushner, avança o jornal The Washington Post.

Entre os emails, menos de uma centena versavam políticas governamentais e questões de Estado, muitas vezes em resposta a outros funcionários da administração que a contactaram através deste e-mail privado, confirmaram ao diário norte-americano fontes próximas da análise da correspondência na Casa Branca.

Muitos outros emails eram relacionados com a agenda oficial de Ivanka, contendo detalhes de viagens, e foram enviados pela conselheira do Presidente aos assistentes que, em casa, cuidavam dos seus filhos.

A conta com o domínio “ijkfamily.com” foi criada em dezembro de 2016 através de um sistema da Microsoft. A análise a potenciais vírus é feita pela Organização Trump e os emails são armazenados pela Microsoft.

A prática de Ivanka Trump foi descoberta no âmbito de uma investigação para resposta a um processo judicial relacionado com registos públicos.
Ivanka disse não ter sido informada sobre aspetos legais
Quando instada a comentar o envio de emails, Ivanka Trump afirmou que não estava familiarizada com alguns aspetos da lei, o que suscitou surpresa mesmo nos colaboradores mais próximos.

Os pedidos de comentário da imprensa à Casa Branca foram encaminhados para o advogado especialista em Ética Abbe Lowell.

O porta-voz do advogado confirma que a filha do Presidente usou a conta privada de correio eletrónico mas sublinhou que foi antes de ser informada das regras de segurança, garantindo que nenhuma das mensagens continha informações confidenciais.

“Durante a transição para a administração, depois que lhe ter sido criada uma conta oficial, mas até que a Casa Branca desse as mesmas instruções dadas a outros que começaram antes dela, (Ivanka) Trump às vezes usava a sua conta pessoal, quase sempre para logística e agendamentos relacionados com a família ”, declarou Peter Mirijanian em comunicado.

Mirijanian acrescentou que Ivanka Trump entregou todos os emails às autoridades, há meses, para armazenamento permanente, juntamente com outros registos da Casa Branca.
Prática idêntica à de Hillary Clinton
Além da possível violação da lei de registos, Ivanka Trump terá tido um comportamento idêntico ao que o pai criticou, durante a campanha presidencial, na sua opositora, Hillary Clinton.

Em 2016, Donald Trump dizia que a candidata democrata colocou a segurança do país “em perigo” e, por isso mesmo, não era merecedora de confiança, porque usou uma conta de e-mail pessoal enquanto secretária de Estado.

Um funcionário apagou um arquivo com milhares de emails de Hillary Clinton, quando decorria uma investigação no Congresso.

Hillary Clinton montou um servidor privado na cave da sua casa em Chappaqua, Nova Iorque, ainda antes de se tornar secretária de Estado.

O servidor era utilizado tanto para assuntos pessoais como profissionais, não tendo chegado a ativar, durante os quatro anos em funções, a conta de email com o domínio “state.gov”. Estas contas com a designação do Estado estão alojadas e são geridas pelas autoridades americanas.

Hillary Clinton alegou que a utilização do servidor em casa era mais conveniente e que, como a maior parte da sua correspondência eletrónica se destinava a contas oficiais, estes acabavam por ser arquivados.

A defesa de Ivanka tenta estabelecer as diferenças em relação a Hillary: “(Ivanka) não colocou um servidor privado na sua casa ou escritório, nenhuma informação confidencial foi incluída, a conta nunca foi transferida na Trump Organization e nenhum e-mail foi apagado”, referiu o porta-voz do advogado de Trump.

Clinton também disse inicialmente que os seus emails não continham dados classificados, mas o FBI veio posteriormente considerar que 110 mensagens continham informação considerada sensível.
Organisação não-governamental fala de hipocria
A organização American Oversight, cujos pedidos expuseram a prática de Ivanka Trump, não esperava encontrar esta utilização de emails na administração Trump. O presidente da orgnização considera também desconcertante a explicação dada pela filha e conselheira do Presidente dos Estados Unidos.

“Há a hipocrisia óbvia que o pai dela utilizou como pilar sentral da campanha sobre o uso indevido de emails pessoais", afirmou Austin Evers.

“Não há explicação razoável de que ela não soubesse. É claro que toda a gente que fizesse parte da administração Trump deveria estar em alerta máximo sobre o uso da conta pessoal de email”, acrescentou.


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